CAPÍTULO III

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Quando abri os olhos de manhã, havia algo diferente.

Era a luz. Ainda era a luz verde acidentada de um dia nublado na floresta, mas de certa forma estava mais clara. Percebi que não havia um véu de neblina na minha janela.

Pulei da cama para olhar para fora e soltei um grito de alegria.

Uma fina camada de neve cobria o jardim, acumulava-se no alto de minha picape e deixava a rua branca. Toda a chuva da véspera havia se solidificado - cobrindo as agulhas das árvores em fantásticas formas e fazendo da entrada de carros uma pista de gelo liso.

Charlie saíra para o trabalho antes que eu descesse ao primeiro andar. Isa já estava na cozinha engolindo uma tigela de cereais; ela estava de mau humor. 

– Bom dia. - falei animada e ela revirou os olhos.

– Acho que eu vou voltar para a cama. - falou enquanto tomava um gole de suco. – Já é difícil demais não cair quando o chão está seco.... imagina agora com aquele gelo todo.

– Você vai se sair bem. - falei me sentando na cadeira – E afinal, Edward vai está na escola...isso é bem mais que um incentivo para você. - notei quando suas bochechas ficaram coradas.

– Como foi a entrevista? - perguntou mudando de assunto.

– Eu começo hoje. - disse com um sorriso no rosto e peguei uma fatia de pão que estava sobre a mesa.

– Que bom. - falou e começou a mexer no seu celular.

Bella parecia concentrada enquanto caminhava até a nossa picape, ela quase perdeu o equilíbrio, mas consegui segurá-la antes que caísse no chão. 

Dirigindo para a escola, notei que a picape parecia não ter problemas com o gelo escuro que cobria as ruas. Mas dirigi bem devagar, para que Isa se sentisse segura.

Na escola, quando saí do carro, vi por que não tive problemas com ela. Uma coisa prateada atraiu meus olhos e andei até a traseira da picape - apoiando-me com cuidado na lateral - para examinar os pneus. Havia neles correntes finas formando losangos. Papai se levantará cedo, sabe- se lá que horas, para colocar correntes de neve na picape. 

Estava parada junto ao canto traseiro da picape, ainda surpresa com o ato de Charlie, quando ouvi um som estranho.

Foi um guincho agudo e estava se tornando rápido e dolorosamente alto. 

Vi várias coisas ao mesmo tempo. Nada estava se movendo em câmera lenta, como nos filmes. Em vez disso, o jato de adrenalina parecia fazer com que o  meu cérebro trabalhasse muito mais rápido, e eu pude absorver simultaneamente várias coisas em detalhes nítidos.

Edward Cullen estava parado a quatro carros de mim, olhando- me apavorado. Sua face se destacava do mar de rostos, todos paralisados na mesma máscara de choque. Isa ainda estava dentro da picape e essa foi a única coisa que me confortou quando eu olhei para a van azul- escura que tinha derrapado, travado os pneus e guinchado com os freios, rodando como louca pelo gelo do estacionamento. Não tinha tempo nem de fechar os olhos.

Pouco antes de ouvir o esmagar da van sendo amassada na caçamba da picape, alguma coisa me atingiu, mas não na direção que eu esperava. Minha cabeça bateu no asfalto gelado e senti uma coisa sólida e fria me prendendo no chão. Mas não tive oportunidade de perceber mais nada, porque a van ainda vinha. Raspara com um rangido na traseira da picape e, ainda girando e derrapando, estava prestes a bater em mim de novo.

Um palavrão baixo me deixou ciente de que alguém estava comigo e era impossível não reconhecer a voz. Duas mãos longas e brancas se estenderam protetoras na minha frente e a van estremeceu até trincar centímetros do meu rosto, as mãos grandes criando um providencial amasso na lateral da van.

night sun - Crepúsculo Onde histórias criam vida. Descubra agora