capítulo 30

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Any Gabrielly

O dia seguinte chegou depressa e só me dei conta que tinha amanhecido quando uma enfermeira e um médico entraram no quarto com uma bandeja de comida. Eu odiava aquelas comidas pálidas.

Me sentei com certa dificuldade e peguei apenas uma gelatina de laranja, sorri para a enfermeira e fingi estar comendo satisfeita, mesmo que por dentro eu estivesse quase enlouquecendo.

Sabina havia me contado que o melhor seria fingir.

Fingir que estava tudo bem e tentar, de alguma forma, segurar as emoções que me dominavam.

Eu podia fazer isso.

Eu só não conseguiria me olhar nunca mais no espelho caso o médico não fizesse a minha cirurgia

─ Peço que a senhora tente entender. Não podemos operá-la enquanto estiver grávida. As neurotoxinas fariam muito mal ao feto e a senhora poderia perdê-lo. - O médico explicou pela décima vez como se eu fosse algum tipo de demente.

Deixei a gelatina de lado.

─ E quanto tempo terei que esperar após o parto? Quantos dias?

─ Bom, nós aconselhamos que seja feito três meses após o fim da amamentação ou seis meses após o parto. Antes disso seria muito arriscado.

Arregalei os olhos e senti meu corpo inteiro se reprimir com a idéia de ter que esperar tanto tempo.

Isso não era justo!

─ É tempo demais, Doutor! Caralho! Isso não deve estar certo, quero a opinião de outro profissional. - Sorri mesmo sem achar graça. - Eu já soube de várias mulheres que fizeram procedimentos estéticos durante a gravidez e continuam vivas. Elas e os bebês.

O médico respirou fundo e cruzou os braços, mas não havia hostilidade em seus atos, apenas cansaço.

─ Entenda, provavelmente se tratava de melasma que são algumas manchas que aparecem por causa das mudanças hormonais. E, devo alertá-la que mesmo sendo o melasma, é indicado esperar um pouco após o parto para tratar com peeling químico, mas só após o parto! Se essas mulheres que você conhece fizeram, se colocaram em risco.

Bufei e virei o rosto para o outro lado.

─ Quero ficar sozinha.

─ Tudo bem, mas eu só vim dizê-la que já está de alta e seu marido está acertando algumas coisas para vir buscá-la. Eu só queria dar uma última olhada nos seus machucados e...

─ Quero ficar sozinha! Por favor!

Houve alguns segundos de silêncio e por fim ouvi passos e por último a porta se fechou.

Uma lágrima e depois outra escorreu pelos meus olhos e molharam a faixa que ainda cobria a pele inflamada do meu rosto feio.

Pus a mão em cima da barriga que ainda era pequena demais para ser notada e grunhi.

─ Você está acabando com a minha vida, Bebê. - Murmurei irritada. ─ Preferia que você fosse um gato. Por que não pode ser um gato bonitinho? Eu não queria ter que passar por tudo isso... - Funguei. ─ Espero que você seja alguém melhor que eu pelo menos, só assim valerá a pena tudo que estou passando por sua causa.
(autora: 🥺)

Voltei a encarar o teto e quis gritar, mas não adiantaria de nada. Eu precisava ligar para Sabina e avisar que tinha recebido alta. Se havia um bom momento para fugir do idiota do meu marido, seria esse.

Me virei apressadamente para pegar uma bolsa que Josh havia trazido com roupas e quando a peguei, procurei pelo celular que ele havia comprado para mim, mas quando o encontrei, ele simplesmente não ligava.

imoral [noany]Onde histórias criam vida. Descubra agora