Capítulo 19 - Os Gabs

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Três meses depois:

Augustine

Esses jantares com a minha família são como uma passagem só de ida para o inferno.

Eu uso a minha melhor roupa, mas ainda não é suficiente.

Hoje, em especial, um final de tarde digno de oscar, com o sol se pondo na paisagem ao longe de um sábado frio, visto um belo vestido amarelo que minha mãe me deu alguns dias depois da viagem para o hotel. Ele tem um recorte bonito, é comportado e a bainha é composta por uma renda delicada seguida de um exagerado babado. A cara dela.

Para completar, meia calça, botas marrons de cano curto baixas e meu cabelo como sempre; solto, com a franja presa por um passador atrás.

Do jeito que eles gostam, mas não bom o suficiente. É o que eles sempre dizem.
Respiro fundo e toco a campainha, mantendo um sorriso forçado daqueles que sobe pros olhos e mostram minhas covinhas.

A maçaneta de cobre se vira e forço uma postura ereta.

- Meu amor, como vai? - minha mãe abre a porta e me puxa para um abraço.

Anotação mental: ela não sabe nada sobre nenhum dos escândalos da SDHS. E nem pode, caso contrário, ela me tiraria da escola antes que eu podesse piscar.

Mas meu pai sabe, e por esse mesmo medo não deixa mais ela assistir ao noticiário local.

- Oi mãe, vou bem e vocês? - pergunto, enquanto ela me agarra pela mão e me puxa para dentro, fechando a porta atrás de nós.

- Bem. - ela fala. - Muito bem.

Quando entramos na cozinha, a primeira coisa que eu vejo é a minha família, sentada em volta da mesa enquanto minha mãe corre para o fogão.

Me aproximo timidamente, apertando minhas unhas contra a palma das minhas mãos. Eu costumo fazer isso quando fico muito nervosa.

Da última vez que jantei com eles, todos juntos aqui, eles discutiam sobre se eu devia ou não frequentar a Sweet Dreamers, como se eu nem estivesse lá.

Sinto um frio na barriga só de pensar nisso.

Meu avô está sentado na ponta da mesa, como de costume, á direita fica meu pai, dedilhando suas cartas de pôquer.

Olho em volta enquanto puxo uma cadeira em frente ao meu pai, procurando com os olhos pelo Bernard.

- Ah, olá docinho! - meu vô cochicha e eu sorrio em resposta. - Como anda a vida?

Ele sempre foi minha pessoa favorita.

- Acho que bem, na medida do possível. - falo, discretamente.

Se alguém me ouvir dizer que as coisas não estão incríveis, me prendem no porão até eu afirmar que estão sim.

Me sento e largo minha bolsa na cadeira ao meu lado, ele me estudando.

Meu pai joga uma carta, e meu avô bufa e se joga na cadeira.

- Malandrinho. Seu pai é um malandrinho. - ele diz, encarando o teto e o outro ri.

- Você é muito pior George. Mas eu avisei que minhas cartas nessa rodada eram muito boas. - meu pai rebate, e me cumprimenta como o esperado.

É sempre a mesma coisa.

É cansativo porque é como um filme que você já assistiu milhares de vezes e sabe como acaba de cor.

Se estivesse no jogo de pôquer com eles, apostaria nos próximos acontecimentos.

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