Capítulo 28

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Quente como o calor da morte
Frio como as lágrimas do meu passado

Ainda não sei como consegui, mas o cansaço enfim venceu e sob meu túmulo de poeira adormeci. Não tive tempo para sonhar e quando o sono me derrubou os gritos de Dane invadiram a minha casa:

- Marcus! - Grita a moça desesperada com o que via.

No chão, marcas de sangue espalhadas pelo velho assoalho fazem companhia a pedaços de cadeiras e uma pequena panela. Nenhum sinal de vida. Vasculha a casa 

às pressas e volta correndo para o armazém.  Nesse momento acorda atordoado e inicia a escalada rumo a luz.

Arrasto meu corpo, metade carne metade pó, para fora do meu esconderijo salvador e entendo o pânico da moça ao entrar em minha casa. O cenário não inspira muita esperança e a quantidade de sangue insinua alguém gravemente ferido. Sacudo minha segunda pele de poeira e agarrado aos meus únicos pertences, vou até o armazém acalmar a senhorita Kinsey.

Ela corre na minha direção tão logo Mat aponta para o vulto que caminha na estrada:

- O que aconteceu? Você está machucado? - Dispara enquanto me rodeia e apalpa, buscando algum ferimento oculto pela roupa e pela sujeira.

- Estou bem, Dane. Apenas recebi a visita do meu passado, querendo me pagar uma viagem para o mundo dos mortos. – Respondo segurando a agitada moça que já está me deixando tonto de tanto andar ao meu redor.

- Então você sabe quem eles eram? - Questiona a moça ainda tentando achar uma ferida no meu corpo esquadrinhando-me com um olhar preocupado.

- Você também sabe quem me visitou. Eles estiveram no armazém ontem no final da tarde. - Revelo relembrando o incidente.

- Por que eles querem lhe matar Marcus? O que você andou fazendo antes de vir para cá? - Pergunta Dane enquanto iniciamos uma caminhada lenta até a porta do armazém.

- Meu pecado deve ter sido o meu nascimento, ou a tentativa de defender o que era meu por direito. - Respondo vagamente, sentido a raiva crescer dentro de mim.

- Tudo bem se você não quer me contar, mas temo que retornem se levarmos em consideração que você ainda está vivo. - Fala decepcionada a moça.

- É uma longa história Dane. Quem sabe um dia eu lhe aborreça com as minhas desventuras.  - Respondo tentando abrandar a situação.

- O que houve Marcus? Foi pisoteado por uma manada de touros desgovernada? - Pergunta Mat assustado com a minha semelhança à poeirenta estrada.

- Foram os forasteiros de ontem pai. Vieram para matar o Marcus. – Explica por mim a senhorita Dane, sendo atingida pela tristeza que a consequência da visita poderia ter causado.

- Estou bem Mat, mas precisarei sumir desta vila. Acredito que os irmãos Faucheux voltarão em breve.  - Pondero já pensando em alternativas para me manter vivo.

- Você pode ficar aqui Marcus. Estará seguro, não comentaremos isso com ninguém e pode ganhar algum tempo para pensar no que fazer. - Oferece gentilmente Mat.

- Agradeço Mat, mas não quero colocar mais ninguém em perigo. Essa guerra é minha. - Digo relutando à tentadora oferta.

- Está decidido nem que seja apenas no dia de hoje, mas ficará hospedado aqui.  - Ordena Dane já me puxando para o corredor que desemboca na sua casa.

Como um animal contrariado sou arrastado até o lugar aonde me esconderei do mundo, após um merecido banho é verdade. Dane sai em busca de algumas peças de roupa limpa na minha casa, enquanto deixo a água fria lavar minha preocupação junto com toda aquela poeira.

O Livro (Lizandra's Book)Onde histórias criam vida. Descubra agora