mandragora officinarum

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A morte é pouco mais do que o amargo;

Mas para tratar do bem, lá encontrado,

Falarei sobre outras coisas que vi.

DANTE ALIGHIERI, Inferno, Canto I.


Não tardou para Jimin compreender que o Érebo era um mundo à parte em muitos mais detalhes do que anteviu. Ia além da ausência de um domo celeste como o da superfície, ali substituído por cristais luminosos engastados em calcário. Além da comida com gosto diferente, sabores realçados e picantes. Defumados.

Havia odores que ele nunca antes experimentara e a luz era advinda de gemas como as que estavam no égide do Submundo. Alguns desses cristais menores tinham sido espalhados pelo piso do palácio, como substitutos de velas. Ele poderia recolher uma delas do chão para experimentar a sensação estranha de calor que emanavam, contrastando com todo o ambiente glacial ao seu redor. Era possível até que usasse uma delas para iluminar ambientes soturnos, embora tivesse notado que mesmo os quartos em absoluto desuso continham seus próprios conjuntos de cristais.

A passagem de tempo ali ainda era algo a que não se habituara. Como não havia Sol ou Lua para ditar as horas, ele logo percebera que a intensidade com a qual os cristais sob o domo reluziam variava em determinados momentos, embora nunca tivesse passado por um período de escuridão total como havia na superfície em dia de Lua Nova.

No entanto, sensações estranhas à parte, ele notara com um certo descrédito que mesmo a temperatura inexplicavelmente gélida daquele lugar não lhe causava o desconforto que sentia lá em cima. Como quando estava muito próximo de sua irmã ou chegava a época do ano em que os poderes de Jeongyeom alcançavam seu ápice.

Era contumaz para Jimin retrair-se no Inverno, um acometimento de algo parecido com adoentar-se. Corpo fraco, movimentos um tanto letárgicos. Ali naquele mundo não.

Imediatamente se sentiu mal, sua consciência pesando, uma sensação de culpa por estar encontrando coisas positivas naquele lugar em contraponto com a convivência junto à Dama do Inverno.

Por pensar nela, não pôde deixar de lembrar-se que a última criatura na qual pôs seus olhos antes de ir para o Submundo fora Jeongyeom. Tinha a impressão de que sua irmã testemunhara tudo e estava considerando que ela avisara seu pai sobre o ocorrido.

Não duvidou do rei dos Mortos quando este lhe dissera que a partir de então seu lar era ali, mas não conseguia imaginar o deus do Cultivo aceitando aquela imposição de bom grado.

Jimin tinha certeza de que o pai faria algo. Talvez entrar em contenda contra o próprio irmão?

Lembrou-se de que Jungkook admitira ser irmão de seus dois pais, mas então por que Changbin nunca lhe dissera nada sobre a existência dele ou mesmo de Minho?

Aproximando-se mais de um dos vitrais, tentou discernir os traços do que havia lá fora. Até então não lhe fora permitido sair de dentro do castelo, com suas paredes de basalto e janelas impossíveis de abrir, cada uma delas com composições em vidro colorido que ilustravam talvez pontos diferentes do Érebo.

Era provável que já tivesse memorizado cada uma, suas favoritas sendo aquele vitral em seu quarto, com o jardim de romãs, e um outro que havia na biblioteca e ilustrava um palácio diverso, construído em mármore e adornado por papoulas vermelhas que brotavam ao seu redor, junto a um rio leitoso, e se enredavam pelas portas e as pilastras de sustentação do arco de entrada, subindo até as torres. Era um conjunto vítreo imerso em bruma e que em parte lhe fazia recordar do sonho confuso que tivera com Jungkook há alguns dias antes de descobrir-se tão ávido pelo sangue dele.

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