camellia japonica

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E me disse: "Que fortuna ou que destino

Antes da morte conduziu-lhe aqui?

E quem é esse que lhe mostra o caminho?"

DANTE ALIGHIERI, Inferno, Canto XV.


Franzindo o cenho, Jisung guardou o arco na aljava em suas costas e desceu ao solo com leveza, arrumando as penas das asas de modo que elas não se arrastassem na grama.

Se aproximou com calma dos degraus para o coreto nos quais Jimin se sentara e, agachando-se em frente à criança, primeiro lhe bateu com a ponta do dedo no narizinho de botão para que sorrisse e só depois sentou-se à sua frente, lhe afastando os cabelos da testa ao penteá-los para trás.

Perturbava-lhe a expressão de angústia naquele rosto, mas mais que isso lhe era um tanto incômodo ver no tornozelo dele o fio vermelho atado.

O pai de Jisung, Yoongi, só costumava intervir quando julgava que o arranjo deveria ser feito, mas Jimin era ainda tão jovem em sua existência eterna que aquilo quase soava como uma depravação.

— O que lhe está machucando, gotinha de orvalho? — perguntou ao menino quando Jimin inclinou o rosto para deitá-lo contra sua palma, Jisung lhe fazendo um carinho na bochecha farta.

— Tive pesadelos — o deus das Flores contou, corpo diminuto involuntariamente se encolhendo, feições transtornadas. — Havia tanto sangue, Jisung.

O deus do Amor não teve tempo de lhe responder, contudo. Porque a linha presa em torno de Jimin tornou-se escarlate. Porque Jisung sabia agora o motivo dele estar triste ainda que a própria criança o ignorasse.

Linhas impregnadas com sangue só se tornavam ainda mais rubras quando era tempo de Jisung trespassar corações com suas setas.

— Irei buscar chá — o deus do Amor mentiu para Jimin. — Promete enquanto isso tecer uma coroa de flores para mim e então tentar se concentrar no aroma delas?

— Prometo — a criança erroneamente aquiesceu, forçando-se a demonstrar certo controle e sorrindo com o canto da boca.

Dialosia | jjk + pjmOnde histórias criam vida. Descubra agora