capítulo 38

834 121 20
                                    


Noah Urrea

As estrelas pareciam mais cintilantes naquela noite.

Voltei a encarar a carta nas minhas mãos e sai da frente da janela. Meu coração apertava, doía, avisava... Avisava que algo estava muito errado.

Mesmo com dificuldade e com poucas forças, andei até a cama e sentei.

Reli a carta e me levantei de novo.

─ O que tem ai, Noah? - Margô indagou logo atrás de mim.

Deixei a carta em cima da mesinha e me virei para ela.

─ A Any vai fazer uma besteira e eu preciso impedi-la!

Lionel franziu o cenho.

─ Como assim? Eu a vi hoje. Ela está bem abatida, mas não acho que possa fazer nada, Noah. Se acalma.

Neguei veementemente.

─ A Any pode enganar todo mundo, mas não a mim, Lionel. - Puxei o ar com mais força. ─ Essa carta é uma despedida e um pedido velado. E eu não vou permitir que ela faça uma besteira.

Peguei uma camisa e, mesmo com a barriga latejando de dor, a vesti.

Eu não tinha tempo.

Eu sentia que algo ia acontecer.

Lionel tentou me impedir, mas o empurrei.

─ Cara, isso vai dar merda. Além do mais, não tem ninguém na casa. Só a família. Até onde eu sei, ele queria jantar com a esposa, a mãe e a prima. Está tudo bem.

Peguei minha arma que estava perto e a prendi no cós da calça.

Se ele fizer algo com ela, eu mato ele.

─ Ele está certo, Lionel. - A voz de Margô fez nós dois paralisar.

─ Concordou comigo? - Guinchei. - Não vai tentar me impedir?

Ela mostrou a carta - que eu nem tinha percebido que ela tinha pegado - e apontou para um trecho que eu havia relido várias vezes.

" Não esqueça que eu te amo, americano e diga sempre ao bebê que o amor ainda é a melhor saída... A melhor resposta..."

─ Não posso te impedir, por que pelo pouco que a conheço e pelo muito que você me falou dela, ela irá até as últimas conseqüências. - Margô explicou. - Precisamos ir. Logo.

Troquei um olhar rápido com Lionel e ele concordou.

Eu tinha que chegar a tempo.

•••

Lionel dirigia o mais rápido que podia, mas ainda parecia pouco pra mim.

Cada segundo que se passava multiplicava por dez a minha agonia. Encostei a cabeça na janela e fitei as estrelas que pareciam borrões no céu. Borrões que não fariam sentido para os outros, mas para mim, era uma súplica.

Any precisava se controlar! Ela tinha que ter esperado!

Eu falei que daria um jeito... Não posso perdê-los!

─ Por favor, se acalma... - Margô pediu segurando minha mão gelada. ─ Eu tenho fé que tudo dará certo.

─ Não sei se ainda tenho fé em algo, Margô.

─ Precisa acreditar em algo se quer continuar vivendo nesse mundo, Noah. - Ela sorriu. ─ Acredite no amor de vocês e busque fé através dele.

Fechei os olhos e senti as batidas do meu coração ficarem mais intensas e audíveis, como se meu peito estivesse com amplificador, berrando, gritando, jorrando para fora todo o desespero que eu sentia.

Eu os iria perder... Perder como perdi meu irmão.

Abri os olhos e respirei fundo.

─ Estamos chegando. - Lionel avisou.

Peguei a arma e a segurei com domínio.

─ Dessa noite ele não passa. - Murmurei baixinho.

Era uma promessa.

•••

eu n sei se vcs estão prontos pro final...

imoral [noany]Onde histórias criam vida. Descubra agora