capítulo 27

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Any Gabrielly

Era uma sensação esquisita.

Meu corpo parecia dormente, mas minha mente - apesar de confusa - tentava organizar todos os acontecimentos, mas por mais que eu me esforçasse, nada fazia tanto sentido.

Ao longe eu podia ouvir um bip incessante e uma voz masculina que não parava de falar, mas que pouco do que ele dizia me interessava.

─ Ela vai acordar a qualquer momento, por isso a trouxe para o quarto, mas eu já avisei ao marido que ela ainda não pode receber visitas... Aliás, continue verificando a pressão arterial, estava alta. Se continuar aumentando, terei que ministrar alguns remédios. Ela não pode se desestabilizar, não faria bem a nenhum dos dois.

─ Sim Senhor, Doutor.

─ Fique com ela, depois eu volto.

De quem ele estava falando?

Com muito custo consegui passar a língua pelo lábio inferior. Eu sentia uma sede aterradora, mas a minha voz estava quase inexistente. Minha garganta queimava como se houvesse fogo e... Fogo!

Eu lembrava do fogo.

Havia chamas por toda a parte e... Eu não conseguia lembrar direito. Abri os olhos lentamente e voltei a fechá-los, depois abri novamente e dessa vez fitei um teto branco de gesso que não tinha a menor graça e não me fazia entender onde eu estava.

O tal do bip ficou mais insistente e eu virei a cabeça para o lado do som; tentei franzir o cenho, mas meu rosto estava endurecido, eu não saberia explicar.

Voltei a umedecer os lábios e grunhi alguma palavra rezando para que alguém me escutasse.

─ Ah a senhora acordou... - Uma voz gentil soou como música para os meus ouvidos.

Virei a cabeça para o outro lado e vi uma moça de sorriso apaziguador e postura ereta que me fitava com paciência e pena.

─ Seja bem-vinda de volta, Senhora Gabrielly.

Tentei mover os lábios como de costume, mas meus movimentos eram letárgicos e minha voz demorava a aparecer.

Por fim - e com muito custo - pronunciei:

─ O-o que... O-o que acon... Aconteceu?

A moça me encarou por alguns segundos intermináveis como se pensasse se deveria falar ou não, por fim, esboçou uma expressão estranha.

O bip ficou mais forte e minha cabeça doía.

─ A senhora não deve se lembrar, pois está medicada e suas memórias devem estar confusas, mas... - Ela respirou fundo e eu quis voar em seu pescoço, mas não me movi. ─ A senhora escapou com muita sorte de um atentado que sua família sofreu na noite passada. A... A senhora se machucou bastante e tiveram que operá-la de emergência, mas... Mas está tudo bem agora.

Atentado...

Voltei a encarar o teto opaco e forcei meus pensamentos a se ordenarem.

Eu... Eu quase lembrava.

Quase.

Fechei os olhos, mas tudo que eu me lembrava era de ouvir a voz do Urrea e de um barulho maldito de cacos de vidros se estilhaçando... Esse barulho era cada vez mais alto.

─ Eu quero ver o médico. - Consegui falar. - Eu quero sair daqui. Quero sair logo.

Engoli o pouco de saliva que me restava e respirei fundo.

imoral [noany]Onde histórias criam vida. Descubra agora