Quando tudo começou a desmoronar

187 32 73
                                    

Kaiser não dormiu naquela noite, nem na anterior, ou em qualquer madrugada daquela semana. Não apenas pela preocupação que lhe consumia o interior completamente, privando-o de ter um momento de descanso sequer para relaxar a mente; não só porque o seu Joui não tinha voltado ainda, um mês depois do outro ter trocado com ele, e não saber onde ele estava agora, se estava bem, seguro, era como uma tortura. Até porque como se tudo já não estivesse ruim o suficiente, cada vez que Kaiser acabava desmaiando de sono por cansaço, tinha o mesmo sonho de estar num lugar vazio cheio de névoa, ouvindo vozes ecoando no ar e uma silhueta de alguém observando-o à distância, e então acordava, sentindo-se ainda pior do que estava antes de dormir.

Era madrugada, 03:21h. Kaiser estava deitado em sua cama com a expressão de um completo derrotado. Olheiras escuras e profundas marcavam os olhos semiabertos, encarando o teto do apartamento com um olhar sem emoção alguma. Os lábios seguravam um cigarro aceso, com a caixinha dele jogada do lado de sua cabeça pela metade — tinha comprado há poucas horas. Todos os seus medos e arrependimentos cruzavam sua mente como um filme, o que era equivalente a sua vida toda. Era isso a que tudo se baseava no final. Kaiser vivia uma vida miserável, qualquer felicidade que pudesse ter era arrancada de si pouco tempo depois. Foi assim com seu pai após ele enfim voltar. Foi assim com seus amigos, que não estavam mais aqui, com exceção de Arthur. Estava sendo assim com Joui, que...

... que não tinha voltado ainda.

Kaiser sabia que só não estava chorando agora porque foi a única coisa que fez o tempo todo no último mês.

Ouviu algumas batidas leves na porta do seu quarto.

— Cesar-kun, posso entrar? — Joui perguntou do outro lado. Kaiser apagou o cigarro que fumava e escondeu a caixinha antes de se levantar para abrir a porta.

Joui tinha uma expressão igualmente cansada, embora tentasse manter a compostura da melhor forma possível com um sorriso no rosto e um bom humor otimista de que tudo ficaria bem logo.

Ao menos um deles ainda tinha esperança de alguma coisa.

O japonês fez uma careta ao sentir o cheiro forte de cigarro em seu quarto.

— A Ivete vai te matar se sentir isso — alertou brincalhão, analisando o rosto de Kaiser, que só deu de ombros em resposta. — Vem aqui.

Ele o puxou para um abraço. Kaiser retribuiu, sentindo sua mente em um mini curto. Abraçava o corpo do seu amado, com o mesmo cheiro, as mesmas roupas, a mesma voz... mas não era ele. Tão perto de ser, mas não era.

E se tudo isso era sua culpa de algum jeito?

— Ele vai voltar — Joui tentou confortá-lo, acariciando suas costas.

E se ele não quisesse voltar? E se o seu Joui se arrependeu de tê-lo beijado? De ficar consigo? E se finalmente tivesse cansado?

— Confia em mim, Cesar. Ele vai voltar.

Um mês. Ele não tinha voltado ainda. E se passassem dois meses? Três? Quatro?

E se ele nunca mais voltasse?

Kaiser nunca saberia o que aconteceu, nunca entenderia. Não saberia se ele estava bem, se é que estaria em algum lugar. Já sabia que ele não trocava de lugar com o outro, apenas piscava e mudava. Era muito tempo fora agora, e se ele estivesse sentindo esse tempo passando? E se estivesse sozinho em um vazio, assim como aquele que Kaiser sonhava toda noite?

— Cesar, você não fala nada já faz uma semana, por favor, fala comigo — Joui sussurrou em seu ouvido. — Eu tô tão assustado quanto você. Fala comigo, por favor.

Meu amor me guia até vocêOnde histórias criam vida. Descubra agora