CAPÍTULO XXII

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Fiquei confusa quando acordei.

Meus pensamentos eram nebulosos, ainda distorcidos por sonhos e pesadelos; precisei de mais tempo do que devia para entender onde me encontrava.

Este quarto era suave demais para pertencer a um lugar que não fosse um hotel. Os abajures, presos nas mesas de cabeceira, traíam o local, assim como as cortinas longas feitas do mesmo tecido da colcha e as aquarelas genéricas nas paredes.

Tentei me lembrar de como cheguei aqui, mas de início nada me ocorreu.

Lembrei-me do carro preto brilhante, o vidro das janelas mais escuro do que os de uma limusine. O motor era quase silencioso, embora disparássemos pelas estradas negras com o dobro da velocidade normal.

E me lembrei de Alice sentada comigo no banco traseiro de couro preto. De certo modo, durante a longa noite, minha cabeça terminará em seu pescoço de granito. Minha proximidade não pareceu incomodá-la em nada e sua pele fria e dura me foi estranhamente reconfortante. 

O sono me escapou; meus olhos doloridos insistiam em ficar abertos embora a noite finalmente terminasse e o amanhecer surgisse sobre um pico baixo em algum lugar na Califórnia. A luz cinzenta, raiando no céu sem nuvens, feriu meus olhos. Mas eu não conseguia fechá-los; quando o fiz, as imagens que faiscavam com demasiada nitidez, como slides por trás de minhas pálpebras, eram insuportáveis. A expressão magoada de Charlie; o rosnado brutal de Edward, os dentes à mostra; o olhar ressentido de Rosalie; o exame incisivo do rastreador; o olhar mortal de Edward depois de ele me beijar pela última vez... Eu não suportava vê-los. Então lutei contra minha fraqueza e o sol ficou mais alto.

Eu ainda estava acordada quando chegamos a uma passagem rasa pelas montanhas, e o sol, agora atrás de nós, era refletido nos telhados do Vale do Sol. Não me restava emoção suficiente para me surpreender que tivéssemos feito uma viagem de três dias em apenas um. Olhei inexpressivamente a amplidão plana que se estendia diante de mim. Phoenix — as palmeiras, o raquítico chaparral, as linhas fortuitas das vias expressas que se cruzavam, as fileiras de campos de golfe e manchas turquesa de piscinas, todos submersos em uma névoa tênue e envolvidos pelas cristas baixas e rochosas que não eram grandes o suficiente para que fossem chamadas de montanhas.

As sombras das palmeiras se inclinavam para a estrada — definidas, mais agudas do que eu me lembrava, mais claras do que deviam ser. Nada podia se esconder nestas sombras. A estrada aberta e iluminada parecia bastante favorável. Mas não senti alívio, nenhuma sensação de volta ao lar.

– Qual é o caminho para o aeroporto, Kris? - perguntará Jasper.

– Fique na I-10 - respondi automaticamente. – Vamos passar já por lá.

Meu cérebro funcionava lentamente através da névoa da privação de sono.

– Vamos pegar algum avião? - perguntei a Alice.

– Não, mas é melhor ficar perto, só por garantia.

Lembrei-me de começar o retorno para o Aeroporto Internacional Sky Harbor... Mas não de terminá-lo. Acho que deve ter sido quando eu dormi.

Mas, agora que eu recuperara as lembranças, eu tinha uma vaga impressão de ter saído do carro — o sol estava caindo no horizonte —, meu braço em torno do ombro de Alice e seu braço firme em minha cintura, arrastando-me enquanto eu cambaleava pelas sombras quentes e secas.

Eu não tinha lembrança deste quarto.

Olhei o relógio digital na mesa de cabeceira. Os números vermelhos afirmavam que eram três horas, mas não diziam se era noite ou dia. Nenhum fiapo de luz escapava das grossas cortinas, mas o quarto era iluminado pela luz dos abajures.

night sun - Crepúsculo Onde histórias criam vida. Descubra agora