capítulo 3

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Fui pessoalmente recebida pela família real ao chegar ao palácio. Eles me aguardavam em uma recepção luxuosa, cercados por sua corte de mais alto escalão. Haviam flores por todos os lugares que eu olhava, embelezando o enorme edifício e perfumando o ambiente com os mais diversos cheiros florais.

Fui guiada por um imenso tapete dourado que cobria todo o jardim principal, com um corredor de nobres atirando pétalas vermelhas em mim e em minhas damas de companhia conforme eu passava. Ao final do percurso, estava apenas o rei e a rainha de Rosália. A rainha Sáfira era uma mulher pequena e roliça, com traços delicados e acolhedores. Já o rei Mitros era um homem alto e robusto, de aparência fria e desagradável aos olhos.

Meu noivo não estava presente, assim como seus irmãos. Seria rude para padrões de Rosália que uma jovem solteira fosse recebida por um homem não casado, mesmo que este seja o seu noivo e ela seja uma rainha.

Fiz uma reverência quando cheguei ao final do grande corredor de pessoas, olhando de cabeça de erguida para os monarcas que me encaravam.

- Majestades. - Eu disse numa tentativa de soar firme, oferendo-lhes um pequeno sorriso.

Eles retribuíram o gesto, se curvando para mim em sinal de respeito.

- É um prazer finalmente conhecê-la, Rainha Amberly. - Sáfira disse com um largo sorriso desenhado em seus lábios.

- O prazer é todo meu, Majestade. - Respondi, fazendo o meu melhor para a ansiedade agonizante que sentia não transparece em minha voz.

- Rosália recebe com orgulho sua futura rainha. Que sua união com nosso filho seja abençoada pelas mãos da Grande Deusa Mãe. - O monarca falou com seu rosto sério, me avaliando com seu olhar estóico e indiferente.

- Muito obrigada, Majestade. Que nossas Deusas atendam às suas preces. - Proferi em resposta.

Todos os reinos humanos compartilhavam das mesmas crenças e deuses, com apenas algumas diferenças em suas formas de culto. Rosália é um país extremamente religioso e com fortes raízes tradicionalistas, cultuando apenas a tríade de Deusas de luz principais de nosso panteão. Já Lores é menos rigoroso em suas formas de culto e tradições, cultuando não apenas figuras femininas, e sim todos os deuses que pudessem prover prosperidade, com excessão dos deuses de escuridão. Essa era a principal diferença entre nossos povos, o que fazia com que Rosália tivesse uma imagem de nós como selvagens e sem nenhum princípio moral, que era
cuidadosamente disfarçada em um preconceito velado.

[ ... ]

Depois da recepção, eu e minhas damas fomos guiadas até nossos aposentos pessoais após um longo tour pelos principais lugares do palácio. Havia um luxuoso salão que dava acesso aos nossos quartos, com o meu posicionado exatamente no centro dos outros, de forma que poderíamos facilmente transitar entre os cômodos. Tudo era exageradamente decorado, com grandes arranjos de flores cobrindo quase todas as superfícies dos móveis brancos com detalhes em ouro. Minha cama de dossel tinha tamanho suficiente para que coubessem sete pessoas confortavelmente, com imensos travesseiros de pena e lençóis elegantes cobertos por delicados bordados florais.

Assim que fui deixada a sós, me joguei na cama e dormi pelo que pareceram horas. Meu corpo estava exausto e dolorido da viajem. Minhas pernas estavam doendo pelo longo tempo que passei sentada e minha cabeça latejava incessantemente.
Eu precisaria de um pouco de repouso até estar disposta o suficiente para o jantar de hoje.

Rosália era quente como o inferno. Ali fazia muito mais calor do que eu já senti em toda a minha vida, fazendo com que eu não conseguisse cair em um sono profundo. Era simplesmente impossível conseguir descansar direito com a sensação constante de que se estava dentro de um forno.

herdeira de fogoOnde histórias criam vida. Descubra agora