— Estava esperando 'ocê.
Marisol se sobressaltou ao ouvir a voz grave e arrastada de seu pai soar atrás dela, com o peso de alguém que já sabia de tudo.
— Por eu? — Ela perguntou, meio sem jeito, tentando não transparecer o nervosismo que já sentia formar um nó na garganta.
Sabia que coisa boa não vinha. Pelo tom de voz e o olhar que seu pai lhe lançava, era como se ele já soubesse até o que ela tinha comido no café da manhã.
— O que ocê tava fazeno perambulando pelos mato com um cabra da cidade grande, hein?
As palavras de McKaley eram como chumbo, pousando pesadas sobre os ombros de Marisol. Sentia as mãos começarem a suar e o coração pulsava no peito. O que responderia? Pensava rápido, procurando na cabeça qualquer desculpa que parecesse minimamente convincente. Mas, sem alternativa melhor, falou o que veio à mente.
— Má ele num é da cidade grande, pai! — Disse, mais alto do que pretendia.
Era o melhor que conseguia. Não adiantava mentir que não tinha estado com Justin; McKaley já sabia disso. Só precisava fazer o pai acreditar que Justin não era exatamente um "estrangeiro" de cidade grande — mesmo que fosse. Isso ela tinha que encobrir.
— E de onde diabos é esse cabra, então? John conhece toda a peãozada da região e nunca botou os 'zoio nesse homem antes. E pruque ocê tava perambulano pelos mato cum ele?
McKaley ergueu a voz, deixando bem claro que o assunto não ia acabar tão cedo.
— Ele é novo por aqui, papai, veio pra conhecer uns parentes. — improvisou Marisol, com o rosto já corando. — Aí eu pensei, uai, pruque num dar uma mãozinha pra ele? Ele veio de ota cidade pequena.
Torcia para que soasse convincente, torcia muito. Só de imaginar a enrascada que viria se o pai descobrisse a verdade, já sentia um arrepio.
— Sei não... Isso tá estranho por demais, Marisol! — McKaley cruzou os braços, estreitando os olhos. — Apois diga ao sujeito que eu tô chamando ele pra nois fazer um rango aqui em casa, só nois três.
Marisol piscou, espantada. Ela estava encurralada. Como convenceria Justin a se passar por um caipira, e justo na frente do próprio pai, que era a definição de um?
— Certo, eu... Eu vou falar cum ele, papai. — Respondeu, forçando um sorriso que estava mais para careta.
— Supimpa! — Ele respondeu, com um sorriso também meio forçado, mas cheio de desconfiança. — Que tal amanhã, pru almoço?
— Não! — Ela reagiu rápido demais, e McKaley arqueou uma sobrancelha.
— Uai, meina, pruque não amanhã?
— Eu só pensei, né? Sei lá, se ele pode... Tem que ver! — Tentava transparecer calma, mas as palavras saíam meio apressadas, e ela sabia que não estava ajudando.
— 'Ocê tá certa... Mais num vá pensando que eu esqueci, hein? Quero conhecer o moço. — Respondeu McKaley, já se servindo.
— Num se preocupe, pai. Há de conhecer, sim. — Soltou outro sorriso falso.
Ele então franziu o cenho, sem disfarçar a curiosidade.
— E qual é o nome dele mermo?
Marisol travou. Se dissesse "Justin" o disfarce ia embora. Mas, num impulso, respondeu:
— Jack.
— Hum, tá certo então... Vamo comer.
McKaley terminou o assunto por ora, mas Marisol sabia que isso só lhe comprava tempo. Ela teria que fazer milagre para transformar Justin num caipira até o jantar, ou então, descobriria o verdadeiro problema que havia se metido.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Countrified
FanfictionPara Justin, seria apenas algumas semanas de férias na casa de seus avós no interior, mas tudo mudou no momento em que seus olhos puseram-se sobre aquelas íris azuis cristalinas e aquele sorriso pelo qual o faria ficar horas admirando. Como uma simp...