"Diz para onde caminha a alma
atada nesses nós; e diz, se após unida,
se deles também alguma se resgata."
DANTE ALIGHIERI, Inferno, Canto XIII.
Foi apenas no dia seguinte ao apelo de Byeongkwan que a divindade alada surgiu nos limites do território de Changbin.
Jisung tinha os cabelos castanhos empurrados para trás por um lenço de seda branco, suas asas de bronze um contraste com o ambiente glacial ao seu redor.
O inverno era a ausência de tudo, isso incluía cores.
Ele não carregava sua aljava com flechas e nem seu arco, o semblante era de resignação, olhos firmes pelo objetivo em mente.
Logo que o deus do arco-íris surgiu em sua frente lhe comunicando sobre a divindade do cultivo ter requisitado sua presença, o deus do Amor compreendeu que seu tempo de protelar terminara.
Changbin não era ingênuo, muito menos tolo, ele fora atrás da pessoa que lhe indicaria o paradeiro do filho agora que todas as incursões pelos lugares conhecidos no mundo resultaram em desalento.
— Onde ele está? — foi o cumprimento de um pai.
Sensações como desespero e preocupação já desgastadas em um deus que pouco se inclinava a emoções.
— No Érebo. — resposta direta tal qual a pergunta.
Jisung gostaria de olhar para qualquer outra coisa.
Céus! Gostaria de estar em qualquer outro lugar, em qualquer outra circunstância.
Estar ali, sob o escrutínio do pai de seu melhor amigo, sabendo o que sabia...
— Meu filho está morto? — Descrença exalada em suas palavras, feições pálidas no rosto do deus incapaz de aceitar as implicações do dito por Jisung.
— Não! — proferiu o anjo de imediato, braços gesticulando com veemência — Ao menos eu acredito que não, pois ele foi levado vivo para lá.
Após flechar o deus dos Mortos, não quisera ficar para atestar os resultados de suas ações. Num ato de covardia, voou para longe e no instante que se arrependera e voltara ao bosque para encontrar Jimin, pôs seus olhos sobre uma coroa de flores feita pela metade jogada sobre a relva, suas pétalas já perdendo a vitalidade.
Soube o que ocorrera, no entanto, por observar uma satisfeitíssima Jeongyeom lhe jogar um beijo antes de afastar-se por entre as árvores, um rastro de neve aos seus pés, arrancando a força de tudo que tocava.
Olhou para o pai de seu melhor amigo e permitiu-se dizer o que lhe perturbava desde o momento em que ficara sabendo da verdade:
— Sabia que Jimin estava ligado a alguém?
Olhos assombrados e confusos lhe encararam de volta.
— O quê?!
— Ele tinha uma linha vermelha amarrada em seu tornozelo. Era visível desde que o conheci, mas não pude identificar a pessoa do outro lado... não até o dia em que Jimin foi levado embora para o Submundo.
O deus do Cultivo apoiou-se no espaldar de uma cadeira, nós dos dedos tornando-se brancos com a força que usava para apertá-lo.
— Isso é impossível! — rebateu, obstinação em sua voz — Meu filho não pertencia a ninguém! Ele nasceu li...
— Não ouse concluir essa frase! — sentenciou o deus do Amor, mãos aflitas, sentindo falta da flecha entre seus dedos. — Jimin nunca foi livre! Ele estava fadado ao amor, mas mesmo antes disso... Nunca compreendi porque ele vivia preso aqui. Só fazia sentido pra mim se fosse para impedi-lo de conhecer a pessoa por trás do outro lado do fio.
— Não há fio nenhum! Você está delirando! Jimin é novo demais, Jisung! Jovem e ingênuo demais para conhecer as maldades do mundo, foi só por isso que eu o limitei tanto...
— Pois isso não adiantou de nada! — frustrou-se a divindade alada — Ele estava ligado, sim! E no dia que descobri quem era a pessoa...
Uma sensação agonizante tomou o corpo de Changbin, Jisung percebendo o instante em que o deus do Cultivo se deu conta das consequências do que fora revelado. Se ele sabia ou não sobre o fio atado ao tornozelo de seu filho, agora isso pouco importava.
Deu um passo para trás, recuando do que parecia ser inevitável. A explosão de um pai ante à realização do que ocorrera ao filho.
— O quê você fez? — Changbin gritou, o rosto figurando raiva, avançando até encurralar o deus do Amor contra a parede, mãos agarrando com força a gola de sua bata de seda — Responda-me! Foi você o responsável pelo sumiço do meu filho?
Cerrando os olhos, não teve medo de responder, apenas pesar reverberando em suas palavras:
— Eu fiz o que tinha que fazer. Assim que o homem ligado ao Jimin pôs os pés nessa terra eu o flechei. É a minha obrigação, se eu não o fizesse, você sabe que os sentenciaria a uma vida cruel.
— Quem é, Jisung?
A pergunta veio sussurrada, mãos trêmulas já sem forças lhe segurando pela clavícula.
O deus do Amor abriu os olhos, encarando a miríade de lúpulo, malte e cevada que compunha as íris da divindade do Cultivo. Tragou em seco e respirou fundo, mas não deixou de responder.
— Jungkook.
Um grito de ardor que o fez empurrar o deus para longe, imediatamente tampando os ouvidos na tentativa de impedir-se de sentir a agonia proferida pelo lancinante lamento de Changbin.
Naquele segundo, não foi preciso que o pai de Jimin proferisse uma palavra. Seus olhos em perdição diziam tudo.
Para o deus do Cultivo, Jisung havia acabado de sentenciar seu filho à morte.
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Dialosia | jjk + pjm
FanfictionA perversa divindade da beleza atou em eterna agonia O rei dos Mortos e o deus das Flores. E usou para isso um fio infectado de sangue. Coautoria com @rosier_blue Mitologia! au | + 18