Marisol não havia mais falado uma palavra desde que Diane a deixou no quarto de Justin, deitada, coberta e aconchegada na cama. Marisol se sentia grata por Diane não lhe ter enchido com perguntas sobre o que de fato, havia acontecido. Ela não queria conversar agora, muito menos, sobre o que havia acontecido. Ela não havia reconhecido seu pai naquele momento. Em toda a sua vida, ela sempre foi tudo o que ele tinha, e ele sempre a tratou com o melhor cuidado, carinho, amor e proteção, principalmente proteção.
Marisol só começou a sair sem a vistoria de seu pai quando completou quinze anos, e com sair, ela queria dizer: ir sozinha ao seu balanço, andar a cavalo na sua propriedade, tomar banho na cachoeira ao lado.
E, até aquele momento, estava tudo bem para ela. Ela não tinha muitos amigos, bem, nenhum amigo ou amiga. Todos os homens de Lake Village sabiam o quão louco McKaley poderia ser se caso algum deles ousasse se aproximar de Marisol. E as garotas da cidade queriam sair a noite, ir a bares e em rodeios, e elas não conseguiriam nenhum homem por perto de suas mesas ou próximo delas se caso Marisol estivesse junto.
Marisol era meio que um inseticida para as pessoas, e tudo graças a seu pai. As garotas até gostavam da ideia, uma vez que competir com Marisol caso seu pai não fosse louco, seria impossível. Apesar de não ter homens caindo a seus pés, ela os tinha rastejando mentalmente. Todos concordavam com a tamanha beleza que aquela pequena garota carregava, exatamente como a sua mãe.
Marisol não soube por quanto tempo dormiu, mas quando sentiu um conforto imensurável em seu corpo, que esquentou inesperadamente quando braços a rodearam e a apertaram em um abraço apertado. Ela se remexeu rapidamente, empurrando seja lá quem quer que fosse, mesmo com a sensação de segurança e conforto, ela não sabia quem era, tampouco, poderia dizer, o quarto estava totalmente escuro.
— Shiiii... Está tudo bem, linda. — A voz de Justin saiu rouca e baixa no seu ouvido. Marisol arregalou seus olhos, sentindo seu coração doer de tanto bater rápido.
— Justin... — Disse com a voz rouca e embargada, sentindo seus olhos lacrimejarem automaticamente.
— Sou eu, amor. Está tudo bem agora. — Segurou com sua mão atrás da cabeça de Marisol, afagando seus fios macios e a trazendo até o seu peito, apertando forte. Ele sentiu a respiração pesada contra si. Ele sentiu seu peito subir e descer rápido. Ele sentiu a angústia e tristeza que ela estava carregando, mas também sentiu tudo isso desaparecer quando ele a trouxe para si e a segurou com toda a sua vida.
— Eu estou aqui agora e eu não vou a lugar nenhum. — Beijou o todo de sua cabeça.
— Você não deveria estar aqui. — Marisol murmurou, sentindo o seu coração acelerar novamente, se lembrando das ameaças de seu pai.
Ela jamais suportaria a dor se algo acontecesse com ele por sua causa.
— Eu estou onde exatamente deveria estar, Marisol. — Murmurou do mesmo modo. — Eu estou onde você está.
Aquelas foram as últimas palavras que Marisol havia ouvido de Justin. Ela não havia retrucado, estava cansada demais — mentalmente e fisicamente — para discutir com ele naquele momento. Contudo, ela estava feliz pelo conforto, amor, proteção e carinho que sentiu quando ele a abraçou, e por assim seguiu durante todo o seu sono.
Ao contrário de Marisol, Justin não havia pregado o olho naquela madrugada, mesmo cansado da viajem conturbada, ele não conseguiu dormir. Quando chegou na casa de seus avós, os mesmos não lhe contaram muito, ou nada. Só avisaram que Marisol estava no seu quarto e que ele deveria ir ficar com ela.
Ele havia ouvido a voz de McKaley lá de baixo, ele berrava com seus avós e Bruce não fazia diferente. Ele não conseguia entender sobre o que eles estavam gritando, mas sabia que era sobre Marisol. Ele quis descer e confrontá-lo. Mas havia seguido os conselhos de seu avó, que de fato, havia sido a única informação que ele havia recebido quando chegou a casa.
'' Marisol tá lá em riba, no seu quarto, trate de subir e ficar cum ela, meu fi. E num venha aqui embaixo mais nem sobre reza. Mermo que ôce escute gritos.''
Foram as únicas palavras de seu avó, e dado a sua expressão, ele notou que era algo sério. E quando tocou e abraçou Marisol, ele pôde ter a confirmação do que achava. Ela não se parecia nada com a sua Marisol. Estava assustada, respiração e coração acelerados... Ela estava quebrada.
Justin não quis perguntar ou insistir sobre o que havia acontecido, não naquele momento, não quando ele poderia lhe dar todo o conforto, amor e segurança que ela precisava naquele momento.
O dia estava clareando sobre a janela, e o sol ainda frio estava começando a iluminar o seu quarto. Ele ao menos havia notado a janela aberta. E para a sua surpresa, Marisol ainda dormia. Ele soltou um riso sem vida quando viu a hora em seu relógio de pulso. Cinco e quarenta e dois. Como ela costumava dizer, essa era a hora perfeita para tirar o leite da vaca. Ele riu novamente, um pouco mais alto agora com as lembranças dela. Marisol se remexeu em seu abraço, mas ainda não havia acordado. Ele tirou alguns fios de cabelo que estavam em seu rosto, o impedindo de vê-la.
Quando o fez, seus punhos se fecharam automaticamente. Seu maxilar quase quebrou seus dentes esmagados quando o travou com força.
Marisol estava com o rosto vermelho, lábio inferior cortado e uma pequena mancha roxa no canto de sua boca. Ele não sabia ao certo o que estava sentindo, mas sabia que seria capaz de fazer qualquer coisa nesse momento contra a pessoa que havia a machucado.
— Você está mesmo aqui. — A voz doce e rouca de recém acordada de Marisol o despertou de seus pensamentos ferozes. — Achei que tinha sido um sonho. — Se esticou, espreguiçando seu corpo e sorrindo de leve.
Marisol bateu seus cílios algumas vezes, piscando seus olhos e se acostumando com a claridade lá de fora entrando no quarto. O sol já estava bastante forte então, provavelmente, ela havia acordado mais tarde hoje.
— O que aconteceu com você?
Ele não queria ter soltado a sua pergunta assim, tão dura e sem nenhum preparo, mas ele não conseguiria guardar isso para si, não vendo o estrago que alguém havia causado na sua mais preciosa flor.
— Justin... — Ela murmurou, sentindo seus olhos marejarem. Seu peito doer e seu coração disparar.
— Por favor, Marisol. — Fechou seus olhos com força, soltando um longo suspiro. — Eu só quero saber o que aconteceu com você.
— Eu não sei como eu posso dizer isso a você. — Sentou na cama, ao lado dele, passando suas mãos sobre seu rosto, já molhado pelas lágrimas.
— Só me diz, Marisol.
— Não faz assim... — Tocou nas mãos fechadas em punhos de Justin. — Não me chama de Marisol, não assim.
Justin sabia o que ela estava fazendo. Ele também sabia o que provavelmente havia acontecido e quem havia feito aquilo. Mas ele precisava de uma confirmação.
— Por favor, linda... Só me diz.
— Eu senti tanto a sua falta, eu... — Soluçou. — Eu tentei viver como antes, eu tentei... Esquecer você.
— Marisol! — Justin ficou de joelho sobre o colchão da cama, segurando no queixo da loira, erguendo seu rosto para encará-lo. Seus olhos estavam uma mistura do mais belo azul e da mais profunda tristeza. — Foi o seu pai, não foi?!
Os olhos castanhos de Justin estavam em chamas, procurando por respostas, mas tudo o que ele conseguia ver era a tristeza inundando tudo.
— Por favor... — Ela suplicou quando assistiu Justin caminhar até a porta.
— Eu sinto muito, Marisol.
Foram suas últimas palavras antes de sumir pela porta. Marisol puxou seus joelhos e abraçou suas pernas, apoiando sua testa sobre os joelhos e deixou suas lágrimas caírem.
Seu coração estava doendo, assim como o seu peito, assim como o seu corpo por inteiro. Marisol conhecia Justin, e pior, conhecia seu pai, e se ambos se encontrassem daquele jeito, ela sabia que um deles poderia não retornar. E ela não queira e jamais poderia escolher.
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Countrified
FanficPara Justin, seria apenas algumas semanas de férias na casa de seus avós no interior, mas tudo mudou no momento em que seus olhos puseram-se sobre aquelas íris azuis cristalinas e aquele sorriso pelo qual o faria ficar horas admirando. Como uma simp...