Dor e desespero

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Ponto de vista do Arthur

Sábado à noite e eu aqui sozinho... dava até uma belíssima letra de música. Mas essa é minha realidade. Quando eu encontrei o Tatsuo naquele restaurante, eu mal consegui acreditar na minha sorte.

Quando minha família se mudou para o interior e me obrigou a ir junto, eu chorei por meses seguidos. Eu amava Tatsuo demais. Ficar sem ele era impensável. Mas eu só tinha 17 anos e não tinha ninguém na cidade que pudesse ficar comigo.

Minha irmã mais velha, Júlia, estava fazendo faculdade na capital e já tinha um emprego garantido em uma empresa de grande porte lá. Enquanto isso, meu irmão do meio, Eduardo, também cursava uma universidade no norte do país. Eu era o único que ainda morava com meus pais e eles não queriam me perder de vista.

Eu ainda me lembro do primeiro dia em que o vi. Eu tinha 15 anos e tinha acabado de ser transferido para a escola nova. Eu não sabia onde ficava nada. Então me aproximei do primeiro aluno que encontrei, para pedir informações. Era ele.

Lindo, com aqueles cabelos escuros e olhos da mesma cor. Eu me apaixonei na hora. E como fiquei feliz com o fato de que estávamos na mesma turma! Eu poderia vê-lo todos os dias! Ficamos amigos de imediato e após dois meses, eu tomei coragem, depois das aulas, e me declarei. Foi felicidade completa ouvir dele que ele também gostava de mim.

E eu não consegui me conter e o beijei. Tatsuo tem uma boca deliciosa, dessas que você nunca se cansa de beijar. Era o primeiro amor para nós dois. E nós só tínhamos 15 anos. Mas nós precisávamos ter cuidado. Enquanto meus pais não me enchiam muito o saco, os dele eram extremamente rígidos e era quase impossível que nos encontrássemos fora da escola. Isso porque eles nem sabiam que namorávamos, porque se soubessem...

O único em quem eles confiavam era Miguel, que havia crescido com Tatsuo e frequentava a casa dele livremente. Saori sabia, porque era confidente de Tatsuo e estava sempre nos ajudando. Quando fizemos 17 anos, conversamos sobre transar. A gente queria muito e éramos muito compatíveis. Nossa primeira vez foi na casa do Miguel. Os pais dele tinham viajado e ele ofereceu a casa. Ele sabia o quanto estávamos apaixonados. Eu li tudo o que podia sobre o assunto. Corri para comprar preservativo e lubrificante. Eu estava ansioso, mas também morrendo de medo. Quando chegou a noite, estávamos os dois muito nervosos. Me lembro que ele não parava de morder seus lábios e apertar as mãos.

- "Você está com tanto medo quanto eu. Quer desistir?" Eu me lembro de ter perguntado. Mas Tatsuo, ao invés de desistir, me pegou pela mão, e me fez deitar na cama. Sentado em meu abdômen, ele começou a me beijar, primeiro tímido, depois com um fogo que eu jamais tinha visto. As preliminares foram memoráveis. Mãos, bocas e muitas palavras de amor. O ato sexual em si foi um pouco doloroso para ele no início, mas depois foi mágico. Nós conseguimos transar mais algumas vezes, graças ao Miguel, que emprestava a casa quando os pais viajavam. E toda vez era simplesmente maravilhoso!

Agora me diz, quem supera um amor assim, que se encaixa com você de todas as maneiras possíveis e imagináveis? Quem pode esquecer um primeiro amor tão doce e lindo em todos os sentidos?

Eu passei anos sonhando com o reencontro, sonhando em voltar aos braços dele. Sonhando em passar o resto da minha vida com ele. E pra quê? Para descobrir que ele está apaixonado por outro? O quão patético eu sou, hein? Me diz? Eu acredito no amor, acredito em almas gêmeas e achei que Tatsuo era a minha. Mas parece que eu sou alguém que não tem esse direito, que não terá essa felicidade. Eu passei estes sete anos sem olhar para ninguém, me guardando, esperando...

As lágrimas começam a rolar por meu rosto e eu nem tento impedi-las. Eu me sinto um lixo neste momento. Ninguém me quer, ao que parece. É, eu sou tímido. Pode até ter sido mais fácil me declarar para o Tatsuo, mas ele faz tudo parecer bom, parecer certo, parecer fácil.

Eu não posso ficar assim, a dor é insuportável!!!! Minha vontade é arrancar meu coração do peito e... morrer. De repente meu telefone toca, me assustando.

- "Alô?" Digo sem nenhum entusiasmo.

- "Arthur!!!! Maninho!!! Eu preciso falar com você urgente!!!"

- "Júlia?!!!! Júlia, você enlouqueceu? Sabe que horas são?"

- "Claro que sei! Mas acho que você precisa secar essas lágrimas!!!! Eu tenho uma novidade para você!!! Aliás, três!!!!"

- "Como você sabe que... Ah, não! Não me vem agora com essas suas coisas, não!!! Não quero ouvir!!!!"

- "Ah, mas vai, porque seu futuro depende disso! A primeira é uma mudança! A segunda tem a ver com seu trabalho e a terceira é que você vai..."

- "Júlia, me deixa, por favor! Hoje não é um bom dia..."

- "E nunca vai ser, se você não me ouvir!"

- "Tchau, Júlia..." E desligo, exausto. Eu bebo muito pouco, mas hoje me parece um bom dia para afogar minhas mágoas. Pego as chaves, o telefone e minha carteira e saio para a rua.

Entro no primeiro bar que eu encontro e peço a bebida mais forte. E quanto mais bebo, mais eu me deprimo. Lágrimas escorrem de meu rosto entre um trago e outro. O desespero cresce em mim como erva daninha. Quanto mais desesperado, mais eu bebo. Minhas mãos agem por conta própria e num instante eu estou discando um número. O número dele.

- "Alô, Tatsuo? Por que? Será que eu sou um pessoa tão insignificante que você não pôde pensar em mim sequer uma vez? Será que meus beijos, meus abraços e meu amor não valem nada? Eu passei sete anos sonhando em voltar para você! Pode me dar uma chance???!!! Só uma???!!! Eu vou ser tudo aquilo que você quer e mais!"

- "Arthur!!!! Você está bêbado? Me diz onde você está agora!!!!"

- "Estou num bar... cheio de gente... Como se chama? Não sei...mas não importa. Eu vou não vou ficar aqui por muito tempo mesmo..."

- "Arthur, por favor, não desliga!!! Alô????!!! Alô???!!!"

De repente eu sinto alguém segurar meu pulso com força e tirar o telefone da minha mão. E uma voz grave e poderosa diz:

- "Acho melhor você vir agora pegar seu amigo. Ele está para fazer uma besteira. Eu espero até você chegar. O endereço é..."

Está cada vez mais difícil escutar a conversa. Minha cabeça está girando vertiginosamente e eu mal consigo me manter em pé. Dois braços fortes me seguram e uma corrente elétrica percorre meu corpo, me deixando com formigamento na pele. O cheiro de mar invade minhas narinas antes de eu perder a consciência.

Persuasão (Livro 2 da Série Akai ito)Onde histórias criam vida. Descubra agora