Déjà vu

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"Eternidade" é um conceito engraçado, um que Kaiser não acreditava. Como era possível algo durar para sempre?

E por que, o que aparentemente era infinito, não era o que realmente importava?

A felicidade acaba, pessoas queridas vão embora, o brilho no olhar some. Tudo aquilo que é bom, que faz as pessoas se sentirem bem, não é eterno, é arrancado, tirado de si com força, tanta que machuca.

Kaiser sentiu essa dor várias vezes ao longo de sua vida e sentia agora novamente quando, no meio do show dos Dragões Metálicos, de repente e sem explicação, Joui soltou sua mão e gritou.

— CESAR! — O som foi mais alto do que as vozes e a música que tocava, o que cessou instantaneamente todos eles. A música parou, as pessoas se silenciaram, todas olhando para a mesma direção. Joui olhou em volta desesperado e quando percebeu Kaiser ao seu lado, começou a chorar. — Cesar...

— O que aconteceu? — Reconheceu na mesma hora que aquele não era o seu Joui. Seu coração batia rápido no peito, preocupado com o que via em sua frente: um Joui completamente assustado, agitado e nervoso. Uma visão que Kaiser viu poucas vezes em sua vida, mas o suficiente para sentir um calafrio percorrer seu corpo de cima a baixo.

Se algo conseguia assustar tanto o homem mais corajoso que já conheceu, então havia muito a temer.

— Eu digo... Kaiser... Kaiser. A senhorita Liz, ela... — ele tentava falar por entre o choro, parecia ter dificuldade em soltar as palavras. Kaiser engoliu em seco, analisando-o. O outro Joui não falava daquele jeito também. — A senhorita Liz desapareceu.

O silêncio no saguão da Ordem era, por mais surreal que fosse, ainda mais barulhento do que a gritaria anterior. Todos olhavam a cena confusos, tentando entender o que estava acontecendo. Kaiser sentia que no lugar de seu coração tinha um martelo batendo com força em tudo lá dentro. A sensação era angustiante.

— Joui, respira, leva isso devagar. Calma. Os exercícios de respiração que você me ensinou, lembra? Usa eles também. — Colocou as mãos nos ombros dele, fazendo-o olhar somente para si, tentando acalmá-lo. — Você sabe onde você tá?

Joui pareceu confuso com a pergunta, olhando em volta por um momento. Viu as pessoas ao seu redor, todas da Ordem. O palco improvisado com Arthur e os Dragões Metálicos em cima, também os observando. Ele pareceu ficar ainda mais confuso ao se dar conta do que acontecia.

— Kaiser, o que tá acontecendo? — perguntou ao voltar a olhar para si, ainda mais assustado do que antes.

Era outro Joui, como era possível? O que era tudo aquilo? Um terceiro Joui Jouki... Como...

Kaiser respirou fundo, tentando manter a calma. Não era a coisa certa para se focar agora. Para aquele Joui, Elizabeth acabou de desaparecer, o que significava que...

— Senhor Veríssimo, a gente precisa ir pra sua sala. Agora. — Virou-se para o líder da Ordem, que estava próximo deles e encarava a cena em silêncio como todos os outros. Kaiser nunca esteve tão sério em sua vida e entendendo, o mais velho apenas acenou, caminhando em direção a sua sala. Kaiser pediu para Joui segui-lo e começou a ir atrás dele em passos rápidos. Arthur desceu do palco imediatamente, seguindo-os. Dante os acompanhou rapidamente também, e juntos todos deixaram o salão silencioso para trás.

Entraram na sala já muito familiar, fechando a porta em seguida. O senhor Veríssimo sentou-se em sua cadeira.

— O que está acontecendo aqui? — perguntou sério, buscando explicações para o que acabou de presenciar.

Kaiser não se sentou, decidindo ficar em pé na frente da mesa.

— Há dois dias, uma coisa estranha começou a acontecer com o Joui — começou a explicar enquanto guiava o citado para se sentar em uma das cadeiras.

Meu amor me guia até vocêOnde histórias criam vida. Descubra agora