Quarenta e um | Fugir

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MAXON

— Como está?

Olho para o rosto da minha madrasta ao meu lado.

— Nunca estive melhor — respondo sarcástico.

Karen se senta na poltrona ao meu lado.

— Muay Thai, né? Certo... — ela sacode a cabeça para os lados e cruza os braços — Eu já sei sobre as suas dívidas.

Fico calado, e ela continua:

— Você passou de todos os limites que eu imaginei que eram possíveis.

— Vai me colocar de castigo? — a olho de soslaio.

— Não, mas eu vou dizer que tudo isso poderia ter sido evitado. Você deveria ter me contado que estava com problemas, eu poderia ter te ajudado antes que chegasse a esse nível — ela aponta para o meu corpo — Todas as nossas escolhas tem consequências, Maxon, e você não sabe lidar com elas.

— Para de me tratar como se eu fosse a criança de nove anos que você conheceu — digo —. Eu sei muito bem as coisas que eu fiz, e não estou pedindo a sua ajuda.

Suas sobrancelhas se juntam uma na outra em um semblante preocupado.

— Eu sei que você não é mais aquele garotinho assustado e arisco que era antes — ela diz — Lembra? Você tinha medo até de entrar na piscina para crianças. Tinha medo de tudo.

Meu cérebro viaja para anos atrás, para a lembrança do garoto que eu era.

— Um dia — continua — você estava sentado na espreguiçadeira encarando a piscina com os ombros caidinhos, eu cheguei do seu lado e te ofereci um colete salva-vidas para que você pudesse entrar, mesmo que a água batesse só até os seus joelhos. Você ficou com medo no começo, mas depois pegou o colete da minha mão, sem dizer nada, e o vestiu, porque eu disse à você que o medo que você sentia era como se fosse um mecanismo de defesa do seu corpo, uma caixinha que te prendia e ia ficando cada vez mais pequena, até não dar espaço para você mover um músculo, e você tinha pavor de ambientes fechados — ela solta uma risada nasal com a memória — Então você cresceu, virou um rapaz corajoso, resistente igual uma pedra... e agora você não tem medo de nada... E é isso que me preocupa.

— O medo nos torna covardes.

— Não. O medo, na medida certa, nos mantém vivos. Se você tivesse um pouquinho de medo do que poderia acontecer com você, teria me procurado. Porque você sabe que eu vou estar sempre aqui para estar do seu lado. Mesmo você não me considerando como uma mãe, eu te enxergo como um filho desde que coloquei os olhos em você.

— Eu só tive uma mãe — digo a olhando nos olhos para que ela entenda de uma vez por todas —, e ela morreu em 2011 por conta de um AVC.

— E você não tem medo do que ela pensaria se te visse agora?

Por um segundo perco o raciocínio e fico estático olhando para um ponto não-específico.

Ouço Karen suspirar.

— Eu só quero te ajudar, mas se você deixar vai ser mais fácil. Então, você vai me contar o nome dessas pessoas que está devendo, ou eu vou precisar descobrir sozinha?

***

— Trouxe o que eu te pedi? — pergunto assim que vejo Margo entrar pela porta do quarto na manhã seguinte.

Ela está com o uniforme da escola. A saia azul, a camisa branca e o blazer nunca ficaram tão bem no corpo de uma garota antes como ficam no dela, eu não me canso de reparar isso.

Um Bad Boy em minha vida Onde histórias criam vida. Descubra agora