jasminum polyanthum

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E os olhos quietos eu girava.

Ergui-me e olhei com firmeza

Para reconhecer o lugar onde estava.

DANTE ALIGHIERI, Inferno, Canto IV.


Sentindo algo tão próximo de pétalas de flores contra a têmpora, Jimin abriu seus olhos.

Piscou por alguns instantes, sua mente ainda saindo do estado de inconsciência e procurando orientar-se quanto à sua realidade.

Minutos se passaram até que o jovem deus tomou nota de onde estava, as últimas cenas dos momentos vividos antes de adormecer lhe tomando os sentidos.

Não estava mais em casa. Não mais sentia o calor da luz solar contra sua pele, a familiaridade com que a Terra lhe recebia e correspondia aos seus conjuramentos. Até mesmo sua força vital estava diferente, como se adicionada a ela houvesse algo insidioso o inoculando.

Uma mácula em seu âmago.

— Está com fome?

Virou de imediato sua cabeça em direção à voz, notando o mesmo homem de mais cedo.

Perto o suficiente para que sua fragrância amadeirada de sândalo emulsionado em ópio e tempestade lhe fizesse engolir em seco ante à sensação extasiante.

Lábios contraindo-se em um sorriso, expressão serena em um rosto enigmático que o deus das Flores não se imaginava capaz de compreender. Mas o homem acenou para algo bem ao seu lado e Jimin então notou a bandeja contendo alimentos.

Não se fez de rogado e inclinou o corpo para a lateral, cotovelos servindo para apoiar seu tronco magro enquanto analisava bem o que lhe era oferecido.

Cheirou.

E então franziu o cenho.

Sua saliva se inundou com a promessa de sabores nocivos. Algo que lembrava lenha e calor, mas ia além. Um aroma impregnado de veneno ancestral, tão diferente da sensação cálida do solo em seu lar.

Nada daquilo parecia ter sido cultivado em seu mundo, Jimin sabedoria se o fosse. Mas estava com fome e era educado demais para recusar comida.

Se pôs sentado sobre a cama, uma perna dobrada junto ao seu corpo enquanto a outra pendia do móvel, seu pé descalço desaparecendo debaixo dos tecidos de seu hanfu, suspenso sobre o chão.

Esticou um braço e pegou o que pareciam ser torradas com algo doce em cima, geleia de algum fruto de cor avermelhada. Trouxe a comida bem perto dos olhos curiosos, notando o que lhe lembravam sementes de romã no topo do alimento.

Deu uma primeira mordida cautelosa, suas papilas gustativas explodindo em sabores picantes e açucarados. Arregalou os olhos em surpresa, pondo-se a comer com vontade, ao mesmo tempo em que tomava cuidado para que nada caísse sobre suas vestes.

Terminou a fatia de torrada e pegou um copo com suco, fez força para não gemer de prazer ao sentir o gosto refrescante de abacaxi com hortelã. Estava gelado!

Comeu tudo que estava disposto na mesa sob o olhar atento do deus dos Mortos; muito consciente do forte escrutínio do qual era alvo e, naquele momento, não se importou.

— Espero que esteja de seu agrado — foi o comentário do homem que agora sentara-se sobre uma poltrona, de frente para ele.

Pernas cruzadas, cotovelos apoiados nas laterais, a cabeça pousada em uma das mãos, fios negros pendendo em um dos lados. Profundos e grandes olhos de obsidiana.

Jimin apenas assentiu enquanto finalizava seu suco, esfregando as palmas das mãos pequenas sobre a bandeja para limpar as migalhas das torradas que comera.

— Onde estamos? — se obrigou a perguntar. Curiosidade brotando de seus poros. Junto dela havendo também um misto de receio e deslumbramento.

— Estamos no Érebo. E eu sou Jungkook, governante supremo dele. Deus do Mundo Inferior.

A divindade das Flores e Frutos tragou em seco, sua pressão sanguínea aumentando. Sempre viveu apenas nos limites dos bosques que circundavam a casa de seu pai, o deus da Colheita. Pouco sabia sobre o mundo, além do que era relatado por seu progenitor, sua irmã e seus dois únicos amigos, Jisung e Hyunggu.

Esses dois últimos certamente sabiam bem mais, tendo explorado todos os lugares possíveis. Jisung por ser o deus do Amor, um sentimento que de acordo com ele deveria alcançar a tudo e a todos. Já Hyunggu, porque era uma divindade solar que não se contentava em estar parada muito tempo no mesmo canto, precisando percorrer caminhos longínquos, explorar novas paisagens, conhecer novos seres.

O que sabia sobre o Submundo, o pouco que sabia, era passado oralmente através deles. Embora até aos dois deuses as informações fossem escassas. Este não era um lugar para qualquer um e certamente não concedia livre passagem aos seres em geral, nem mesmo os deuses que conhecia se atreviam a adentrar o Reino dos Mortos.

Foi pensando nisso que chegou a uma conclusão que fez seu estômago gelar. Doía-lhe o peito e, desesperada, a criança encarou em súplica o deus à sua frente.

— Eu morri? 

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