capítulo 8

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Morte. Morte. Morte.

Isso é tudo que ecoava na minha cabeça enquanto eu caia por entre o solo, a gravidade sendo completamente descartada enquanto meu corpo inerte mergulhava cada vez mais fundo na escuridão.

Uma força desconhecida se agarrava a mim como um demônio, contendo meus gritos e protestos frustrados, me mantendo presa contra si. O desconhecido tomou conta de cada fibra do meu ser, me mantendo imóvel com ondas invisíveis e potentes de dominância.

Em meio ao meu tormento e desespero, perdi completamente a noção de quanto tempo havia se passado nessa queda interminável. Minutos, horas, anos. Décadas inteiras da minha vida poderiam ter se passado nesse pesadelo perturbador.

O anjo da morte não diminuía o seu aperto em nenhum momento, me segurando firme em seu aperto a cada longo segundo, constante em resistir à minha resistência enquanto caiamos.

A pressão da queda estava cobrando o seu preço no meu organismo, fazendo minha cabeça pesar como se estivesse sendo comprimida enquanto o ar faltava nos meus pulmões e minha barriga embrulhava, o vômito preparado para subir pelas paredes do meu estômago e forçar seu caminho pela minha garanta a qualquer momento.

Meus olhos buscavam incessantemente algo para tentar manter o foco, mas tudo que eu conseguia enxergar eram borrões rápidos e bruscos em meio a escuridão, incapaz de conseguir ver nada além de sombras sem sentido por onde passava.

Quando pensei não ser mais capaz de suportar aquilo, o aperto de repente se intensificou, prendendo todo o ar no meu peito enquanto minha mente confusa tentava lutar contra a investida. O medo comprimia as paredes da minha mente cada vez mais forte, impedindo que qualquer pensamento coerente pudesse ser formado, fazendo coração bater em um ritmo cada vez mais rápido e descompassado, em um nível tão alto que meu peito podia explodir naquele momento.

Quando atingimos o solo, foi como se milhares de estrelas explodissem de uma só vez, o som dos nossos corpos batendo contra o chão alto e potente, fazendo a dor irradiar por cada fibra do meu ser, estralando os meu ossos e derramando sangue. A surpresa corria por minhas veias, meus olhos arregalados com o momento, a adrenalina bombeando seu caminho pela minha cabeça.

A cena como se dois mundos estivessem colidindo um contra o outro, pintando minha visão com o mais puro caos e desordem. A cena que se desenrolava era trágica, melancólica, bonita de uma maneira triste e abstrata.

A sombra finalmente havia me liberado de seu aperto dominante, mas eu me encontrava em um estado de choque forte demais para emitir qualquer reação. Eu me sentia fraca, inconsistente. Apenas cedi para a dor que me rodeava, minha cabeça girando violentamente enquanto minha lucidez ia pouco a pouco se desfazendo, as sombras e a incerteza tomando o seu lugar enquanto a inconsciência se assentava nas partes mais íntimas do meu cerne, o sono me reivindicando para si.

[ ... ]

Meus olhos se abrirem devagar na penumbra, tentando se acostumarem com o ambiente escuro que me cercava, iluminado apenas por apenas pelo tremular brando de uma ladeira. Minha cabeça doía, e meu corpo estava exausto como se eu tivesse atravessado todo o continente correndo, indo de ponta a ponta das terras em formato de lua crescente com nada além dos pés descalços e doloridos.

Me sentando na cama larga e macia de maneira desajeitada, olhei ao redor do ambiente mal iluminado que me cercava, captando detalhes desde as paredes elegantes até os lençóis macios e de altíssima qualidade que cobriam a cama monstruosa. Um lustre apagado pendia no centro do quarto, grande o bastante para esmagar alguém no caso de uma queda, com pedras preciosas que brilhavam de maneira fraca no alto, iluminadas pelas chamas discretas que vinham da lareira.

herdeira de fogoOnde histórias criam vida. Descubra agora