capítulo 16

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Macarena

— Maca. Tudo bem? — Sinto minha mãe balançar a mão na frente do meu rosto e pisco algumas vezes. — Filha!

— O que foi!? — Esbravejo e ela se encolhe. — Então era essa a sua visita? Era dele que estava falando?

Não conseguia acreditar. Mesmo depois de ter dito que não queria ver meu pai, Encarna o chama para nossa casa pelas minhas costas. Meu corpo tremia de raiva e a vontade que eu tinha era de gritar com os dois.

— Filha, eu sei que cometi alguns erros, mas-

— Não me chama de filha! — Corto sua fala. — Depois de todos esses anos você ainda tem a coragem de aparecer aqui? Qual a porra do seu problema!?

— Macarena Ferreiro, não fale assim com o seu pai! — Encarna se intromete.

— Eu teria nojo de chamar alguém como ele de pai. — Respondo de modo ríspido e sorrio satisfeita ao ver que minhas palavras o afetaram. — Enquanto ele estiver presente, nessa casa eu não fico.

Dei as costas e caminhei para fora do cômodo, saindo da casa e batendo a porta da frente com força. Sabia que Encarna não viria atrás de mim, ela sabe que preciso de espaço quando estou irritada. Olhei para cima. A lua já estava no céu e as luzes dos postes da rua já se encontravam acesos. O vento era gelado e meu casaco não era quente o suficiente. Me xinguei mentalmente por não ter colocado pelo menos uma blusa de lã para me esquentar.

Nem fazia ideia para onde estava indo, apenas precisava esfriar a cabeça. Poucos carros passavam naquela rua, e havia apenas eu e mais uma pessoa caminhando. Olhei para trás rapidamente e percebi que era um homem de capuz. Meu coração acelerou quando ele andou mais rápido e comecei a correr. Por mais que eu estivesse correndo, parecia que ele estava cada vez mais perto.

—Me deixa em paz! — Grito e olho para trás de novo.

Péssima decisão.

Pisei em falso e caí no asfalto, tentando me levantar em seguida porém falhando miseravelmente. Olhei para o homem de capuz mas não consegui reconhecer seu rosto. Ele se aproximou devagar e enfiou a mão no bolso para pegar algo. Fechei os olhos com força, já sabendo o que iria acontecer.

— Rubia!

Me virei para trás e Zulema correu em minha direção. Olhei para o homem de capuz, mas ele já havia sumido. Provavelmente correu para longe. Levantei de modo desajeitado e senti a morena me apertar em um abraço, fazendo meu corpo inteiro ficar relaxado. Envolvi meus braços em seu pescoço e permiti que algumas lágrimas rolassem pelo meu rosto.

— Tá tudo bem? Ele se machucou. — Zulema se afasta para conferir se está tudo certo comigo e não consigo deixar de sorrir com sua preocupação. — O que foi?

— Senti tanta saudades... — Deixo sair as palavras que estavam me deixando sufocadas há dias. — Você não falava comigo, não respondia minhas mensagens...Tem ideia de como fiquei preocupada?

— Maca, eu te peço mil desculpas. Desculpa por não ter aparecido muito na escola, desculpa por ignorar suas mensagens, desculpa por tudo. — Zulema acaricia meu rosto com as duas mãos e meu coração palpita com o contato. — Agora já está tudo bem, ok? Te prometo, estou bem melhor.

— Obrigada, era tudo o que eu precisava ouvir. — Volto a apertar a morena em um abraço. — Você me salvou daquele maluco.

— O que aconteceu para você estar andando sozinha na rua à essas horas?

Soltei um suspiro pesado e sentei no meio-fio com Zahir, abraçando meus joelhos numa tentativa de me esquentar.

— Meu pai está lá em casa. — Murmuro enquanto brinco com a manga do meu casaco. — Encarna o chamou mesmo depois de eu dizer que não queria ele lá. Minha mãe não entende que o odeio mais que tudo nesse mundo, ela não entende, Zule. — Escondo o rosto em minhas mãos e permito que as lágrimas rolem pelas minhas bochechas avermelhadas. — Eu só quero paz, e ficar bem longe dele...

— Ei, relaxa. — A árabe se aproxima e passa o braço em volta da minha cintura, me puxando para mais perto. — Às vezes temos tanta consideração pelas pessoas que nos machucam, que acabamos as perdoando. Sua mãe tem um coração muito bom e não guarda rancor, tenho certeza que ela perdoou seu pai.

— Mas eu não. — Reviro os olhos. — Não vou ficar em casa enquanto ele estiver lá, sem condições.

— Vem para a minha casa, pelo menos por hoje. — Ela sorri. — Não pode ficar caminhando sozinha na rua para sempre.

— Tudo bem, tudo bem. Espero que sua mãe não se incomode.

— Relaxa.

Zulema se levantou e segurei em sua mão para me levantar também. Ela me olhou com um sorriso alegre nos lábios e isso foi o suficiente para aquecer meu coração.

Senti saudades desse sorriso, senti saudades das nossas mãos se tocando. Ficar com ela era tudo o que eu precisava no momento, apenas isso.

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Peço mil desculpas pelo meu pequeno sumiço :/ mas estou de volta!! Espero que tenham gostado do novo capítulo ♥︎

Girls Like Girls (hiatus!)Onde histórias criam vida. Descubra agora