capítulo 22

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Any Gabrielly

maratona 4/5

Coloquei um vestido preto de gola alta, pois as marcas das mãos de Josh no meu pescoço não haviam sumido, mesmo depois de algumas camadas de maquiagem.

Eu havia sentido tanto ódio que poderia tê-lo matado, assim ele seria enterrado com o verme do pai dele, mas não era a hora para deixar as emoções falarem mais alto.

Respirei fundo e me encarei no espelho.

Maravilhosa.

Perfeita.

Treinei um sorriso discreto.

Eu precisaria sorrir daquela forma o velório inteiro.

Ninguém poderia saber que por dentro eu estava pulando de felicidade pela morte daquele velho caquético e nojento.

Joshua havia tomado banho e se livrado daquele fedor de bebida, eu havia pedido que preparassem um café bem forte e o fiz tomar tudo antes de ir buscar a mãe maluca dele que mal conseguia andar sozinha.

Eu nunca iria entender que tipo de amor é esse que te deixa tão debilitada. Tipo, o velho já morreu, acabou. Ela tem tanto dinheiro agora... Deveria ser menos exagerada.

Balancei a cabeça afastando os pensamentos.

Eu precisava vestir a roupagem da esposa sofredora que compartilha da dor do amado marido.

Eu tinha que tentar, pelo menos.

Antes de sair, peguei meu celular e um sorriso brotou nos meus lábios quando vi uma mensagem na tela.

Noah.

"Você está bem?"

Respondi que estava ótima, apesar de não acreditar naquilo. Só a imagem de Josh apertando meu pescoço e me ameaçando daquela forma... Um calafrio subia pela minha espinha.

Eu não poderia e não iria deixar que aquele filho da puta me fizesse mal.

Sai do quarto e ergui a cabeça.

Pelo menos eu iria ao velório daquele que foi meu pesadelo por muitos anos.

Se fosse uma competição, eu seria a campeã.

•••

Quando sai da mansão e adentrei o jardim, me deparei com tantas pessoas que sequer imaginava que viriam. Também havia fotógrafos e boa parte da impressa do país.

Aquele velho miserável era um Deus da Arte para eles.

Ah se soubessem...

Mas eu não iria entregar tudo agora. Não era o momento. Tentei andar de forma confiante e costurei no rosto a minha expressão mais sofrida, congelei nos olhos as lágrimas que eu precisava fazer parecer real e segurei junto do meu corpo uma única rosa vermelha.

Algumas pessoas me deram os pêsames e outras me disseram que tudo ficaria bem - é claro que ficaria. Agora ficaria, sem dúvida.

"Foi tão de repente... Imagino sua dor."

"Por favor, conte conosco. Você e Josh merecem e terão todo apoio da nossa família."

"Que pena!"

Respondi a todos com frases curtas e em tom baixo, porém firme.

Eu sabia muito bem como agir nessas circunstâncias e, sinceramente, secretamente sonhei com esse momento.

imoral [noany]Onde histórias criam vida. Descubra agora