O jeito que você olha pra mim

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O abraço de Joui era aconchegante, mesmo alguém tão recluso e distanciado como Kaiser reconhecia isso. Os braços fortes pareciam afastar todos os males do mundo ao cercarem seu corpo, quase como se criassem uma barreira ao redor dos dois onde nada poderia alcançá-los. O alívio que sentia naquele momento fez com que quisesse voltar para aquela barreira, não pelo medo de algo poder tirar de si essa sensação, mas por querer estender aquele momento o quanto podia, temendo acordar de um sonho e tudo não passar de uma brincadeira da imaginação, mas o calor que aquele abraço emitia era verdadeiro demais para ser apenas imaginário.

Se afastou devagar do aperto, vendo Joui o observando com um sorriso no rosto e um olhar carinhoso, fazendo-o lembrar que para ele, os dois eram namorados. Ele sentia por si o que sentia pelo Cesar que conhecia? Haviam muitas diferenças entre eles?

Seu outro eu sabia o que estava acontecendo?

Fato era de que ele aparentava viver uma vida mais tranquila, não possuía as cicatrizes de queimaduras pelo corpo e continuava referindo a si mesmo como Cesar, então talvez não tivesse todos os traumas e receios que o Kaiser tem, mas ainda assim parecia não fazer sentido Joui estar apaixonado por ele naquele outro universo. O que teria o levado a isso?

Cedo demais para perguntar e de qualquer forma provavelmente pessoal também, deveria esquecer esse assunto e apenas aceitar que aquele relacionamento existia em algum lugar, mas não consigo. Aquele Joui era apaixonado por um Cesar que Kaiser nunca mais conseguiria voltar a ser.

— Por que você me olha assim? — A pergunta escapou-lhe os lábios antes que se desse conta, o constrangimento vindo de imediato ao perceber o que havia dito.

— Você me perguntava isso todos os dias no começo, eu nunca respondia — Joui respondeu sem tirar o olhar contemplativo da face, o sorriso aumentando um pouquinho mais como quem relembra uma memória com carinho. — Por que "Kaiser"?

— Acho que você já sabe que as coisas não aconteceram tão bem por aqui quanto aconteceu de onde você veio. — Levou a mão até o bolso da calça para puxar a caixinha de cigarros que guardava, mas desistiu no último segundo. O ato havia sido automático, não sentia a necessidade de fumar. — Aquele foi só o começo da missão.

Olhou para a janela do quarto, a chuva caía forte ainda lá fora. Levantou-se da cama e fechou as cortinas, voltando a sentar-se ao lado do japonês que aguardava em silêncio e com uma inspiração profunda, preparou-se para continuar a história da missão de Carpazinha.

— Depois das aranhas, a gente voltou pro bar com o Arthur e conseguiu algumas informações com o Brúlio — continuou a narração de onde havia parado inicialmente sem transmitir qualquer emoção através das palavras, mantendo-se o mais neutro possível em relação aos acontecimentos.

— A mansão dos Assombrados. — Kaiser assentiu, confirmando a resposta dada pelo outro.

— Um dos Gaudérios tava sendo mantido como prisioneiro lá por eles e a gente levou ele até o carro pra poder continuar investigando a mansão. — Sua mão quase puxou a caixinha para fora do bolso novamente, mas controlou-se. — Alguns dos Assombrados apareceram e a gente lutou contra eles, você se machucou muito contra um zumbi de sangue.

— Isso é verdade. — Joui ouvia tudo atentamente, acenando vez ou outra para confirmar os detalhes da história. Até então tudo parecia coincidir. — Mais dos Assombrados chegaram enquanto vocês cuidavam de mim, eles tinham achado o senhor Gregório. A gente entregou as armas pra ele não atirar e tentamos negociar.

Kaiser franziu o cenho, não havia acontecido uma negociação.

— Não foi assim que aconteceu aqui, a Elizabeth reagiu e o líder dos Assombrados atirou no Gregório. — O sangue espirrando do corpo dele fez um calafrio percorrer por seu corpo, era uma memória perturbadora. A primeira perda de Arthur naquela missão da qual ele e sua família sequer deveriam ter feito parte.

Meu amor me guia até vocêOnde histórias criam vida. Descubra agora