Nada é deixado para trás, não completamente

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— ...e tudo isso terá um fim! — o grupo cantou em uníssono junto dos Dragões Metálicos no cd que Arthur colocou para tocar no carro enquanto seguiam calmamente até um cabeleireiro próximo, em alto e bom som. — É a promessa que eu faço a ti!

Kaiser sorriu enquanto cantava junto dos outros, olhando para cada um. Em momentos como esse era possível ver o quão diferentes eles eram um do outro, apesar de movidos pelas mesmas paixões. Ivete cantava a música em tom alto e batucando com os dedos no volante no ritmo, realmente parecendo aproveitar o som. Arthur era quem cantava mais alto, balançando a cabeça — e o corpo todo, praticamente — com os olhos fechados no banco do carona, fingindo acompanhar com sua guitarra imaginária. Joui, sentado ao seu lado no banco de trás, movia a cabeça também conforme as batidas, não de forma tão energética quanto Arthur, porém cantando quase tão alto quanto ele. Kaiser apenas cantava mais baixinho em comparação aos outros, mas igualmente curtindo a música e aquele momento, sorrindo. Era lindo vê-los assim.

Ele tinha a família mais linda do mundo.

Olhou pela janela do carro, diversas pessoas andavam para todos os lugares, vivendo vidas normais com situações normais sem saberem de todo o mal que havia lá fora. Kaiser sequer lembrava-se direito de como era viver uma vida sem saber da existência do paranormal, como era ter como maior preocupação uma conta atrasada do que uma missão perigosa ou mesmo ir para qualquer lugar que não fosse a base, seu apartamento ou um lugar abandonado. Era a primeira vez em anos que ia por querer em um local diferente sem qualquer outro propósito a não ser que ele quisesse ir. Naquele ponto, a normalidade parecia estranha.

— Eu sei, eu também tava pensando nisso — ouviu Joui comentar ao seu lado, rindo. Virou o olhar para ele, arqueando uma sobrancelha em dúvida. — Espero que o cabeleireiro não desenhe um símbolo no nosso cabelo.

Kaiser riu também, balançando a cabeça.

— Vai ver o lugar todo é amaldiçoado e quando a gente pisar lá a maldição passa pra gente — respondeu tentando manter a feição séria, como se realmente considerasse a opção.

— Ele amaldiçoa as vítimas a terem um corte de cabelo ruim pra sempre. — A expressão quase séria de Kaiser quebrou na mesma hora, gargalhando junto com Joui com a teoria que criavam.

— O que tá acontecendo aí atrás? — Ivete perguntou alto sem se preocupar em abaixar o som da música, ela tinha suas prioridades. Kaiser e Joui se entreolharam e instantaneamente caíram na risada de novo. Ivete começou a rir também, mesmo não entendendo. — Do que cês tão rindo?

— O cabeleireiro... — o japonês tentou explicar entre os risos, mas falhando miseravelmente.

Ivete claramente ainda tinha dúvidas, mas apenas desistiu ao ouvir mais risadas e um Arthur cantando distraído muito alto o refrão da música que tocava, perdido em seu próprio mundo de rock.

Não demorou para o carro parar em frente a seu destino, cessando enfim a música e as gargalhadas. Desceram do carro juntos, olhando para o estabelecimento que era pequeno e simples. Kaiser colocou as mãos nos bolsos da calça, caminhando meio atrás de Joui enquanto pensava em jeitos de pedir que corte de cabelo queria. Tinha em mente algo próximo a aquele que fez sozinho meses atrás, só que mais bem feito. Deixaria seus amigos irem na frente para pensar a respeito.

— Opa, muito boa tarde! — um homem velhinho, aparentemente dono do lugar a julgar pela vestimenta, os cumprimentou ao passarem pela porta com um sorriso. Nada paranormal até então.

— Boa tarde, senhor — Joui foi o primeiro a responder, acenando. Ivete e Arthur fizeram o mesmo, Kaiser apenas murmurou baixinho.

— Vocês podem se sentar ali nessas cadeiras, eu tô quase acabando com o jovem Paulo Ventura aqui. — Apontou para o rapaz sentado na cadeira em frente ao espelho, continuando a cortar algumas mechas. Ele lembrava um streamer que Kaiser acompanhava com frequência, a comparação o fez se sentir mais confortável no local.

Meu amor me guia até vocêOnde histórias criam vida. Descubra agora