Meu amor me guia até você

Pequenos passos

Quando Kaiser era criança, ainda inocente às maldades do mundo e cheio de sonhos, tinha um objetivo em mente: conhecer todas as flores que existiam. Esse desejo surgiu por causa do amor da mãe por elas, que eventualmente conquistou o pequeno Cesar Oliveira também. E todo dia, sempre que podia, saía de casa para passear, às vezes na companhia da mãe, algumas com Bruno, mas quando nenhum dos dois podia lhe acompanhar, ia sozinho. Parava sempre que encontrava uma flor, abaixava-se para observá-la de perto e sentir seu cheiro, até a cumprimentaria se o dia fosse bonito e estivesse de bom humor. Todo dia, pelo mesmo caminho, apreciando as mesmas flores, mas dando alguns pequenos passos a mais além da jornada usual. Nunca longe o suficiente para não ouvir o chamado da mãe para o almoço, mas a cada dia um pouco mais perto de dar a volta ao mundo...

... e assim conhecer todas as flores que existiam.

O pequeno Cesar nunca conseguiu conquistar seu objetivo, embora tentasse todos os dias, durante toda a infância, e então pela adolescência, até se tornar adulto. Até Cesar Oliveira Cohen, a criança sonhadora e inocente, se tornar apenas Kaiser, o homem que sentia falta de ter sonhos e que não queria conhecer as maldades que o mundo escondia dele. As maldades que machucariam ele.

Não sabia em que momento tinha parado de dar pequenos passos a frente e procurar por suas flores.

Kaiser acordou com essa sensação pela manhã, um vazio dentro do peito de um plano inacabado, o sonho de uma criança que não se tornou realidade; algo que um dia foi motivo de um sorriso e pensamentos fantasiosos, mas que agora fazia Kaiser querer chorar.

A sensação horrível e angustiante de que agora era tarde, e aquele sonho seria apenas uma memória de uma tentativa de tornar real algo que nunca conseguiu.

Kaiser ouviu o som de um choro, mas que não era seu. Sentia vontade de chorar mas não fazia isso ainda.

Abriu os olhos rapidamente, estava deitado em sua cama, pequenos raios de sol passavam pelas cortinas fechadas de seu quarto, anunciando a manhã. Ao seu lado, um homem estava sentado na beira da cama, com os cotovelos apoiados nos joelhos e as mãos no rosto, tentando secar lágrimas que caíam em grandes quantidades e abafar soluços constantes. Joui chorava de um jeito que Kaiser nunca tinha visto antes.

— Joui? O que aconteceu? — perguntou alerta, movendo-se para o lado dele. O japonês não respondeu, nem se moveu, perdido no próprio lamento.

Extremamente preocupado, Kaiser desceu da cama, ajoelhando-se no chão em frente a Joui. Segurou com cuidado ambas as mãos dele, mas não moveu-as, apenas as manteve ali, pedindo silenciosamente para que o outro as abaixasse. Joui tirou as mãos do rosto, virando-as para segurar de volta as mãos de Kaiser e apertá-las, olhando para seu rosto com a expressão completamente... derrotada. Os olhos vermelhos de tanto chorar, a pele molhada pelas lágrimas que ainda caíam e pequenos ferimentos nos lábios, sinais de que ele os mordeu para abafar os sons.

Kaiser sentiu um aperto dentro de si ao vê-lo desse jeito.

Se aproximou mais um pouco dele sem soltar as mãos, ficando o mais próximo que podia no meio das pernas do outro.

— Não tenta parar o choro — disse baixinho para ele, lentamente —, é pior segurar. Deixa sair. Eu vou estar aqui com você.

Joui soltou suas mãos e imediatamente envolveu o corpo de Kaiser, trazendo-o para seu peito e segurando-o ali enquanto se permitia chorar. O programador apenas se acomodou, sentindo as batidas rápidas do coração dele dentro do peito e algumas lágrimas caindo em seu cabelo, já que o outro estava com a cabeça apoiada em cima da sua, mas não tinha problema. Ficaria ali por quanto tempo ele precisasse.

Fechou os olhos, deixando os braços ao redor dele também da forma que podia enquanto aguardava pelo momento certo de falar. Não tentava teorizar o que havia acontecido, apenas esperaria por Joui lhe contar, se ele quisesse. Até lá, simplesmente ficaria em silêncio, cuidando do homem que naquele momento precisava ser cuidado.