Macarena
Uma semana.
Já faz uma semana.
Desde aquele dia, não tive muito contato com Zulema. As coisas aconteceram tão rápido e não conversamos direito. Flashbacks dos seus lábios nos meus me assombravam nos últimos dias e não saíam da minha cabeça de modo algum. Eu precisava daquela sensação novamente.
Encarei meu reflexo no espelho; levei quatro pontos na testa e o machucado na minha boca já havia melhorado. Calcei minhas botas e vesti um casaco, estava muito frio na rua. Não estava nem um pouco afim de ir para a escola, então decidi fazer uma caminhada. Tive que explicar toda a situação para minha mãe - tirando a parte do beijo - já que ela achou estranho eu chegar em casa com o rosto machucado.
Zulema tinha faltado à aula quase a semana inteira e isso me deixava muito preocupada. Talvez fosse um choque para ela a maneira como Hierro agiu. Ela nunca deixou ninguém aumentar o tom de voz durante uma discussão, porém Zahir parecia tão frágil naquele momento. Minha vontade era de protegê-la.
- Está linda, hija. - Encarna diz segundos após se encostar no batente da minha porta. - Tem notícias da Zule?
- Não... - Digo em um tom derrotado. - Ela não responde às minhas mensagens e nem ligações.
Para comprovar, peguei meu celular e mostrei as últimas mensagens que enviei para a árabe.
Você:
Hey, só queria saber como você está...
Imagino que não esteja afim de conversar, né?
Tudo bem, vou te dar espaço.
Se precisar de algo, pode sempre contar comigo. Não quero que passe por isso sozinha.
E sinto muito pela forma que Hierro te tratou...Ele é um babaca e não te merece.
Se cuida :(
- Vocês sempre tiveram uma ligação muito forte, desde pequenininhas. - Minha mãe sorri e vem até mim, me apertando em um abraço. - Zulema só precisa de um pouco de espaço, garanto que logo ela irá te responder.
- Obrigada, mãe. - Suspiro e seco rapidamente uma lágrima que rola pelo meu rosto. - Vou caminhar um pouco, preciso pensar.
- Certo, não demore muito. - Ela beija minha testa. - Vou receber uma visita hoje à noite, queria te avisar o quanto antes.
- Quem é?
- Ah... - Encarna parece recuar e eu ergo a sobrancelha. - Um antigo amigo. Enfim, vai lá. Precisa esvaziar a cabeça.
Não consigo responder, já que Encarna saiu do quarto rapidamente. Estranhei seu comportamento mas deixei pra lá. Guardei o celular no bolso do casaco e peguei um pouco de dinheiro, logo depois saindo de casa. Coloquei os fones em meus ouvidos e dei play em uma música qualquer.
I didn't wanna fall but then I stepped right in
I looked up at your face and those eyes they drew me in
It was too late for me
And that's what we were, a simple cliché
It wasn't made to work, but I wouldn't have it any other way
Any other way...
Minha playlist só podia estar zoando com a minha cara.
Tirei os fones de modo bruto e guardei no bolso do casaco, caminhando mais rápido. Estava um vento frio na rua e eu precisava me esquentar. Caminhei até chegar na pequena praça do centro e logo me sentei em um dos bancos que estavam vagos. Podia ver algumas famílias brincando com seus filhos e alguns adolescentes conversando em um canto do local. Uma súbita onda de solidão tomou conta de mim e me peguei desejando que Zulema estivesse comigo. Estaríamos nos balanços ou correndo atrás uma da outra até tropeçarmos e cairmos na areia.
Eu entendia que a árabe precisava de um tempo, mas confesso que fiquei chateada por ela não ter me chamado para conversar sobre tudo o que rolou. E se o nosso beijo ter sido apenas algo no calor do momento? Talvez não tenha significado nada para Zulema, ela pode ter me beijado porque estava eufórica. Mas uma parte minha queria acreditar que ela fez aquilo porque me correspondia.
Quanta bobagem.
Peguei o celular em meu bolso e desbloqueei. Apenas duas notificações de Kabila, mas nada dela. Kabila já estava há um bom tempo atrás de mim para se desculpar pelo ocorrido no baile, mas eu realmente não queria contato com ela no momento.
- Merda. - Murmuro para mim mesma, afundando as mãos nos bolsos da calça e soltando um suspiro pesado. Olho em volta na esperança de que Zulema apareça. Sou tão patética. - Que estupidez, ela quase nunca vem aqui.
Fiquei um tempo sozinha na praça até que o sol começou a se pôr. Me levantei do banco e voltei a caminhar. Quando cheguei em casa, parei na porta na frente, pensando se entrava ou não. Precisava ficar em um lugar que não tivesse mais ninguém, porém eu não tinha para onde ir. Balancei a cabeça e entrei em casa. Ouvi algumas vozes abafadas vindo da cozinha e segui o som, adentrando o cômodo.
- Olha quem está aqui! - Minha mãe exclama e aponta para mim. - Surpresa, filha!
O homem parado de frente para Encarna se virou para mim e paralisei totalmente. Meu estômago estava revirando e sentia que poderia vomitar a qualquer momento. Nunca imaginei ver de novo o homem que quase fez a minha mãe acabar com a própria vida.
- Oi, minha loirinha. - Ele abre a boca e sua voz me causa náuseas. - É bom te ver.
- Pai?
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Oi, gente linda! Feliz mês do orgulho lgbtq+ :)) vocês são totalmente válidos e merecem todo o amor do mundo ♡
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Girls Like Girls (hiatus!)
FanfictionMacarena Ferreiro e Zulema Zahir são melhores amigas desde a infância; sempre fazem tudo juntas e nunca se desgrudam. Com o passar do tempo a loira percebe que um sentimento estranho cresce dentro do seu peito em relação à Zahir, e quando se dá cont...