Iguais, mas diferentes

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Narrado em terceira pessoa

Sílvia Ducatti sempre foi uma mulher guerreira. Quando ela se casou com seu grande amor, jamais imaginou que o destino a deixaria com três meninos pequenos e cheios de vida. Alessio e Afonso tinham cinco anos e Bernardo acabara de completar um ano. 

Alessio e Afonso sempre foram muito unidos e amavam seu irmãozinho de forma ilimitada e incondicional, mas isso não os impedia de provocá-lo sempre. Ainda mais quando descobriram que Bernardo tinha o pavio curto e ficava zangado facilmente. Mas não se enganem! Porque eles também eram extremamente protetores! Não que eles procurassem confusão! Mas se alguém provocasse Bernardo, eles iam defendê-lo na hora!

D. Sílvia era auxiliar de enfermagem e trabalhou muito duro para que os meninos tivessem todas as oportunidades para crescerem pessoal e profissionalmente. Assim que os dois  meninos mais velhos completaram 16 anos, eles começaram a trabalhar meio período para ajudar no orçamento da casa. E com Bernardo não foi diferente. Os três rapazes, por sempre serem muito esforçados, foram agraciados com bolsas de estudo na faculdade.  

Agora todos estavam formados, e tinham suas próprias vidas. Mas enquanto Bernardo se acertou com Miguel, os gêmeos ainda não tinham experimentado o amor. Eles sempre foram populares, claro! Eram bonitos, altos, simpáticos e esbanjavam sempre alegria. Mas ainda assim, eles nunca tiveram nada realmente sério com ninguém.  

Mas, talvez, apenas, talvez, isso estivesse para mudar.


Ponto de vista do Alessio

- Afonso, você acha que a gente pegou muito pesado com o Bernardo?

 - Que pergunta é essa, Alessio? A gente faz isso o tempo todo!

- Não sei, Afonso. A gente não está ficando meio velho para provocar o Bernardo não? E ele agora tem um namorado. Acho que o Miguel está se acostumando com a gente, mas deve ser meio chato ficar assisitindo a gente provocando o namorado dele o tempo todo. Você percebeu como eles estão apaixonados? O Bernardo só usa palavras depreciativas. Hoje ele até chamou o Miguel de amor. 

Eu e Afonso somos gêmeos idênticos mas ainda assim, somos muito diferentes. Eu me lembro de, na adolescência, notar que Afonso se sentia atraído tanto por meninos  quanto por meninas e  comecei a pensar que isso provavelmente significava que ele era bisexual. 

Então eu o  trouxe para o nosso quarto, um dia, e perguntei. A mãe também sempre foi muito aberta e amorosa e logo percebeu. Ela é um ser de luz e sabedoria, então para ela não faz diferença quem nós amássemos. O que realmente importava era o amor. E com o Bernardo foi a mesma coisa. 

Claro que eu e Afonso continuamos pegando no pé do Bernardo por causa de coisas pequenas, como por exemplo, ele ter escolhido engenharia elétrica ao invés de engenharia civil como nós. Aliás, Afonso vivia dizendo para o Bernardo que ele escolheu a profissão certa porque estava sempre ligado nos 220 volts. Não preciso dizer que Bernardo ficava possesso. 

Apesar de todas a brigas e zoeira, Bernardo sempre pôde vir falar conosco. Sobre qualquer coisa. Meus pensamentos são interrompidos pela voz do Afonso.

- Alessio, você me ouviu? Eu não estou entendendo você. Por que, de repente, você acha que pegamos pesado com o Bernardo? A gente sempre fez isso. Qual a diferença agora?

Se eu pensar com cuidado, não há nenhuma diferença, mas desde que encontramos Miguel no apartamento de Bernardo, eu venho sentindo falta de um relacionamento assim para mim. E acho que o Afonso, por menos que queira admitir, também sente. Nós não somos celibatários, não é isso, mas nunca nos sentimos romanticamente ligados a ninguém. 

Eu sei que você vai dizer que nós ainda somos jovens e temos tempo, mas quanto tempo mais, se é que encontraremos o amor?  

Alessio! Você está na lua? A gente saiu hoje para se divertir, mas depois que o Bernardo e o Miguel saíram daqui vocês está assim estranho...


Ponto de vista do Afonso

Alessio estava muito animado para sair hoje à noite e bastou encontrar o Bernardo e o Miguel para que ele ficasse assim, pensativo. Amanhã vamos almoçar com a mãe. Bernardo não vai, porque disse que a gente só faz vergonha para o Miguel. Bom, ele está protegendo o seu amor. 

Desde que nos conhecemos por gente, provocamos o Bernardo. É bem divertido vê-lo explodir. Mas nunca passou das palavras. Nós nunca nos socamos e sempre fomos, os três, muito unidos. Ver o Bernardo feliz, me faz feliz, mas ao mesmo tempo, me mostra que talvez haja algo faltando em minha vida. 

Eu tenho um emprego ótimo, uma família maravilhosa, amigos. E ainda assim, há um espaço vazio em meu peito, uma carência. Mas carência de quê? Parece que Alessio está lendo meus pensamentos quando fala:

- Afonso, você não sente falta de encontrar um amor? Afinal nós já estamos com 28 anos. Eu sei que essas coisas a gente não controla...

- Alessio, sinceramente, como nós passamos de conversas amenas e sem consequência para perguntas existenciais? Mas eu preciso ser honesto com você. Encontrar o Bernardo e o Miguel hoje me fizeram pensar mais no assunto. Eu não acho que quero passar o resto da minha vida só. 

Eu constantemente me perguntava por que eu era bisexual e o Alessio hétero. Até que um dia fui a uma palestra de um geneticista  que argumentava que os genes explicam a sexualidade. No caso de gêmeos idênticos, eles  podem acabar com placentas divididas, então cada indivíduo recebe uma quantidade variável de hormônios. Então os indivíduos com uma predisposição genética a uma determinada sexualidade em particular podem ser afetados de maneira diferente. Naquela noite, perguntei para a minha mãe se tivemos placentas separadas, e ela disse que sim. 

E antes que você me pergunte, não, não tenho vergonha de ser bisexual. Mas quando você tem um gêmeo idêntico, não fazer comparações é bastante difícil. Foi um longo caminho para encontrar minha própria identidade e poder ser eu mesmo. 

- Alessio, vamos embora. Temos mesmo que acordar cedo para ir para a casa da mãe amanhã. 


N/A

Algumas de vocês estão pedindo para os gêmeos terem sua história de amor. Parece que Alessio e Afonso caíram nas graças de vocês apesar dos inúmeros episódios de "vergonha alheia". Ainda não consegui iniciar a terceira novel. Está meio corrido, tanto em casa, quanto no trabalho. Mas prometo a vocês que vou me esforçar para que saia rápido. Enquanto isso, posso persuadir vocês a continuarem comigo?  

Persuasão (Livro 2 da Série Akai ito)Onde histórias criam vida. Descubra agora