CAPÍTULO XV

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Ele mal olhava a estrada enquanto dirigia, e no entanto os pneus nunca se desviavam mais de um centímetro do meio da pista. 

Ele dirigia com uma só mão, segurando minha mão no banco. Às vezes olhava o sol poente, às vezes olhava para mim - para meu rosto, meu cabelo voando pela janela aberta, nossas mãos entrelaçadas.

Ele ligou o rádio em uma emissora de música antiga e cantava uma música que eu nunca ouvi. 

– Gosta de música dos anos 50? - perguntei.

– A música dos anos 50 era boa. Muito melhor do que a dos anos 60, ou dos 70, eca! - ele estremeceu. – A dos anos 80 era suportável.

120 anos pensei, ainda não conseguia acreditar que ele tinha 120 anos.

– Como… - fiz uma pausa e o encarei. – Como você foi transformado ?

Ele suspirou e depois olhou nos meus olhos, parecendo se esquecer completamente da estrada por um tempo. O que quer que tenha visto ali deve tê-lo estimulado. Ele olhou o sol - a luz do círculo poente cintilava em sua pele em faíscas num tom de rubi - e falou.

– Nasci em Chicago em 1901. – ele parou e olhou para mim pelo canto do olho. Tive o cuidado de não demonstrar surpresa, esperando pacientemente pelo resto. Ele deu um sorrisinho e continuou. – Carlisle me encontrou em um hospital no verão de 1918. Eu tinha 17 anos e estava morrendo de gripe espanhola.

Ele me ouviu respirar, embora mal fosse audível a meus próprios ouvidos. Edward me olhou dentro dos olhos de novo.

– Não lembro muito bem... Foi há muito tempo e a memória humana diminui – ele ficou perdido em pensamentos por um curto tempo antes de prosseguir. – Lembro como foi, quando Carlisle me salvou. Não é fácil, não é uma coisa de que se possa esquecer.

– E seus pais?

– Eles já haviam morrido da doença. Eu estava sozinho. Foi por isso que ele me escolheu. Em todo o caos da epidemia, ninguém sequer percebeu que eu tinha desaparecido.

– Como foi que ele salvou você?

Alguns segundos se passaram antes que respondesse. Ele parecia escolher as palavras com cuidado.

– Foi difícil. Não há muitos de nós com a necessidade de fazer isso. Mas Carlisle sempre foi o mais humano, o mais compassivo de nós... Não acredito que se possa encontrar alguém igual a ele em toda a história. ‐ ele parou. – Para mim, foi simplesmente muito, muito doloroso.

Reprimi minha curiosidade, embora ela estivesse longe de ser saciada. Havia muitas coisas que eu precisava pensar sobre esta questão em particular, coisas que só agora começavam a me ocorrer. 

Sua voz suave interrompeu meus pensamentos.

– Ele agiu por solidão. Este em geral é o motivo por trás da decisão. Fui o primeiro da família de Carlisle, embora ele tenha encontrado Esme logo depois. Ela havia caído de um penhasco. Levaram-na diretamente para o necrotério do hospital mas, de alguma forma, seu coração ainda batia.

– Então você precisa estar morrendo para se tornar…

– Não, Carlisle é assim. Ele nunca faria isso com alguém que tivesse alternativas - o respeito em sua voz era profundo sempre que falava da figura paterna – Diz ele que é mais fácil, porém -  continuou -, se o sangue estiver fraco. – Edward olhou a estrada agora escura.

– E Emmett e Rosalie?

– Carlisle trouxe Rosalie à nossa família em seguida. Só bem mais tarde percebi que ele esperava que ela fosse para mim o que Esme é para ele... Ele era cauteloso com seus pensamentos perto de mim - Edward revirou os olhos. – Mas ela nunca foi mais do que uma irmã. Apenas dois anos depois ela encontrou Emmett. Ela estava caçando... Estávamos nos Apalaches naquela época... E encontramos um urso prestes a acabar com a vida dele. Ela o levou para Carlisle, mais de 150 quilômetros de distância, com medo de não conseguir fazer isso sozinha. Mal consigo imaginar como a viagem foi difícil para ela.

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