SuYi Zhao

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Ponto de vista de Tatsuo

Sabe quando usam palavras-chave durante a hipnose para você entrar em transe ou acordar? Pois é, SuYi Zhao era o que me colocava em transe.

Ele e o Miguel eram amigos e sempre andaram juntos durante a faculdade, e eram a sensação do campus. As pessoas paravam para admirá-los! O quê dizer de dois homens altos, bonitos e sarados? Enquanto Miguel fazia jus a seu nome e parecia um anjo, com seus cabelos loiros e olhos verdes intensos, SuYi era... meu sonho mais quente e proibido. Ele era também meu segredo mais oculto.

Um rosto perfeito, emoldurado por cabelos castanho-escuros e olhos no mesmo tom. Um olhar dele fazia qualquer um tremer nas bases. E uma boca de lábios carnudos e extremamente sensuais. E o que dizer daquele corpo? Tudo muito proporcional em 1,87m e músculos de fazer salivar até o mais indiferente dos seres humanos. Enfim, uma obra prima. 

Eu nunca disse a ninguém que era apaixonado por SuYi. Não sei quando, e nem como aconteceu. Eu só me lembro que, na primeira vez que o vi, foi como se 100 caminhões de bombeiros estivessem passando com as sirenes ligadas. Mas é claro que ele nem me notou. Eu não sou feio, mas sempre fui muito tímido e nunca cheguei a impressionar ninguém, apesar dos meu 1,80 m de altura.

Enquanto isso, SuYi era sempre o centro das atenções.

SuYi é quatro anos mais velho que eu. Então, quando eu entrei para a faculdade, ele já era um veterano. Acabávamos nos encontrando por causa de Miguel, mas nada mais do que um "oi" rolava, até o dia em que Miguel insistiu que eu fosse com eles a um bar. Era uma sexta feira e não teríamos aula no dia seguinte, por isso concordei. Eram todos advogados e estavam bebendo e se divertindo. Eu não bebo, porque minha tolerância ao álcool é muito baixa.

Eu estava me sentindo tão deslocado ali que preferi me sentar bem no canto, para não precisar interagir com os demais. Quando me dou conta, SuYi tinha se sentado ao meu lado. Não preciso dizer que me senti mais estranho ainda. Mas ele nem parecia se importar com minha presença ali. Ele estava bebendo, tanto quanto os outros, e certamente ficaria bêbado. Se ele fosse como o Miguel, isso era uma certeza. Cansei de ter que levá-lo para casa e colocá-lo debaixo do chuveiro, além de fazer café forte.

SuYi tinha um cheiro de capim-limão fresco num dia de primavera. Totalmente viciante. Eu estava muito tenso. Nossos corpos estavam muito próximos, quase se tocando. E eu sentia arrepios percorrendo meu corpo. Meu cérebro me dizia para sair dali correndo e meu corpo, quase que inconscientemente ia se aproximando do dele mais e mais... até que me braço tocou o dele e um forte formigamento se espalhou por meu corpo. Céus!!! Se um pequeno toque faz isso, que dirá se eu beijá-lo e...

Eu estava delirando, só pode! De onde eu tirei a idéia de que ia beijá-lo? Acho que minha paixão me deixou instável emocionalmente. Que loucura! Não, eu precisava sair dali. Aquilo era pura tortura. E eu não sou masoquista. Então me levantei. Vou ao banheiro primeiro e depois tomo o rumo de casa, pensei. Miguel já estava bêbado, não iria realmente notar que eu fui embora. Consegui com esforço sair da mesa sem encostar nele novamente. Ele continua a conversar com os outros, e nem percebe minha ausência. Quando eu estava para entrar no banheiro, sinto alguém me segurar. Me viro rapidamente para dar de cara com SuYi.

- "Já vai embora?" Ele me pergunta me olhando intensamente. Naquela hora eu só poderia supor que ele estivesse sob o efeito da bebida.

- "Sssssim... eeeeeeuuuu..." Que merda! Eu estava gaguejando!!!!

- "Não quer ficar mais um pouco? Aliás, não quer sair daqui? Está muito cheio! Podemos ir para outro lugar..." E ele passa o polegar por meus lábios... o movimento me causa um arrepio sensual na espinha e deixa minhas pernas bambas.  

- "A sua boca é tão sensual...ela exige ser beijada..." E ele vai abaixando a cabeça até colar os lábios nos meus. E naquela hora eu fui possuído pelo desejo mais selvagem. Eu não conseguia raciocinar. Meus braços adquiriram vida própria e envolveram aquele pescoço, enquanto meus lábios se abriram para receber aquela língua que passeava pelos recônditos mais profundos de minha boca. Eu fui envolvido em seus braços e puxado para junto dele, apenas para sentir que ele estava ereto, muito ereto. E essa descoberta me fez queimar ainda mais. Sem perceber eu estou gemendo, grudado a ele como quem se agarra à própria vida, ansiando por mais.

Até que vozes altas se aproximaram, me tirando do transe temporário. Eu imediatamente me afastei dele e saí do bar. Andei sem rumo, com os pensamentos desorganizados e a boca ainda ardendo com os beijos dele. O que teria acontecido se estivéssemos a sós? Segurei minha cabeça entre as mãos. Como é que eu vou encará-lo agora? Mesmo bêbado ele com certeza se lembrará disso. Eu preciso evitá-lo a todo custo.

Como eu era ingênuo. Na segunda feira a primeira pessoa com quem eu esbarro na faculdade é ele. Mas ele apenas me cumprimenta e segue seu caminho como se nada tivesse acontecido. Eu devia estar respirando aliviado, mas lá estava eu, remoendo o fato de que ele não se lembrava daquele beijo infeliz!!!! E minha mente traiçoeira me dizia que eu devia me arrepender de não ter ido até o final com aquele pedaço de mau caminho, porque outra oportunidade como essa não surgiria nunca mais.

Quando ele se formou, meus sentimentos eram paradoxais: de um lado eu estava aliviado por não vê-lo mais, por outro, triste com a idéia. No penúltimo ano de faculdade, consegui um estágio na Zhao Technology. Eu estava nas nuvens! Sonho de qualquer engenheiro elétrico! Os primeiros dois meses passaram voando e eu adorava cada minuto daquele período de aprendizado. Até que... o chefe do setor jurídico veio ao nosso setor. Já dá para adivinhar né? SuYi! Meu colega, Bernardo, apenas me diz:

- "Que sorte que ele tem! É o filho do dono e em apenas um ano ele já é chefe do setor jurídico..."

Hein? Filho do... dono???!!! Bom, eu nunca fui de fofocas, então nunca procurei saber sobre a família dele. Ouvi dizer uma vez que ele vinha de família rica, mas isso... era um verdadeiro soco no estômago.

Se ele me viu aquele dia, não demonstrou. Em algumas outras ocasiões ele me encontrava e me cumprimentava, mas nunca demonstrou lembrar daquela noite. E eu fui baixando a guarda, me sentindo mais confiante, e escondendo minha paixão por ele bem fundo em meu coração. Afinal, eu precisava ganhar meu sustento, e o trabalho na Zhao Technology era desafiador, instigante e havia uma possibilidade de crescimento na carreira.

Assim sendo, eu o admirava em segredo e à noite eu tinha os sonhos mais loucos com ele. O cheiro e o gosto dele ainda me perseguiam depois desses anos. E a vontade de tê-lo em mim era de enlouquecer. Mas isso era tudo que eu me permitia fazer.

Eu trabalhava tanto para alcançar meus objetivos que nem me passava pela cabeça namorar. Eu tive um namorado quando estava no segundo grau. Com ele tive minha primeira experiência sexual. Mas ele se mudou e não mantivemos contato. Você vai me perguntar se meus pais sabiam que eu sou gay. A resposta é não, até porque eles dois eram muito tradicionais. Mas Saori sempre soube e sempre me apoiou. Mais um motivo para eu sentir tanta dor por ela ter partido.

E agora, eu sou pai da meninha mais linda. E ela precisa de mim. Ela é a única coisa que me restou de Saori e eu vou fazer o que for preciso para mantê-la segura e feliz. Namorar, fica apenas no sonho mesmo...

Persuasão (Livro 2 da Série Akai ito)Onde histórias criam vida. Descubra agora