Macarena
As aulas acabaram passando rápido, e quando notei, já era hora de voltar pra casa. Caminhei até a saída da escola, onde encontrei Zulema e Hierro abraçados, o que me fez revirar os olhos. Parece que vê-los juntos fazia meu coração quebrar em mil pedacinhos.
– Oi, loirinha. —Ele sorri e bagunça meu cabelo, me fazendo murmurar um palavrão. — Tá afim de ir para a casa da Zulema? Mas já aviso que vai ficar de vela.
— Deixa disso, amor. — A morena revira os olhos e lhe dá um tapa no braço. — É brincadeira, Maca. Não vamos te deixar de vela, ok?
— Tudo bem, eu sei que é só uma brincadeira. De qualquer forma, tenho que voltar para a minha casa. Vamos nos falando pelo Whatsapp para combinar o dia para fazer o trabalho. — Lhe dou um pequeno sorriso, apertando a alça da minha mochila.
— Certo. E você vai falar com a Kabila, não vou com a cara dela e sabe disso.
Assenti e me despedi de Zahir com um beijo em sua bochecha, logo acenando para Hierro e caminhando até o ponto de ônibus. Fiquei alguns minutos esperando até que o ônibus finalmente chegou e adentrei o mesmo, indo me sentar no fundão como sempre fazia. Fiz o mesmo ritual de sempre: conectei o fone no celular e os coloquei em meus ouvidos, em seguida selecionando uma música da minha playlist.
I'm a puppet on a string
Tracy Island, time-travelin' diamond cutter-shaped heartaches
Come to find you four in some velvet mornin' years too late
She's a silver linin', lone ranger ridin' through an open space
In my mind, when she's not right there beside me...
Claro, nada melhor do que ouvir Arctic Monkeys. Incrível como qualquer música me faz lembrar de Zulema.
I go crazy 'cause here isn't where I wanna be
And satisfaction feels like a distant memory
And I can't help myself
All I wanna ever say is, "Are you mine?"
Encostei a cabeça na janela e aumentei um pouco o volume da música, sentindo a melodia invadir meus tímpanos sem me importar se estava alta demais.
Well, are you mine?
Are you mine?
Are you mine? Oh, ah...
Me permiti ouvir mais umas duas músicas até chegar em casa. Saí do veículo quando o mesmo estacionou no ponto e caminhei ate minha residência, adentrando a mesma e sendo recebida pela minha mãe com um abraço apertado.
— Como foi a aula hoje, hija? — A mais velha pergunta ainda me mantendo em seus braços.
— Foi boa, fora o trabalho de biologia que meu professor passou. — Digo desanimadamente e bufo, deitando a cabeça em seu peito. — Vou fazer ele com Zulema e Kabila, mas elas não se suportam.
— Vai precisar de muita paciência, meu bem. Nada de brigas, tá bom? Foquem no trabalho. — Ela beija minha testa e volta a sentar no sofá. Na televisão, está passando um programa de compras. Claro, gente mais velha é vidrada nisso e em programas de reforma de casas.
Balancei a cabeça e fui para meu quarto, trancando a porta e me atirando na cama. Fitei o teto por longos segundos para ver se em um passe de mágica eu tinha algum tipo de pico de adrenalina para fazer algo que gostasse. Decidi pegar meu violão pendurado na parede e o ajeitei em meu colo, deslizando meus dedos nas cordas.
— Vejamos... O que eu posso tocar? — Estico o braço e pego meu celular na mochila, abrindo no Google e procurando os acordes da minha música favorita. - Perfeito!
Deixei o celular na minha frente e cocei a garganta, começando a tocar o violão e cantando na batida da música.
— I wanna be your vacuum cleaner, breathing in your dust... I wanna be your Ford Cortina, i will never rust. — Suspiro e pego um pouco de fôlego para voltar a cantar. — If you like your coffee hot, let me be your coffee pot. You call the shots, babe, i just wanna be yours...
Passei o resto da tarde tocando músicas que me lembravam aquela pessoa, até que começou a anoitecer e precisei tomar um banho para depois ir jantar. Saí do banheiro enrolada na toalha e fui para meu quarto. Vesti minha lingerie e uma camiseta que batia em meus joelhos, colocando um short preto por baixo. Calcei meus chinelos e caminhei até a cozinha, sentindo o cheiro de lasanha dominando o cômodo.
— Uau, o cheiro é delicioso. — Comento e minha mãe sorri. — Já está pronta?
— Já, corazón. — A mais velha coloca a lasanha na mesa com ajuda de luvas para não se queimar. Me sento na cadeira e corto um pedaço da lasanha, colocando em meu prato. — Cuidado, está quente.
— Certo, certo. — Dou uma risadinha com sua preocupação e levo um pedaço da lasanha até minha boca, assoprando um pouco antes de comer. — Perfeito como sempre, as comidas que você prepara são ótimas.
— Fico feliz que goste. — Ela suspira, aproximando sua mão da minha e entrelaçando nossos dedos. — Seu pai ligou.
— Mãe...
— Ele quer te ver, Maca. Sabe como ele sente saudades, não sabe?
Não nego que uma parte minha sentia saudades do meu pai, mas a minha parte racional me fazia ignorar esses sentimentos. Desde que ele traiu minha mãe e foi embora de casa, as coisas não foram mais as mesmas. Encarna teve problemas com bebida por quase dois anos e precisou fazer terapia, o modo como ela ficava agressiva com as palavras quando estava embriagada me deixava de coração partido. Quando finalmente estou superando a ausência do meu pai, esse imbecil resolver aparecer.
— Não vou ver ele, fim de papo. — Encho minha boca com um pedaço grande de lasanha para não precisar falar.
— Filha, por favor...Dá uma chance, ele mudou.
— Acha mesmo que vou acreditar nisso? — Dou uma risada curta e nego com a cabeça. — Ele te traiu, mãe. Foi um completo idiota e fez você ir para a terapia! Não vou vê-lo, ok? Acabamos por aqui.
Soltei um suspiro pesado e me levantei da mesa, largando os talheres de modo bruto no prato e indo para meu quarto. Tranquei a porta e me atirei na cama, observando a lua através do vidro da janela. Minha cabeça estava à mil com pouco tempo de conversa, não conseguia aceitar que meu pai ainda era um tópico sensível pra mim.
Peguei meu celular e procurei seu contato. Ela provavelmente deveria estar ocupada, mas precisava da sua companhia mais do que nunca naquele momento.
Você:
Zulema? Tá ocupada?
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Mais uma atualização quentinha para vocês, espero que gostem!! :) ♡
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Girls Like Girls (hiatus!)
FanfictionMacarena Ferreiro e Zulema Zahir são melhores amigas desde a infância; sempre fazem tudo juntas e nunca se desgrudam. Com o passar do tempo a loira percebe que um sentimento estranho cresce dentro do seu peito em relação à Zahir, e quando se dá cont...