Parte 2 - Um corredor escuro

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Joui Jouki teve um sonho quando adormeceu naquela noite e assim como da última vez que sonhou, estava consciente disso, sabia que era só um sonho mesmo estando dentro dele, mas algo estava diferente. Sentia uma sensação estranha, era como se seus pensamentos estivessem misturados e confusos ao mesmo tempo em que estavam perfeitamente claros. Tinham memórias ali dentro que Joui não viveu, mas que, por algum motivo, sabia que tinha vivido. Memórias que eram suas, mas também não eram. Estava muito confuso.

Essas memórias eram suas, sim, Joui estava nelas. Algumas eram sobre seu dia a dia na Ordem, alguns momentos com Ivete, Arthur, Dante, outros membros. A maior parte das memórias que passavam por sua mente tinham Cesar-kun junto.

Cesar-kun não, Kaiser.

Não, isso era meio desrespeitoso, era Cesar-kun.

Kaiser queria ser chamado de Kaiser, não fazia sentido.

Cesar Cohen, seu namorado. Era isso. Todos estavam de acordo com esse.

Joui travou quando entendeu.

Todas aquelas memórias na sua cabeça eram suas, mas de diferentes versões de si mesmo.

Todas as suas versões estavam unidas no mesmo corpo naquele momento, as experiências de vida de cada uma delas na mesma mente, suas fases, os acontecimentos que foram diferentes... Tudo, absolutamente tudo, em um único Joui.

Foi só então que Joui realmente prestou atenção em seus arredores. Estava sentado no chão de um longo corredor sem qualquer janela ou iluminação, apoiado com as costas na parede. Estava escuro, mas Joui conseguia vislumbrar com dificuldade um pouco de tudo o que estava ao seu redor. As paredes eram pintadas do mesmo tom de cinza que a casa em que viveu durante sua infância, o chão era completamente coberto por um tapete comprido com desenhos da cultura japonesa que também estava presente em sua antiga casa. Não tinha mais nada ali.

Levantou-se enquanto olhava para a sua esquerda, onde o corredor acabava, logo ao seu lado. Olhou para a direita, onde o corredor continuava seguindo mais a frente. Sem opção, e ainda consciente de que era apenas um sonho, Joui caminhou devagar para aquela direção. Não conseguia enxergar muito do que estava no caminho pela escuridão, mas conforme avançava, conseguia ver um pouco melhor naquela penumbra.

Depois de um tempo caminhando — Joui não sabia dizer quanto tempo, pareciam só alguns segundos, ao mesmo tempo que poderiam ser minutos, horas, dias —, encontrou um quadro grande pendurado na parede. Se aproximou, ficando de frente a ele, conseguia enxergá-lo perfeitamente. Tinha uma foto nele, uma que todos os Jouis em sua cabeça sabiam que não tinham tirado. Na foto, Joui criança, com aproximadamente oito anos, sorria com os olhos fechados para a câmera, vestido com um kimono preto e vermelho no meio de um campo verde aberto em um dia ensolarado, ele fazia um sinal de paz e amor com uma das mãos. Uma camada de vidro protegia a foto, o quadro tinha uma moldura de madeira escura, entalhada para formar linhas estéticas. Joui tentou retirá-lo da parede, mas ele parecia grudado nela, apesar de estar pendurado ali.

Apenas se afastou, continuando a caminhar pelo corredor. Próximo daquele quadro, só que na parede oposta a que ele estava, uma foto pequena estava pendurada por uma fita, Joui reconheceu imediatamente que era uma foto tirada de uma câmera polaroid, sua convivência com (Cesar-kun! Kaiser!) seu namorado lhe ensinou isso. Duas crianças estavam na foto, uma com o cabelo castanho curto e usando uma regata branca, a outra com o cabelo preto mais comprido até os ombros e uma camiseta branca e roxa. Ambos sorriam, igualmente de olhos fechados, como se rissem de uma piada. Joui reconheceu que o de cabelos pretos era Cesar. O outro parecia familiar, mas não sabia distinguir com certeza quem era agora.

Conseguia sim, era o Bruno, amigo de infância de Kaiser. Ele lutou ao lado deles na batalha contra Gal. Ele tinha morrido. Na verdade, não tinha não. Ele estava vivo. E morto.

Meu amor me guia até vocêOnde histórias criam vida. Descubra agora