CAPÍTULO QUINZE.

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Não, não estou bem, se perguntarem de mim, diga que estou, não diga a verdade, não conta que estou morrendo aos poucos.

Emy tinha se aproximado de mim nas últimas semanas, ela dizia que Sebastian não gostava de tocar no assunto e que quando perguntavam de mim ele se transformava em uma pessoa arrogante. Disse também que sempre que a via perguntava de mim, perguntava como estava meu novo tratamento com o meu novo terapeuta e a resposta de Emy era sempre "ela está cada dia melhor" "ela está ótima" "nunca a vi tão bem", mas era mentira. Sebastian havia saído com duas meninas depois que terminamos, mas não resultava em nada, segundo Emy, era apenas sexo casual, depois de extravasar ele sempre voltava ao meu nome. No fundo, eu sentia tanta falta de Sebastian quanto ele provavelmente sentia de mim, mas nossas vidas estavam começando a tomar rumos diferentes.

Ele finalmente tinha se formado e começado sua pós graduação, sua especialização em psiquiatria era muito bem reconhecida, sem que nossa história fosse citada, é claro. Se Seattle soubesse que a ex namorada dele era sua antiga paciente e que a primeira vez que tínhamos transado tivesse sido depois de um surto meu, seu currículo seria corrompido e sua reputação ido pro buraco.

Já no meu caso, retomei meus estudos, estava na terceira semana de Direito. A ideia de ser uma aluna novamente bagunçava minha cabeça, mas eu estava gostando, principalmente do grupo de estudos toda quinta feira à noite. Eu tinha no meu grupo alguns colegas que estavam se tornando próximos de mim, tinha ido a minha primeira festa sozinha no último sábado, bebido algumas doses e beijado Tyler, um estudante de Medicina da minha faculdade, alto, moreno, sem tatuagens, sua única marca de estilo era um piercing preto na orelha. Não me pergunte como eu atraio médicos na minha vida, eu não saberia responder, mas gostava desse poder involuntário. Nós dois não tínhamos nada sério, mas ele insistia em me levar e buscar em casa todo fim de aula, comprava doses e deixava em meu armário, tinha me apelidado de "Lê" e eu estava realmente caidinha pelos mimos dele. Ainda não tinha transado com ele, mas sua insistência indireta quando nos beijávamos me deixava um pouco incomodada, portanto, a maior parte do tempo eu fugia da ideia de ficar completamente sozinha com ele.

- Tá, castanho claro ou escuro? - Pergunta Catarina.

Catarina era também minha colega de grupo, nos conhecemos a tão pouco tempo mas parece que já fazem anos, ela tinha longos cabelos castanhos escuros e mexas descoloridas na nuca, se vestia como uma adolescente dos anos 2000, ouvia bandas antigas e tinha um piercing no lábio.

- O que está aprontando Catarina? - Digo sem tirar os olhos do meu livro, sentada na mesa da cantina da faculdade comendo um mousse de maracujá.

- Eu cansei dessa mesma cara sua, vamos escurecer esse cabelo, vamos.

Catarina alisa minhas mexas loiras soltas por cima de minha camiseta branca dos Beatles.

- Catarina, não inventa.

- Ah, para! Você vai ficar ainda mais sexy.

- Não quero ser sexy.

- Azar o seu, você está falando diretamente com a mulher mais estilosa desse lugar. - Catarina aponta para si mesma e joga seu cabelo que estava no ombro para trás, se exibindo. Dou risada.

- Você é maluca.

- Já falou com o bonitão hoje?

- Ah, não... Estou muito entretida com o meu livro.

- É sobre o que? Pessoas em graça pra combinar com seu estado de espírito?

Dou um empurrão leve em Catarina enquanto ríamos.

- Na verdade é sobre um casal de amigos que se jogam em uma super aventura atrás de um segredo familiar.

- Puta merda, qual o seu problema?

Caímos na risada.

- A gente podia ir em algum barzinho hoje a noite, o que acha?

Catarina tira uma maça do bolso de sua jaqueta jeans e assopra a mesma, dando uma mordida em seguida.

- Preciso terminar o trabalho de penal antes que seja tarde demais.

- NÃO! - Catarina grita com a boca cheia de maça e me olha com reprovação. - Você não sabe mesmo aproveitar a faculdade, esse tipo de trabalho a gente só deixa pra fazer na última hora, droga Lea, eu tenho que te ensinar tudo?

Suspiro fundo sem tirar o olhar do meu livro.

- Vou fingir que não estou escutando o capetinha falar aqui do meu lado.

- Lea, cerveja gelada, baratinha, deixa de ser mole.

- Eu tenho medicamento sua maluca, não posso beber.

Catarina cai na risada e eu a acompanho.

- Diz isso pra gostosona que estava dançando em cima da mesa de sinuca sábado passado.

- Mesa de sinuca? Eu nem sei o que é isso.

Rimos.

- Passo na sua casa às 21h, é bom estar pronta. Se não eu desço e fico te pentelhando até você ficar bem afim de ir comigo.

85 ∂ıαs cσм ѵσcє. Onde histórias criam vida. Descubra agora