prólogo

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Mais um dia. Menos um dia.
Agora faltam apenas alguns minutos até que eu complete dezoito anos.

Alguns minutos até que eu suba ao trono e coloque a coroa, que outrora pertenceu a meu pai, e antes dele ao meu avô.

Alguns minutos até que eu herde meu reino em pedaços.

Mal acabei de acordar e esse é o primeiro pensamento que vem a mente.

Egoísta? Talvez, mas é a verdade. Ou pelo menos a minha versão dela.

Com cuidado desci da cama e caminhei até a janela do meu quarto, deixando o ar frio da noite preencher meus pulmões.
Me sentei no parapeito da janela e olhei para o céu, permitindo que uma lágrima silenciosa descesse pela minha bochecha.

A Lua cheia brilhava intensamente em toda sua glória, cercada por estrelas cintilantes que piscavam ao seu redor, me proporcionando um breve alívio ao pensar que depois de tudo isso eu ainda poderia ver a beleza do mundo.

Fechei forte os olhos para evitar que mais lágrimas escapassem e suspirei, tentando em vão expulsar qualquer vestígio de esperança que poderia guardar no peito.

Tentei não pensar no futuro, não pensar no dia de amanhã, na responsabilidade que cairia sobre meus ombros... Mas isso é quase impossível.

Não deveria ser tão difícil. Fui declarada a herdeira do trono de Lores aos seis anos de idade, quando meu irmão mais velho morreu.

Eu deveria estar preparada pra assumir minha responsabilidade a essa altura.
Mas não me sentia nenhum um pouco pronta para o que viria.

Quando abri de volta os olhos, a Lua e as estrelas pareciam me encarar, me consolando de certa forma. Elas seriam as únicas testemunhas da minha tristeza, as únicas que sabiam das minhas inseguranças, e eu sabia que meu segredo estaria seguro com elas.

Com os olhos brilhantes pelas lágrimas recentes, eu as olhei de volta e implorei ao céu por uma forma de sair disso tudo, por uma forma de salvar meu país, e ao terminar meu pedido silencioso, os primeiros flocos de neve começaram a cair, manchando o mundo de branco, a cor da esperança, do recomeço.

A queda da neve marca o início do inverno; a estação fria e morta presente em todos os meus pesadelos. Mas hoje, ela marca o fim de uma vida e o início de outra, a morte de mil sonhos e o início de uma lenda.
O começo do meu reinado.

Com o coração acelerado, olhei o relógio de parede em cima da minha cama e abri um sorriso triste ao ver que já era meia noite, o que significa que a partir de agora tenho dezoito anos, em breve uma rainha.

Soltei outro suspiro e peguei o pequeno caderno que mantenho escondido debaixo do parapeito, e página por página, eu passei a madrugada o preenchendo com a minha história. Os relatos de uma princesa tola e cheia de esperanças, que contra todos os costumes e regras da realeza, foi coroada. Uma história triste e trágica de uma rainha que estava disposta a fazer o impossível para salvar seu povo. Mas principalmente, aquelas palavras contavam a trajetória da vida de uma pessoa, da minha vida, a história da garota de cabelos castanhos avermelhados que sonhava com algo que nunca teria: paz.

Aquela era a história da vida de uma menina. Era uma história que nunca seria ouvida, que nunca seria contada, e que seria esquecida junto comigo. Porquê ninguém vai se lembrar de mim, da pessoa que eu fui, mas eles vão vão se lembrar do eu fiz, do que eu tive. Eles vão lembrar da rainha de ferro, mas não da princesa assustada.

E esse seria o meu legado.
Eu não serei lembrada como uma tola manipulável, eu serei aquela que conduzirá o meu império para a glória, custe o que custar.

herdeira de fogoOnde histórias criam vida. Descubra agora