capítulo 7

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A primeira coisa que reparei ao me deparar com a entrada do imenso salão onde a cerimônia aconteceria, foi a grande quantidade de pessoas. Quase todos os nobres dos haviam sido convidados para a festividade, todos estupidamente reunidos no salão como formigas em um formigueiro, amontoados para terem o privilégio de assistirem o casamento de seus futuros monarcas. Havia mais de uma centena de pessoas ali, todos ansiosos para assitir o que seria o casamento do século.

A percepção disso fez um gosto amargo se infiltrar na minha boca, tão potente quanto um soco no estômago.

Eu já tenho problemas o suficiente nos ombros, ficar pensando sobre isso apenas irá aumentar a pressão esmagadora no meu peito.

Forcei meu corpo a permanecer altivo, com a postura imprevisível e o queixo erguido, fazendo um esforço tremendo para não tremer diante da plateia.

Bastardos excêntricos, era isso que toda a realeza era, incluindo eu. Por que não fazer uma cerimônia privada apenas para a família? Ao invés disso, fizeram uma festa com mais de 500 pessoas, todas me olhando atentamente, preparadas para julgar qualquer mísero erro que eu cometesse, por mais insignificante que fosse. Tudo isso para se mostrarem superiores, mesmo com as circunstâncias horríveis que moveu essa união.

Era a porra de uma guerra, e todos ali pareciam agir como se luxos extravagantes e desnecessários fossem a maior prioridade do país.

Respirar era uma tarefa difícil nessa roupa pesada e apertada, que contraia meus pulmões até o limite, apertando minha garganta e pinicando todo meu corpo. Tenho certeza que o propósito dessa fantasia ridícula de palhaça era apenas dificultar minha vida, por que essa merda estava tornando ainda mais difícil de conter o monstro vermelho da ira que rugia dentro de mim.

Andei em passos lentos pelo caminho que me levaria até o altar, completamente ciente dos olhares fixos nas minhas costas, como predadores marcando a presa para o abate. O grande corredor de pessoas estava de pé, todos elegantemente vestidos para o evento, completamente inertes e entretidos com o evento.

Minhas damas andavam em meu encalço, transmitindo confiança e conforto atrás de mim. De certa forma, era reconfortante ter um pedaço da minha terra comigo nesse dia, uma parte do meu povo, por quem eu estava verdadeiramente fazendo isso. Era tudo por eles, eu precisei lembrar à mim mesma. Todo esse sacrifício valeria a pena, afinal.

O colar de chamas que insisti em usar para essa ocasião pesava no meu peito, me lembrando de quem eu era e de onde vim. Isso não era algo que poderia ser tirado de mim, a minha identidade era algo meu, que ninguém jamais iria conseguir domar. Essa era a primeira vez que eu ousava usar o colar desde que minha mãe o entregou para mim, com receio de que poderia perder aquela que é a jóia mais especial que já tive. Mas hoje eu precisava dela, necessitava do conforto e segurança que ela me passava.

Sebastian estava esperando por mim no altar, com o rei a a rainha de Rosália poucos passos atrás do príncipe. Ele estava lindo, vestindo um traje cerimonial tradicional verde, com uma enorme coroa cravejada das mesmas pedras que foram usadas no meu vestido, parecendo quase tão ridículo quanto eu. A postura dele estava seria, tão altiva quanto a do pai, parecendo mais um homem que estava prestes a ir para a guerra do que um que estava para se casar. Se alguém de fora estivesse olhando, tenho certeza que achariam que meu noivo estava a caminho da sua execução em praça pública, tão indiferente e exalando frustração como estava.

Eu teria rido disso, se meu humor não estivesse tão azedo quanto o do meu noivo.

Quando cheguei ao final do longo corredor, Sebastian veio ao meu encontro, me oferecendo seu braço em um gesto educado e polido, seu toque contido e artificial. Ele me ajudou a subir as longas escadas até o altar cerimonial, me guiando até a sacerdotisa que nos uniria para o resto de nossas vidas miseráveis.

herdeira de fogoOnde histórias criam vida. Descubra agora