capítulo 13

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Duas semanas. Hoje fazem exatas duas semanas que estou encarcerada nesse maldito quarto. Sem poder fazer nada além de ler e andar em círculos, entediada e nervosa até os ossos.

Eu me sentia como um pássaro preso em uma gaiola de ouro, confinada por entre paredes luxuosas e ornamentos pomposos.

Não tive mais nenhuma explosão súbita de nenhum poder desconhecido, nem mais nenhuma crise por causa das vozes, o que me assustava muito mais do que se elas estivessem se manifestando. O silêncio era mais assustador, potente. Era como a calmaria antes de um tsunami, um momento de tranquilidade condenado, um prelúdio do caos. Você jamais sabe a catástrofe eminente que a tranquilidade carrega consigo até se deparar com ela, impiedosa e preparada para te devorar por completo.

Não recebi nenhum tipo de visita inconveniente durante todo esse tempo, meus dias sendo preenchidos apenas por tédio e ócio.

Pela Deusa, isso é como um inferno. Uma agonia crescente que cresce cada vez mais rápido no meu peito.

Duas semanas inteiras de reclusão neste cômodo me levaram aos limites da minha mente, o pessimismo tomando conta de casa célula do meu corpo.

Eu não faço a mínima ideia do que porquê estou presa nesse maldito lugar, nem o que esperam de mim. Céus, ninguém nem sequer me disse uma palavra dos cumprimentos amedrontados que recebo da criada que é obrigada a me servir em todas as refeições, sempre acompanhada por guardas carrancudos e musculosos, que grosseiramente ignoram minhas perguntas todas as vezes em que tento arranjar algumas respostas.

A realidade parece não ter me atingindo com força total ainda, as informações que tenho ainda não complemente absorvidas pela minha mente confusa. A existência de deuses, feiticeiras e do próprio submundo não são coisas fáceis de se assimilar.

Sempre pensei em nossos deuses como algo inatingível, fora do alcance dos meus olhos humanos e inferiores. Mas aqui estou eu, cativa do próprio deus da morte, no próprio submundo.

Tentei escapar desse quarto mais vezes que sou capaz de contar nos dedos, mas foram todas tentativas frustadas. O lugar está selado com magia, bloqueando complemente minha saída, coisa que descobri ao tentar me atirar pela janela que parti em pedaços com uma cadeira.

Sentada nas bordas da cama de dossel, eu balanço meus pés de forma incessante, minha figura um retrato fiel da impaciência enquanto luto para manter o foco no livro aberto no meu colo. Pelo menos eles deixaram livros nesse maldito quarto, ou não sei o que eu faria para passar o tempo durante as semanas que permaneci aqui.

Um suspiro frustado deixa meus lábios, um grito suprimido ardendo na minha garganta de raiva enquanto me controlo para não jogar o livro contra a parede.

"Rainhas não perdem o controle, Amberly", era isso o que a mamãe costumava me dizer. Rainhas não perdem o controle, mesmo quando não há ninguém para presenciar.

Encaro fixamente o relógio ornamentado de pedras na minha cabeceira, observando o tempo passar diante dos meus olhos. Ainda faltam três horas para o jantar, atualmente o momento menos maçante do meu dia, atrás apenas de quando estou dormindo.

Céus, sentar e esperar pela comida como um cachorro se tornou a minha maldita rotina. A percepção  disso deixa um gosto amargo na minha língua, meu orgulho se revirando de desgosto dentro de mim.

Um murmúrio de lamentação escapa por entre os meus lábios, meu rosto se contorcendo discretamente de descontentamento. Pela Deusa, os dias tem sido tão longos.

Quando os ponteiros do relógio em cima da cabeceira marcam nove horas em ponto, a porta do quarto se abre, revelando a figura cabisbaixa e recatada da criada responsável por minhas refeições, acompanhada pelo habitual guarda alto e mal humorado que sempre aparece junto dela.

Era verdadeiramente cômico o receio que eles tinham de mim, considerando que eu era a humana ignorante, confusa e prisioneira aqui.

A jovem apenas deixa a bandeja em cima da mesa no centro do quarto, seu olhar fixado no chão como se sua vida dependesse disso termina de servir a mesa.

Mantenho meu foco no livro esticado no meu colo, passando por cima das palavras em muita atenção enquanto espero ela terminar o seu trabalho para poder voltar para a minha vida tediosa e maçante.

Quando por fim o som de pratos e talheres cessa, olho para a garota pela minha visão periférica, meus olhos seguindo seu caminho até a porta. A jovem para os seus passos no batente da porta, seu olhar se encontrando com o meu por alguns curtos segundos, receosos como se estivessem reunindo coragem.

- Vossa Alteza foi convocada por sua Majestade para a sala do trono. Esteja pronta amanhã às sete, nosso rei estará esperando. - Ela disse com a voz baixa e melodiosa, antes de sair às pressas do quarto e fechar a porta atrás de si.

herdeira de fogoOnde histórias criam vida. Descubra agora