Adeus

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Sexta-feira

Narrado em terceira pessoa

Entre o trabalho, os cuidados com Ayumi e Tomoyo, que parecia um pouco melhor, e as noites com SuYi, Tatsuo mal viu o tempo passar. Tatsuo ainda achava precipitada a atitude de SuYi de levá-los todos para morar com ele, mas no fundo, estava agradecido, sabendo que Tomoyo não ficava sozinha durante o dia e que, quando eles chegassem em casa, teriam tempo juntos. SuYi fazia questão de se sentar e conversar com Tomoyo, saber sobre ela. Eles estavam se aproximando um do outro. SuYi havia telefonado para Meilin e avisado que Tomoyo agora estava com eles. Meilin ficou aliás, bastante surpresa por Tomoyo ser parente de Tatsuo, até porque ela não imaginou que Tatsuo fosse o tal primo que Tomoyo mencionou durante a consulta.

Nos dias de trabalho ele, SuYi, Miguel e Bernardo almoçavam sempre juntos. Aliás, os quatro tornaram-se inseparáveis depois do dia no parque de diversões. No ambiente de trabalho eles eram sempre discretos e ninguém além do pai de SuYi, Miguel e Bernardo sabiam do namoro. Aliás, Bernardo e Miguel, por incrível que pareça, também eram bastante discretos na empresa. Quem os via ali pelos corredores, mal podia imaginar as tórridas cenas de paixão protagonizadas pelos dois.

Mas quando estavam na rua, podia-se ver demonstrações de carinho e de cuidado. Como no dia de hoje, por exemplo, quando Tatsuo e SuYi caminhavam de mãos dadas para o restaurante e Miguel e Bernardo estavam abraçados. O almoço hoje seria mais rápido, pois Miguel e SuYi tinham uma reunião importante logo no início da tarde. O que Tatsuo e SuYi jamais saberão, é que alguém os observava atentamenente, com os olhos marejados. Dizem que, quando a dor não cabe no peito, ela escorre pelos olhos...


Ponto de vista de Arthur

Eu voltei para cá apenas para encaixotar minhas coisas e fazer minha mudança. Depois de ser arrastado pela Júlia até a capital, minha vida deu uma guinada de 180 graus. Fui chamado para uma entrevista em uma das empresas de arquitetura mais conceituadas da capital a Sato arquitetos associados e eles me contrataram na hora!

Eu honestamente ando estranhando o que tem acontecido comigo. Tudo bem, eu fui entrevistado pelo próprio dono da empresa, o sr. Kenichi Sato, arquiteto conceituadíssimo e muito solicitado.

Ao que parece, eles estavam tão interessados no meu trabalho, que conseguiram rescindir meu contrato com meu empregador atual de imediato e eu vou começar a trabalhar lá já na segunda feira.

Eles me deram um apartamento, em uma área nobre da capital. O apartamento já está mobiliado e eu só vou precisar levar meus pertences pessoais. Na verdade eu não tinha mesmo muita coisa no pequeno apartamento que alugava e seria fácil me desfazer dos poucos móveis que eu havia comprado.

Eu tinha acabado de empacotar tudo o que eu ia levar, já que o caminhão de mudança ia buscar tudo à tarde. Resolvi então sair para almoçar. Meu vôo sai hoje a noite, então esta é minha última caminhada pela cidade. Estou envolto em pensamentos quando os vejo. Tatsuo e... ele. O cara a quem Tatsuo deu seu coração e seu amor. E a dor que eu achava que eu tinha dominado, volta com toda a força.

Você deve achar que eu sou egoísta. Não é isso. Eu não acredito que eu seja um ser mesquinho. Eu o quero feliz. Eu estou feliz por ele. Eu vejo nos olhos do homem que segura sua mão, que ele é amado com a mesma intensidade que ama. Tatsuo jamais me olhou como olha para ele.

Parabéns Arthur!! Sete anos de espera, de anseios, jogados pela janela. Eu estou destroçado, destruído. Meu coração está em pedaços e as lágrimas teimam em brotar em meus olhos. De que vale se guardar para alguém? Eu realmente preciso entender que eu, Arthur, estarei sempre sozinho. Bom, a partir de hoje, as coisas serão diferentes. Não vou mais me guardar para nada, nem ninguém. Vou sair com quem me quiser, transar com quem quiser. Que se danem os sentimentos! Eles só servem mesmo para atrapalhar.

Eu passei a semana inteira com a Júlia me atormentado. Eu amo minha irmã, mas eu não aguento mais escutar sobre mudança, trabalho, destino. Que porra é essa de destino? Meu destino é ser o rejeitado, aquele que não entende que o seu 'para sempre' acaba eventualmente. Que o amor não existe. Pera aí, o amor existe sim, basta olhar para Tatsuo e seu novo namorado.

Existe também para Akito e David. No dia do casamento deles eu mal conseguia me manter em pé de tanta dor. E sejamos honestos: ser arrastado para um casamento onde os noivos estão loucamente apaixonados um pelo outro é como apontar uma arma para a própria cabeça. Então, reformulando: o amor existe para todos, menos para mim.

Olho uma última vez para Tatsuo e seu par. "Adeus, Tatsuo, e obrigado por tudo. Mesmo que eu nunca mais experimente o amor novamente, as lembranças do que vivemos estarão sempre comigo. Quanto ao seu amor, espero que ele te mereça e te faça feliz." No instante seguinte, eu sigo meu caminho sem olhar para trás.


Uma semana depois...

Sexta-feira

Ponto de vista de Tatsuo

Mais uma semana se passou. Tomoyo estava muito fraca, mas parecia estável. Nós éramos como uma grande família sob o mesmo teto. SuYi se desdobrava consoco, para que nos sentíssemos bem. E ele adorava chegar em casa e cuidar de Ayumi. Os meninos, volta e meia, dormiam lá também e Tomoyo adorava estar com eles à noite, contando estórias ou mesmo assistindo filmes. As crianças gostavam muito da companhia de Tomoyo que, por causa de sua atual fragilidade, não podia fazer muito esforço. 

O último fim de semana foi passado em casa, com as crianças. Miguel e Bernardo vieram no sábado, trazendo Lucas e Sara. Piscina, brincadeiras, filme e pipoca fizeram parte do dia. Estamos nos preparando para mais um fim de semana. Meilin e Yu estarão de folga e levarão os três meninos para a praia.  

Vamos ter outro daqueles almoços relâmpago porque Miguel e SuYi têm uma reunião na empresa. Como sempre, nosso almoço foi animado. Assim que eles terminaram de comer, voltaram correndo ao trabalho. Eu e Bernardo voltamos logo em seguida, conversando sobre amenidades e planos futuros.

- Eu preciso dizer, Bernardo, eu nunca imaginei que você ficaria tão apaixonado assim.

- Para falar a verdade, eu também não. O pior de tudo é que todo mundo via como eu realmente me sentia, menos eu. O Miguel foi sempre tão perfeito assim?

Não pude deixar de rir daquela pergunta.

- Sim, Bernardo. O Miguel sempre foi o que ele é hoje.

Ele apenas balança a cabeça em concordância.

- O que está passando por sua cabeça agora, Bernardo?

- Na verdade eu... sinto a falta dele. Mais do que gostaria de admitir. Nós estamos juntos há pouco tempo apesar de nos conhecermos há cinco anos. Eu me pergunto se está muito cedo para pedir para ele passar mais tempo comigo... Ei! Eu não vou pedi-lo em casamento... ainda. Só pensei se ele não gostaria de morar comigo... ver se ele gosta, se não fica muito aborrecido com meu jeito bagunçado de ser...Deixa pra lá Tatsuo...

- Bernardo, você ama demais o Miguel e eu fico feliz por você. Mas não é melhor ir mais devagar? Vocês são bem diferentes...

- Você tem razão Tatsuo. Eu não estou sendo racional.

A tarde passou depressa e sem maiores imprevistos, até que meu telefone começa a tocar de repente. Vejo o número de SuYi e atendo imediatamente.

- Alô? SuYi?

- Tatsuo, Dongmei acabou de me ligar. Tomoyo teve um colapso e foi levada ao hospital às pressas. Eu liguei para Meilin. Você deve ir para lá. Eu pego Ayumi e os meninos e os levo para casa. Depois vou ao seu encontro.

Meu coração quase sai pela boca. Eu só consigo dizer um ok, pegar minhas coisas e sair voando para o hospital. Em minha cabeça, apenas um pensamento: Chega de adeus!!! chega de adeus!!!

Persuasão (Livro 2 da Série Akai ito)Onde histórias criam vida. Descubra agora