Tsunami, furacão, terremoto, chama-lhe do que quiseres

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Ponto de vista de SuYi Zhao

Eu passei a semana inteira tentando falar com Tatsuo e resolver o "problema" do contrato, mas ele estava me evitando. O ex namorado entra em cena na terça, para me dar pesadelos e destruir as poucas esperanças que eu tinha de Tatsuo querer ficar comigo.

Miguel tinha me contado que eles eram muito apaixonados e que ele ajudava os dois a se encontrarem escondido dos pais de Tatsuo, que nem sabiam que ele era gay.

Eu estava me roendo por dentro com cada palavra de Miguel e um desejo assassino crescia exponencialmente em mim. Na minha cabeça, eu já estava elaborando vários planos mirabolantes para não ser preso por homicídio.

Eu tinha, sentados em meus ombros, um anjo e um demônio. Enquanto o anjo me dizia que o certo a fazer era deixar Tatsuo livre par viver seu amor com Arthur, o demônio em mim me instigava a usar o contrato e deixar Tatsuo aos meus pés, amarrado até se apaixonar e não ver mais nada e nem ninguém. Eu estava até pensando em cobrar sexo nos dias de semana!!!! Como seria tomá-lo em minha sala, naquele sofá... eu dentro dele, tão quente e apertado...

Eu não dormia, comia mal e estava a ponto de enlouquecer quando vejo Tatsuo sair hoje, quinta-feira, para o mesmo restaurante. Desta vez ele estava sozinho. Sem pensar duas vezes, eu resolvi segui-lo.

Ele foi se encontrar com o tal Arthur!!!! Eu realmente tive que me conter para não entrar e tirá-lo de lá à força. Eu sei que o temperamento de Tatsuo não é de quebrar promessas ou acordos, mas eu já estava vendo tudo vermelho... E o modo como o tal Arthur o olha!!!! Como se...  ainda estivesse apaixonado.

Eu volto para a empresa, cabisbaixo. Chego à minha sala me sentindo derrotado. Sinto uma dor horrível no peito, e não consigo respirar. Não sei mais o que fazer. Então recorro a um último subterfúgio. Digito rapidamente uma mensagem e envio.

Ponto de vista de Tatsuo

O Arthur foi muito rápido em me telefonar. Na terça à noite ele já me chamou para almoçar hoje. Ele continua lindo como sempre foi. Meu coração balança um segundo. Não porque eu tenha dúvidas do que sinto por SuYi, mas porque tenho dúvidas sobre o que ele sente por mim. Apesar de saber que eu não tenho exclusividade sobre ele, que ele pode sair com quem quiser e que eu serei descartado depois de um ano. Não seria muito mais fácil me jogar nos braços do Arthur?

- Oi Tatsuo! - Vejo Arthur se aproximar com um enorme sorriso no rosto.

- Oi Arthur! - Sem aviso, ele me dá um abraço. Um abraço quente, apertado, daqueles que a gente costumava dar quando estava namorando. Não foi desagradável, mas não saíram faíscas como quando SuYi me toca.

- Vamos comer? - E no sentamos. Fazemos o pedido e enquanto esperamos conversamos sobre coisas banais.

- Então você é engenheiro elétrico? E trabalha na Zhao Technology? Que maravilha! Tenho certeza de que vai ter um futuro brilhante! Tem visto Miguel?

- Miguel também trabalha lá, no setor jurídico. Ele é advogado.

- O Miguel ajudava a gente, lembra? Para os seus pais não descobrirem. Saori também era nossa aliada. O que aconteceu com ela, se você não se importa em me contar.

- Ela e o marido sofreram um acidente de carro fatal. Eles estavam sozinhos. Tinham ido jantar. Eu fiquei em casa com Ayumi. Por isso ela sobreviveu.

- Sinto muito mesmo, Tatsuo. Quanta tristeza! E estava sendo sincero quando disse que quero ajudar no que você precisar. Desculpe a pergunta, mas você está solteiro? É que eu quero me reaproximar de você, quem sabe nós podemos retomar nosso relacionamento? Eu nunca te esqueci.

Essa não! Eu estava torcendo para que meus instintos estivessem errados, mas parece que não. Se eu estou solteiro? Bem, tecnicamente sim. Se meu coração estava disponível, era outra história. Arthur é um cara muito legal e eu não quero feri-lo. Mas não posso alimentar suas esperanças.

- Arthur, eu sinto muito. No momento eu não posso oferecer nada além de amizade. E eu estou muito apaixonado por outra pessoa... - Digo tentando conter a dor que me invade.

- Mas ele também está apaixonado por você? Vocês estão namorando? Porque se não estiverem, eu ainda tenho chance e não vou desistir facilmente. Eu não estou falando isso para te pressionar. Só quero que você saiba que eu precisei me mudar com meus pais, mas sempre pensei em você, e sempre sonhei em voltar para os seus braços. Você foi meu primeiro namorado, meu primeiro amor, meu primeiro tudo...Esse tipo de coisa a gente não esquece facilmente.

Nao esquece mesmo Arthur, mas quando o amor te nocauteia e te faz ficar de quarto por alguém, nada mais te salva. E era assim com SuYi. Desde o beijo no bar até começar a transar com ele só me fizeram ver o quanto somos compatíveis e o quanto eu anseio por torná-lo parte da minha vida, do meu dia a dia. Só não sei como fazer isso. E assim que eu penso nele, sinto meu telefone vibrar. O SMS dizia:

"Amanhã, depois do trabalho, vamos direto para minha casa. Leve roupa de piscina para Ayumi e para você. Estou tentando falar com você desde o início da semana, mas você anda me evitando. É importante! SuYi"

Ele percebeu!!!! Bom, eu não era exatamente sutil. Mas tampouco achei que ele daria atenção a isso. Ele tem muitas outras pessoas fazendo fila por ele. Não vai precisar de mim que, além de tudo, tenho uma criança pequena para cuidar. "Quanto ciúme!" Diz meu cérebro...

- Alguma coisa importante? Pergunta Arthur.

- Apenas mensagem de um amigo. Nada demais. - Amigo????!!! De onde eu tirei a palavra amigo? Meu chantagista favorito, meu chefe, meu amante, minha paixão, meu amor. Amigo eu acho que ele nunca seria...

Claro que eu estava fugindo dele! Eu estava me dando um tempo para não ter uma crise de ciúmes na frente dele. Eu preferia mil vezes o ciúme que eu sentia quando ele estava com Ayumi, do que aquela dor lancinante em meu coração. A mulher com quem ele estava no coquetel era maravilhosa. Eu jamais poderia competir com tal beleza. Nem em mil anos.

- "Tatsuo, eu quero tentar te reconquistar. Me dá uma chance?" Arthur pede, segurando minha mão.

- Arthur, não. Por favor, seria uma perda de tempo, e você acabaria saindo muito machucado. Eu me preocupo com você, mas não te amo da forma como amava há sete anos atrás. Me perdoe!

- Você não precisa pedir perdão Tatsuo. Talvez seja culpa do destino. Eu jamais teria terminado com você se não precisasse me mudar. Mas eu não podia pedir para você me esperar. Seria egoísta demais. Eu sinceramente desejo sorte a você e que o sujeito que tem seu coração saiba valorizá-lo e retribuir esse seu amor! Você é tão lindo! E eu nunca deixei de te amar!"

- Arthur, eu não sei o que dizer... Eu sinto muito mesmo... quanto a ser correspondido, apenas o tempo dirá.

Terminamos o almoço e saímos do restaurante. Ao nos despedirmos ele me pergunta:

- Está tudo bem se eu ligar de vez em quando? Para saber como você está? Apenas como amigo. - E me dá um abraço. Ai, Arthur, eu queria poder sentir por você o que sentia quando estávamos no colégio! SuYi não me ama, isso parece óbvio. Mas eu estou nas mãos dele. E não é pelo contrato. É porque eu entreguei meu coração a ele há muito tempo.

- Claro que sim! - Digo sincero. Nós tivemos um relacionamento muito bom, que só acabou porque ele saiu da cidade. Arthur era boa pessoa, e eu estava triste por não poder dar a ele o que ele queria, o que ele precisava.

Eu estava para entrar no prédio da empresa quando o vejo: SuYi. Lindo como sempre, parado na entrada principal, olhando diretamente para mim. E em seus olhos... tsunami, furacão, terremoto, chama-lhe do que quiseres...

Persuasão (Livro 2 da Série Akai ito)Onde histórias criam vida. Descubra agora