Tudo ficou escuro.
Não sabia o que havia acontecido, mas de repente não tinha nada ao seu redor. Tudo era uma escuridão completa e nada além dela parecia existir. Apesar do breu completo, Kaiser conseguia ver a si mesmo claramente. Tinha a impressão de que estava sonhando, mas não tinha certeza, parecia ser real demais pra ser só mais um fruto de sua imaginação.
Sem saber o que fazer, caminhou um pouco em qualquer direção, ouvindo seus passos ecoando alto no ambiente — se é que poderia ser chamado assim aquele vazio. Nenhum som além de seu caminhar era ouvido, parecia estar sozinho ali.
Suspirou, cruzando os braços. Estava frio naquele lugar. O ar que lhe escapou os lábios saiu como uma fumaça devido a temperatura baixa, mas de forma estranha. Ela não desapareceu no ar, mas foi se tornando maior e mais densa, como uma névoa. Logo, todo o vazio estava preenchido por ela.
Kaiser se sentou no chão, apesar de sequer parecer que existia realmente uma superfície ali, e ficou esperando. Queria acordar daquele sonho logo. O frio, a névoa densa e o vazio eram tão reais quanto qualquer outra coisa de sua vida e isso o incomodava muito, ainda mais por estar consciente de que estava apenas sonhando.
Ao menos, isso lhe dava algum tempo para pensar direito em tudo, desde o começo.
Tudo começou logo após Joui voltar do Japão, ele tinha ido até lá para se despedir uma última vez do lugar onde nasceu e viveu durante boa parte de sua vida. A princípio parecia tudo bem, Joui parecia mais leve e alegre ao retornar, mas poucas horas depois a primeira mudança aconteceu. Ele acordou e a primeira coisa que fez foi chamar por seu nome, Cesar. Não reconhecia suas cicatrizes, disse que Kaiser não estava assim "há um minuto", então aparentemente a mudança era instantânea. Ele não sabia que tinha ido até o Japão, não tinha as memórias que o seu Joui tinha, apenas as que ele mesmo possuía. Experiências de vida idênticas até certo ponto, mas que pequenas diferenças foram, aos poucos, criando outras possibilidades, até os caminhos seguirem rumos distintos. Aquele segundo Joui tinha o final feliz que Kaiser não teve em sua primeira missão.
E tinha um terceiro Joui, igualmente com semelhanças e diferenças, mas diferentes do segundo. Ele apareceu somente uma vez e até então não retornou. O segundo Joui era o que mais aparecia, e segundo ele, vinha e saía quando quisesse, mas nem sempre controlava isso.
O que tudo isso queria dizer, afinal? Era o universo jogando em sua cara que Kaiser não conseguiu salvar aqueles que amava? Que poderia ter tido um final feliz também, mas não o teve por ser fraco?
Era tudo apenas uma ironia do destino?
"É realmente uma divina comédia..." a voz de Dante ecoou no espaço vazio, como uma memória vagando pelo ar. Kaiser lembrava de ouvi-lo dizer isso.
— Parece que sim — concordou em voz alta. A névoa ao seu redor ficou levemente mais densa ao falar. As palavras ecoaram, sentia-se completamente só ali.
"Vocês sabem que a gente vai ser sempre um trio, né?" Joui disse, da mesma forma que o outro. O dia em um dos prédios da Imobiliária Fachada cruzou por sua mente, quando o japonês afirmou isso para Arthur e Kaiser.
Kaiser sorriu minimamente, se sentindo um pouco menos sozinho.
Sentiu uma lágrima caindo de um de seus olhos também, embora não entendesse o porquê. Não se sentia triste, mas a sensação era de que tinha um sentimento dentro de si que não conseguia compreender, como um peso.
— Não tô entendendo nada dessa bosta — reclamou consigo mesmo, secando a lágrima com a manga do casaco.
Parou de repente ao olhar para a própria mão, as marcas de queimadura presentes nela não estavam ali agora. Kaiser piscou, e então elas voltaram, como se nunca tivessem sumido.
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Meu amor me guia até você
FanfictionKaiser se vê numa situação complicada quando, de repente e sem explicação, Joui muda. Não como uma mera mudança de humor ou resultado de estresse acumulado, é como se... o Joui que Kaiser conheceu na primeira missão estivesse entrando no corpo do Jo...