8. Passado

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Quando somos pequenos morremos de medo das palavras "médico" e "injeção", mas esse não era o caso de Draco.
Desde bem jovem foi ensinado pela mãe que não deveria nunca temer algo que poderia salvar sua vida, claro que ele fazia escândalo sempre que precisava levar uma picada no braço ou na bunda, mas que criança não fazia?
- Draco, comporte-se- disse Narcisa o puxando para sentar-se ao seu lado.
- Por que estamos aqui de novo mamãe?- o pequeno Malfoy de seis anos perguntou.
- Você veio fazer uma visita ao médico- respondeu Lucius enquanto checava o celular.
O garotinho não entendia bem o motivo da visita, mas no fundo tinha uma pequena noção de que se tratava do fato dele estar reclamando de dores no peito e na garganta a meses, a umas duas semanas ele havia passado por uma bateria de exames que envolviam raio-X do seu tórax, segundo o mesmo "extremamente desnecessário e irritante".
- Senhor e Senhora Malfoy?- chamou a recepcionista.
A família levantou-se e seguiu até o consultório, Narcisa tremia das cabeças aos pés mas tentava manter-se calma para não assustar o filho.
- Bom dia doutor- o senhor Malfoy disse.
- Não sei se o dia continuará bom para o senhor, senhor Malfoy.
O Malfoy mais velho engoliu seco e respirou pesadamente antes de pedir para que a esposa levasse o filho para brincar na praça que havia ali perto, a mulher entendeu na hora que não seria bom que Draco escutasse a conversa então foi sem hesitação.
- E então? Ele está tão mal assim?
- Sente-se senhor Malfoy- o doutor disse apontando para a cadeira a sua frente- Acredite, será melhor ouvir essa notícia sentado.
Lucius sentou-se e voltou o olhar pra o médico.
- Após a análise dos exames, pude encontrar um pequeno tumor no pulmão de seu filho. Acredito que esteja no segundo estágio, pude ver que ele já se espalhou e começou a comprometer outras áreas do pulmão de Draco.
O Malfoy arregalou os olhos e segurou-se na cadeira.
- Presumo que já tenham tido outros casos desse tipo de câncer na família, estou certo?
- Sim...
- Ótimo, então o senhor já deve estar ciente de que somente a radioterapia pode controlar esse tipo de tumor.
- Estou...
- Draco ainda é muito novo, Lucius, recomendo começarmos a radioterapia logo se não quiser perder ele.
- Começaremos quando doutor?
- Vou assinar os papéis e declarar a situação como de urgência, assim o garoto poderá começar a se tratar amanhã.
Lucius apenas concordou e agradeceu o médico, saindo do consultório atônito e enjoado.
- E então? O que o médico disse?- perguntou Narcisa preocupada.
- Nosso filho está morrendo Cissa...
- Como assim? Lucius como assim?
- Câncer no pulmão, estágio dois, ele começa o tratamento amanhã.
A mulher cambaleou para trás sentindo-se tonta, como ela poderia perder o filho tão jovem?
- Acha que ele vai ficar bem?- perguntou num sussurro.
- Meu pai... Ele vai sim, Cissa, ele vai.
Os dois abraçaram-se chorando, Lucius tentando acalmar a esposa, mas nem ele estava calmo.
A verdade é que seu pai havia morrido pelo mesmo tipo de doença a uns quatro anos atrás, infelizmente detectaram o câncer ja em estado avançado e não teve muito o que se fazer além de esperar que o velho definhasse até a morte.
Na manhã seguinte, mais especificamente as 9:30 da manhã, Lucius e Draco foram em direção ao centro oncológico onde seriam realizados os tratamentos. Começariam com a rádio para que os efeitos fossem menos fortes de início, depois passariam para a químio, onde Draco deveria ficar por duas horas todos os dias até que o tumor diminuísse.
- Eu estou com medo papai- o pequeno Malfoy disse apertando os bracinhos em volta do pescoço de Lucius.
- Eu sei meu filho, eu também estou, mas olha, você vai conseguir! Você é um garoto forte, não é?
- Sim.
- Então pronto. Vou estar do seu lado o tempo todo, não se preocupe.
E la foram os dois para o começo dos seus meses de tratamento.
Com dois dias de tratamento, Draco já apresentava uma mudança em seu comportamento e na sua aparência. O garotinho mal conseguia comer, sua pele
estava irritada e vômitos eram constantes. Narcisa já não sabia mais o que fazer para aliviar a dor do filho, se tinha algo que ela não desejava a nenhuma mãe era aquilo! A dor de ver seu bebê sendo exposto a tantos químicos para que ele tivesse a chance de sobreviver.
- Estamos no vigésimo primeiro mês de tratamento, Draco, como se sente?
- Melhor...
- Espero que sim, pois seus exames indicam que o câncer diminuiu e está controlado! Parabéns, você foi muito forte em ter aguentado todos esses meses de químio e rádio, merece até um pirulito- o médico falou sorrindo enquanto pegava um pirulito em sua escrivaninha.
Os olhinhos azuis de Malfoy brilharam e ele abriu o mais doce sorriso ao ver a guloseima em sua frente, devido ao tratamento ele raramente sentia vontade de comer coisas doces, mas agora que finalmente tinham diminuído a frequência, o apetite por doces havia voltado.
Naquela tarde, os Malfoys tiveram a melhor notícia que poderiam ter. O garotinho estava melhor, e sua químio acabaria em dois dias, sendo assim, os sintomas colaterais iriam embora e Draco poderia voltar a ser aquele garotinho feliz que ele sempre foi.
- Pelo menos foi isso que eu e meus pais pensamos- Malfoy disse dando um gole em seu chá- Estou com um tumor em estágio 4, Blaise, começarei a químio em três dias e eu realmente não sei como contar isso para o Potter.
- Dray eu...- Zambini tentava conter as lágrimas- Você é um irmão para mim, cara, não sei o que vou fazer caso você morra.
- Você vai seguir sua vida sem deteriora-lá, ok? Me prometa isso, Blás, por favor.
- Okay, eu prometo- o moreno disse- E sobre o Potter, por que não chega nele e diz "meu amor eu estou morrendo, espero que saiba, não crie expectativas sobre o nosso futuro porque ele pode nunca chegar"?
- Porque eu não quero que ele se desespere, Zambini, eu quero que ele fique calmo.
- Então é melhor pensar numa forma rápido, ele vem vindo aí.
Draco virou-se para trás e viu que o namorado vinha sorridente em sua direção. "Merda eu amo tanto ele", ele pensava triste.
- Oi- Harry disse baixinho.
- Olá Potter, vou deixá-los a sós- Zambini falou olhando seriamente para Draco antes de ir embora. 
- Ele tá bem?- Potter perguntou.
- Ele tá ótimo, vem aqui- Draco disse deitando-se no gramado e estendendo o braço para que Harry pudesse deitar sobre ele.
- Amo quando você faz isso, sabia?
- Eu sei, é por isso que eu faço.
Harry soltou um risinho nasalado e voltou o olhar para o céu, não sabia bem o que procurava, talvez um sinal de que tudo ficaria bem com o namorado.
- Lembra quando eu te disse que não tinha tempo- começou Draco.
- Lembro...
- Meu câncer está no estágio mais avançado possível Hazz, já consumiu 95% do meu pulmão e... existem chances dele migrar para outras partes do meu corpo...
- Dray...- Potter disse com a voz embargada- Você vai conseguir amor, eu acredito nisso.
Draco depositou um beijo na cabeça de Harry enquanto acariciava seu antebraço. Ele queria acreditar que Harry falava a verdade, que ele conseguiria, mas como?
- Você é minha fênix, Draco.
- Sua fênix?
- O pássaro que renasce das cinzas.
- Está dizendo que eu vou queimar até a morte para depois ressuscitar? Não sei se você sabe, Potter, mas eu não sou Jesus Cristo.
- Não é isso seu idiota, estou falando que você vai conseguir se recuperar.
- Talvez você tenha muita fé em mim Hazz...
- Talvez.
- Talvez essa seja a sua ruína.
- Problema meu então. Não vou deixar de acreditar que você consiga se livrar dessa doença estúpida, como também não irei largar sua mão durante o tratamento.
- Mesmo que eu vomite em você, perca meu cabelo e fique com cara de zumbi?
- Mesmo assim. Eu te amo, Draco.
- Eu também te amo, Harry- o loiro respondeu selando os lábios do namorado.
Ambos cabularam aula naquele dia, precisavam passar um tempo sozinhos sem o estresse dos outros estudantes ou da memória daquele câncer nojento. Resolveram pular os muros da escola com a ajuda de Hagrid, o zelador bonzinho que cuidava da área externa do colégio, ele entendeu a situação e fez vista grossa para os dois garotos que pulavam o muro.
- Sorveteria?- sugeriu Potter.
- Sorveteria!
Draco agarrou a mão do namorado e saiu puxando ele na direção que ele achava que era a sorveteria. No momento, eles não se importavam se chegariam ou não na sorveteria, o que mais importava era a sensação de vida que aquele pequeno momento juntos trazia para ambos.
Poderiam não ter mais de três meses para ficarem juntos, talvez Malfoy fosse embora amanhã, nunca saberiam, mas tinham certeza de que dependente de qual fosse a opção escolhida pelo tempo, eles estariam felizes só por terem aproveitado aqueles últimos quatro meses. Se morresse agora, Malfoy iria feliz por ter conhecido alguém tão incrível quanto Potter.

INFINITY- drarryOnde histórias criam vida. Descubra agora