Capítulo 49

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             Mal tive tempo de pensar na morte de Dobby, gritei pedindo ajuda ao ver Cedrico em uma poça de sangue, não parava de sangrar. Do chalé saíram Fleur e Gui, eles demoraram um pouco para chegar até mim já que eu e os outros estávamos praticamente dentro do mar, Fleur me olhou horrorizada quando chegou e só então percebi que a água estava vermelha.
Fleur: o que aconteceu?
Eu: Belatrix esfaqueou ele
Do jeito que eu falei, direta, parecia algo tão simples, queria que fosse.
Fleur: com a adaga?
Ela parecia receosa.
Eu: sim, por favor me ajuda Fleur, explico depois
Fleur: claro Mary, vamos levar ele pra dentro rápido
Gui pegou e levantou Cedrico, Fleur se ofereceu para levar Ron ainda inconsciente mas eu garanti que conseguia. Estava tão cansada, já faziam muitas horas que eu estava acordada lutando e em movimento sem nenhum descanso, eu não tive tempo para processar e pensar em nada do que aconteceu e o peso de Ron cedia sobre mim.
                Quando finalmente entrei foi um alívio, soltei meu amigo no sofá e rapidamente levamos Cedrico para um quarto lá em cima, deitamos ele na cama. Enquanto Fleur foi buscar um pano para tentarmos estancar o sangramento a ficha finalmente caiu, Cedrico estava morrendo. Mesmo que estancássemos o sangramento, a adaga é enfeitiçada, envenenada. Sem as poções certas ele morreria, e eu não posso fazer nada, o único lugar imaginável que teriam essas poções seria... a casa dos Malfoy, ou Hogwarts, mas era impossível ir para Hogwarts agora, me matariam assim que eu chegasse lá já que eu já era uma comensal conhecida, e também, não daria tempo. O que eu faço? Percebi que eu falei isso em voz alta, Cedrico que até agora não falou uma palavra ou se mexeu (parecia morto mas ainda tinha batimentos e estava respirando) me olhou.
Cedrico: eu
Ele parou pra tossir sangue, sabia o que ele estava tentando falar.
Eu: não, não fale isso. Se você falar agora será como uma despedida.
Ele assentiu.
Cedrico: me beija
Eu: agora?
         Cedrico assentiu. Com muito cuidado me apoiei nele para conseguir me curvar e beijá-lo de forma carinhosa, percebi que estava chorando somente pelo gosto salgado das lágrimas, Cedrico colocou cabelo atrás da orelha com dificuldade, eu baguncei seu cabelo mas diferente do que de costume, fiz isso com carinho de forma delicada, não queria provocá-lo, queria trazer lembranças a tona, me sentir como me sentia, fazer isso pela última vez? mordi seu lábio com delicadeza, demorou até que nos separássemos, ele beijou minha testa da forma sempre reconfortante que agora parecia mais uma despedida do que um gesto reconfortante.
              Fleur entrou no quarto e juntas amarramos o pano com força em seu abdômen, local do corte. Ouvimos batidas frenéticas na porta como se não atendêssemos a pessoa fosse arrombá-la. Como Fleur era muito melhor do que eu cuidando de machucados fui até lá e abri a porta irritada, era uma péssima hora. Vi um garoto loiro todo sujo e sem fôlego, Draco. A raiva ressurgiu dentro de mim e lancei um soco em seu olho com toda minha força, sua sobrancelha abriu, sangue escorreu. O garoto limpou com o dorso da mão rapidamente.
Eu: seu idiota! Filho da puta! Você não me ajudou quando eu mais precisei! Eu fiz de tudo por você Malfoy! E não estou dizendo Malfoy porque sei que você gosta de ser chamado assim, digo Malfoy como insulto porque sinto nojo de você e das suas atitudes! Se dependesse de você Cedrico e Ron estariam mortos. Você é um assassino, eu também sou, mas somos diferentes porque eu tive motivo, eu fiz por coragem, você por covardia, porque é isso que você é, um covarde. Agora vá embora antes que eu te mate.
Draco: você pode ficar brava comigo depois mas agora me deixa entrar
Eu: "me deixa entrar" o que você tem na cabeça idiota?!
Draco: eu posso ajudar, Cedrico foi cortado pela adaga não foi?
Eu assenti, ele conseguiu minha atenção.
Draco: trouxe poções, remédios, sei curá-lo. E também trouxe outras coisas que possamos precisar
Eu: não diga possamos porque não existe nós, não somos um grupo, não somos uma dupla, não  somos amigos, entra, você cuida dele, ele melhora e você some ou eu te mato, pensando bem você vai sumir de qualquer jeito, mas na segunda opção eu saberia onde está seu corpo
Draco: falo com você depois
Não me dei o trabalho de explicar que preferia beijar o Dumbledore do que falar com ele, apesar do meu desprezo não temos tempo para isso.
Eu: entra
Levei Draco até o quarto onde estava Cedrico e o loiro nos pediu para sair, contrariada obedeci enquanto esperava literalmente do lado da porta sentada no chão. Esperei por horas que pareciam dias, quando o menino finalmente saiu me levantei rapidamente.
Eu: ele está bem?!
Draco: está, vai demorar um bom tempo para cicatrizar completamente mas já está sem veneno e ele vai ficar bem.
Ele recebeu apenas meu silêncio, não iria agradecê-lo por salvar a pessoa que se dependesse dele já teria morrido.
Draco: vamos
Eu: já tive um dia cansativo o bastante
(dois dias, eu não dormi na verdade)
Draco: Mary, por favor
A única pessoa que eu já vi Draco pedir por favor antes foi para seu pai, ele realmente queria falar comigo.
Eu: ok, vamos lá fora então
Saímos e fomos até a "praia", nos sentamos na areia e colocamos os pés no mar, nunca imaginei que Draco fosse o tipo de pessoa que vai na praia e senta na areia, sempre imaginei que seria algo mais como aquelas pessoas que levam cadeira e aquelas barracas chiques que todos invejam enquanto torram nas cangas cobertos no máximo por um guarda-sol que foi colocado do jeito errado e está caindo.
Draco: está vendo as estrelas?
O céu estava limpo, somente iluminado por elas e pela lua que refletia na água. Ele apontou para a constelação, a nossa constelação.
Eu: estou
Draco: você me disse que sempre achava que estava escolhendo as coisas, mas na verdade nunca tinha escolha, sempre o destino já tinha um plano definido, mas chegaria uma hora que você escolheria. Essa hora chegou, ordem, amigos, Cedrico, ou família e comensais. Não posso te dizer que fez a escolha certa, mas também não posso dizer que foi a errada. Você está feliz com sua escolha?
Eu: estou
Draco: portanto é a certa. Quando chegou a minha hora de escolher, ontem, eu fiz a escolha errada. Era errada porque não me fazia feliz, tornava as coisas tecnicamente mais fáceis mas na verdade estava muito mais difícil. Eu sinto muito Mary, não espero que me perdoe mas queria deixar claro que me arrependo, e que se pudesse faria as coisas diferentes, mas não posso. Não acho que estou totalmente errado, mas faria as coisas diferentes
Eu: você pode, você fez a coisa certa, agora, talvez a sua constelação tenha umas estrelas que liguem um caminho ao outro. Você errou, e não é fácil te perdoar, não vou mentir, não te perdoei completamente mas acho que o que nós temos é incrível, algo muito muito forte. Eu acredito em você, acredito em nós.
Draco sorriu ao ouvir a última parte, nos abraçamos então joguei um pouco de água nele com o pé. A princípio ele ficou irritado mas depois revidou e começamos a jogar água um no outro até estarmos encharcados e rindo. Empurrei ele na areia e o mesmo me puxou junto, fiquei abraçada com Malfoy deitada na areia não sei por quanto tempo.
Eu: Draco, realmente acha que fizemos a escolha certa? Eu sei que a outra escolha não me faria completamente feliz, mas essa também não faz. Você não se sente nem um pouco bem lá, tipo, você pode ser egoísta, sucumbir ao poder, você pode ser quem você é?
Draco: não sei Mary, acho que talvez pessoas como nós não tenham uma escolha certa. Não me sinto completamente bem aqui porque tenho que esconder uma parte minha, mas lá também não sou totalmente eu. E mesmo que tenha uma considerada "certa", acho que isso não torna a outra errada
Eu: me sinto de mesma forma. Não quero abandonar minha magia negra, meus poderes, não acho que tenha nada de errado em querer ser poderoso
Draco: concordo. Soube do que aconteceu com Voldemort. Você é a mais poderosa agora, parabéns, mas por enquanto, quando duelarmos eu deixo você ser a vice mais poderosa
Ele me deu um sorriso torto.
Eu: vai se fuder Malfoy
Draco: quer ir comigo?
Eu: você é impossível
Nós rimos e ficamos um tempo em silencio.
Eu: na verdade estou com medo
Draco: porque?
Eu: porque já duelei com Harry, e com Voldemort certo?
Draco assentiu para mostrar que estava acompanhando.
Eu: eu senti uma força em Voldemort que não senti em Harry, talvez ódio, egoísmo, não sei o que exatamente mas tenho medo que Harry não consiga lidar com isso
Draco: está duvidando da capacidade do testa rachada?
Nós rimos imediatamente sem nos preocupar em fazer barulho.
Draco: mas eu entendi o que você quis dizer. Não gosto muito dele mas..
Eu bufei e revirei os olhos.
Eu: eu sei que você não gosta dele! Ele é seu trauma de infância né
Eu ri.
Draco: jamais, o testa rachada não me abala de forma nenhuma!
Ele falava sério mas depois riu.
Draco: posso continuar?
Seu tom era irônico.
Eu: vai, continua Malfoy, me fale sobre suas experiências traumáticas com Harry Potter
Eu ri e Draco me xingou de idiota mas continuou.
Draco: como eu ia dizendo, não gosto muito dele, mas acho que ele sobreviveu no fim das contas. E se não conseguir, bom, aí você resolve, ou até mesmo eu
Eu: nossa estou abismada com a confiança que tem em mim Malfoy!
Eu falei em tom brincalhão.
Draco: é que apesar de idiota você até que é bem poderosa
Ele respondeu no meu tom.
Eu: até que?
Joguei água em Draco, como sempre ele não deixou barato e voltamos com nossa guerra e risos que nos distraiam dos problemas e do "mundo real".

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