Vinte e dois | Debts

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Quando meu pai me ligou hoje de manhã, eu não recusei a chamada. Já que eu não falei com ele desde que vim para Toronto, eu precisava ouvir a voz dele, antes que a nossa relação ficasse mais estranha do que já estava.

— Oi, filha.

— Oi, Pai.

De início, ele me perguntou como estão as coisas aqui, e eu respondi o básico. Depois me perguntou como eu estava, e respondi da forma mais honesta que consegui. O assunto não se estendeu muito até que ele falasse o que realmente queria.

— Margo, me desculpa. Eu sei que não fui um bom pai nos últimos meses em que você esteve aqui, e agora que você foi embora a culpa disso pesou em mim — Ele disse do outro lado da linha, sua voz travando — Eu estava pensando... Eu consegui um novo emprego, dessa vez até melhor do que o antigo. Consegui comprar um Xbox e a geladeira vive sempre cheia — ele deu uma risada nasal — Mas... sem você aqui, a casa tem ficado tão vazia, tão maior. E... não faz sentindo. Você está gostando de morar aí?... por que se você não estiver, eu gostaria muito que você voltasse para Seattle.

Fiquei muda por uns bons segundos, e meu pai chamou meu nome de novo para ter certeza de que eu ainda estava na linha.

— Ham... — fiz um barulho com a garganta — Eu... preciso pensar, pai. Preciso conversar com a minha mãe.

— Tudo bem. Eu só queria que você soubesse disso, mesmo. Não precisa decidir agora. Mas me ligue caso você queira, ou para qualquer outra coisa.

— Tudo bem. Tenho que ir agora, pai. Até mais.

— Ok. Até mais, filha. Te amo.

Cliquei no botão de encerrar a chamada e deixei as minhas costas caírem no colchão enquanto segurei o celular na minha mão.

Durante as próximas duas horas seguintes, pensar sobre o que meu pai me disse foi só o que a minha cabeça conseguia se preocupar, e mesmo assim ela não me deu nenhuma ideia do que responder para ele, ou para mim mesma.

Eu ainda quero voltar?

Faço essa pergunta para mim a todo instante enquanto dobro toalhas em cima do balcão da dispensa.

Eu me senti praticamente rejeitada quando tive que sair da casa do meu pai, em Seattle, e vir morar com minha mãe em Toronto. E agora meu pai quer que eu volte, como se eu fosse uma mercadoria que ele só pega quando lhe convém.

Talvez, se meu pai tivesse me feito essa proposta a uma semana atrás, eu diria sim à ele antes mesmo dele terminar de falar. Mas logo agora que a minha vida está começando a se estabilizar novamente?

Ouço batidas na madeira.

Me viro e encontro a razão da minha insônia escorada na porta aberta.

— Te assustei?

— Não.

— Ótimo. Porque mais um corte no meu rosto é a última coisa que eu preciso agora.

Dou uma risada nasal.

— Então deveria arrumar um jeito de ficar fora de problemas.

— Estou trabalhando nisso — Ele enfia suas mãos nos bolsos — Vai fazer alguma coisa hoje?

— Além de terminar de dobrar essas toalhas e aqueles forros, não. Por que?

— Estava querendo sair com você.

Meu coração dá uma leve disparada.

— Sair? Para onde?

— Sei lá — dá de ombros e se escora com os braços cruzados na porta — dar uma volta.

Um Bad Boy em minha vida Onde histórias criam vida. Descubra agora