gypsophila paniculata

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Não era uma folhagem verde, mas uma cor escura, 

Não eram galhos macios, mas retorcidos e intricados, 

Não havia macieiras ali, apenas espinhos venenosos. 

DANTE ALIGHIERI, Inferno, Canto XIII.


Notou, com um misto de descontentamento e surpresa, que havia bem mais seres ali do que os mencionados por seu tio. A extensa mesa de jantar estava completamente ocupada. Algumas daquelas figuras já conhecidas por Jimin em detrimento dos passeios que dava pelo Submundo, quase sempre montado em licornes negros e acompanhado dos gêmeos do Medo e do Pânico.

Jungkook, com suas vestes negras sentado em uma cadeira de ébano incrustrada por jóias que mais se assemelhava a uma versão um tanto simples do seu trono no salão principal, encarava a todos os convidados com seus olhos profundamente soturnos, lábios realçados em um canto, num leve sorriso quase que inconsciente.

Portava-se como um anfitrião, orgulhoso de seu lar e, de tempos em tempos, permitia que seu braço esticasse apenas o suficiente para que as pontas de seus dedos resvalassem sobre a pele nua da mão do deus floral. Jimin não se assustando nem encolhendo-se ante ao toque. Às vezes, ele ousava subir seu olhar dos diversos pratos dispostos sobre a mesa para encarar as orbes escuras do Senhor daquele lugar, em busca de uma resposta cuja pergunta sequer sabia fazer.

A rainha das bruxas estava sentada à sua frente, unhas em garra dedilhando a borda da taça de cristal. Soyeon era seu nome. E a presença dela, apesar de incisiva, não lhe perturbara tanto quanto a do anjo que se acomodara no banco ao lado. Asas douradas exalando papoula.

Hyunjin lhe exasperara desde o primeiro instante. E seu noivo, Jaebeom, não provocara um efeito mais ameno.

Enquanto o deus do Torpor era uma criatura onírica, cuja beleza lhe sufocava ante ao aroma inebriante de cada filigrama de ouro que compunha suas vestes translúcidas, o deus dos Sonhos poderia levá-lo à ruína. Cinismo em seu riso, heresia nas linhas que lhe compunham as feições.

Seu tórax evidente no terno alvo do qual prendera apenas um botão. Argolas em seu lábio, brincos em suas orelhas, no nariz, encaixados em duas pecinhas de aço em uma das maçãs do rosto. O timbre de sua voz convertendo-se em delírio, instigando ao sono.

Vira Jungkook revirar os olhos para o efeito que Jaebeom lhe causara, uma das mãos de seu tio espalmando-se contra a pele nua de suas costas. Como um lembrete mordaz de que os calafrios resultantes do toque dele lhe afetavam em demasia.

Em um dado momento, após Jaebeom e Hyunjin mencionarem a data na qual desejavam que os ritos de seu matrimônio fossem feitos, Jungkook se ergueu e lhe ofereceu uma mão, com a qual Jimin entrelaçou a sua antes de também se levantar.

Seu corpo sofrera as modificações do tempo após os dias passados ali e agora já não era tão menor que o rei dos Mortos. Sua imortalidade chegando ao estágio no qual se fixaria.

Jungkook lhe dedilhou uma breve carícia, arrastando o polegar sobre sua palma, lhe fazendo sorrir. Mas isto só durou um instante.

Logo Jimin se viu enredado em estupor. O gosto da bile lhe amargando a boca ante ao pronunciamento infame de seu tio:

— Gostaria de formalmente apresentá-los ao meu noivo e futuro príncipe do Submundo, o deus das Flores. 



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⏰ Última atualização: May 27, 2021 ⏰

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