Meu amor me guia até você

Do começo

Como um computador puxado de repente para fora da tomada, Kaiser desligou. Estava perfeitamente ciente de que seu olhar continuava sobre Joui ao seu lado e de que sua boca estava aberta em uma expressão de choque, mas não se movia um centímetro, sequer piscava. As palavras que acabara de ouvir passavam repetidamente em sua mente e nada além delas.

"Você" e "namorado" pareciam não fazer sentido de estarem na mesma frase, Kaiser esteve completamente sozinho por grande parte de sua vida e relacionamentos naquele ponto já eram algo inalcançável ao seu ver. Nunca foi um incômodo, de qualquer forma. Não conseguia sentir falta do que nunca teve, por mais que às vezes encontrava-se pensando no assunto.

E aqui estava ele agora, pensando novamente nisso.

Não era difícil imaginar um relacionamento com Joui, ambos eram muito próximos e sentiam um carinho enorme um pelo outro. Ouvia com frequência piadas sobre como os dois pareciam um casal a julgar pela maneira que se tratavam e o que faziam, mas nunca deu atenção suficiente para elas, eram apenas piadas, afinal. Analisando com calma agora, era compreensível. Os abraços constantes que compartilhavam e as mãos segurando uma a outra em momentos aleatórios provavelmente eram os maiores responsáveis pelo pensamento, junto da preocupação excessiva um pelo outro e os olhares longos e repletos de significado e literalmente qualquer outra coisa que fizessem, e embora já tivesse se questionado a respeito de uma futura relação entre os dois, não foi nada além disso: um mero questionamento breve, que tão rápido quanto surgiu, se foi.

Não que Kaiser tivesse algo contra aquela possível união, Joui era um homem atraente e sua personalidade lhe chamava muito a atenção desde que o conheceu, como se alguma coisa em especial capturasse completamente seu interesse, mas nunca soube o que era. Talvez fosse a sua coragem, mesmo nos momentos mais caóticos e assustadores imagináveis, ou como ele se importava tanto com aqueles que sequer sabia o nome e mais ainda com os que amava. Poderia ser também sua determinação para conseguir o que deseja, sua força invejável, aquele sorriso lindo que era tão bom de ver.

Amigos elogiam o sorriso um do outro?

Piscou ao ver a mão de Arthur balançando na frente do seu rosto em uma tentativa de chamar sua atenção, acordando-o para a realidade novamente.

— Alô, Kaiser? — Olhou para ele, que o encarava com um misto de surpresa e curiosidade no olhar. — Tá tudo bem? Você parou de ouvir do nada.

Antes de responder, virou-se para Joui mais uma vez, ele parecia desconfortável e envergonhado com a situação, mas permanecia olhando para os dois ao seu lado. Não sabia por quanto tempo perdeu-se nos próprios pensamentos, mas aparentemente foi o suficiente para tornar o clima estranho.

Observou atentamente aquele rosto, como se fosse a primeira vez que estivesse o vendo. Ele parecia diferente, mas dessa vez não era pela mudança de personalidade. Kaiser não o enxergava da mesma maneira que antes.

— Por quê? — perguntou, surpreendendo-se com o quão frágil sua voz soou.

— Por que o quê? — o japonês questionou, juntando as sobrancelhas.

— Por que eu? — Olhou para o sofá por um momento, sentindo-se repentinamente tímido. — O que você viu em mim?

— Tudo o que faltava em mim — Joui respondeu, quase em um sussurro, e ficou em silêncio por um momento. Suspirou, parecendo se preparar. — Cesar-kun, Arthur-san, acho que é melhor a gente começar do início. Vocês podem me explicar tudo o que aconteceu aqui?

Nem um dos dois quis responder de imediato, pensar nos acontecimentos passados era doloroso. Kaiser ficou olhando sem emoção para a mão parcialmente queimada, Arthur ajeitou-se no chão, sentado com as pernas cruzadas, mas permaneceu em silêncio, observando os dois com uma expressão triste.