lavandula angustifolia

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"Cabe a ti tomar outra estrada",

Respondeu ele enquanto viu meu pranto,

"Se quiseres escapar deste lugar selvagem."

DANTE ALIGHIERI, Inferno, Canto I.


Aos seus pés a terra desfalecia.

Perdia cor, nutrientes, potência, vividez.

Ganhava ares mórbidos de uma palidez frígida.

E ele estava ciente de que pouco importava se faltavam meses para adentrarem no período do ano em que realmente se retirava e deixava a filha prosperar. Jeongyeom agora reluzia, cristais de gelos despontando de seu corpo como se dançassem de genuína felicidade ao seu redor.

Afetação no sorriso da Dama do Inverno que não mais se esforçava para ocultar seu agrado ante à ausência do irmão mais novo. Sua face de preocupação, que conseguiu sustentar nos dois primeiros meses, há muito já estava perdida.

Changbin questionara Hyunggu e, após passear pelos céus com sua carruagem dourada, o deus solar regressou com o rosto ilustrado em pesar, alegando não ter encontrado sinais dele.

Aventurou-se a falar com deuses aéreos, ventanias cercando todo o mundo em busca de alguma mísera pétala de flor que denunciasse a presença de Jimin. Não restara nada.

Seu filho não poderia estar morto!

Mas a ausência de flores era indício de um terrível presságio.

Até mesmo em períodos outonais e invernais, Jimin gostava de se esforçar para fazer brotar alguma cor em meio à alva neve. Agora este Inverno que castigava o mundo por mais tempo do que deveria não deixava nada ganhar vida.

Ponderou se Jimin estaria nos limites oceânicos de sua irmã, mas aquilo parecia-lhe improvável. Nenhuma criatura dos mares já ousara adentrar seu bosque, sobretudo sua Senhora.

Os espíritos que serviam Changbin voltaram de suas buscas sem obter qualquer êxito e o deus do Cultivo agora cogitava todas as possibilidades a respeito de seu filho caçula quando um fato curioso lhe atingiu.

No mesmo período em que Jimin desaparecera, um certo deus alado também deixara de pôr os pés em sua morada. E Jisung era a visita favorita de seu filho, com quem o deus das Flores passava tardes inteiras brincando e se divertindo entre as árvores e nas margens do lago de narcisos.

Lhe parecia ilógico que o melhor amigo de Jimin, sabendo de seu sumiço, não tivesse vindo atrás dele em busca de oferecer ajuda.

Considerando o comportamento do deus do Amor muito suspeito, realizou um último esforço para ir até a beira do lago, agora congelado, e jogou uma moeda de ouro requisitando a presença do deus do arco-íris.

Um par de minutos se passou até que Byeongkwan surgisse à sua frente. O deus de cabelos multicoloridos usava óculos de lentes amareladas e trajava calças azuis de couro com um longo casaco de pele por cima. Brincos pendendo dos lóbulos de suas orelhas.

— Caramba! — reclamou, fechando mais o casaco em seu corpo, bochechas tornando-se coradas devido ao frio intenso e cenho se franzindo — O que há com você, Changbin? Coloque freios na sua filha!

Para que isso acontecesse, a divindade do Cultivo precisava de um contraponto. Esse mesmo deus que estava ausente por tempo demais.

— É o que planejo, Byeong! Descubra onde está Jisung e o peça para vir aqui com a maior brevidade possível.

O deus do arco-íris sorriu em surpresa.

— É essa a sua estratégia? Fará Jeongyeom se apaixonar? Que destino cruel fadará à pobre criatura que com ela for se envolver.

O deus do Cultivo grunhiu.

— Jeongyeom é minha filha, mantenha um pouco de respeito ao se referir a ela.

— Também é filha de Yugyeom. Que dedo podre tu tens, sabes muito bem que a maçã não cai longe da árvore.

Tragou em seco ante à sentença cruel do deus que até então considerava um amigo; mesmo que tivesse se afastado de todo mundo desde que decidira conceber Jimin, sempre pensando no bem de seu filho.

— Que seja! Por favor, consiga Jisung aqui para que eu possa resolver esta situação logo.

— Minho está distribuindo doses extras de ambrosia aos deuses, mas os mortais estão morrendo, tu sabes... Ele sempre teve consideração por ti e se manteve sem intervir nos teus assuntos, mas essa benevolência não durará muito mais tempo, principalmente se o Olimpo continuar tão agitado como tem estado. Trarei Jisung até você com a esperança de que isso de fato resolva essa situação, mas te dou um conselho final, Changbin — comentou enquanto agachava-se para amarrar os laços de sua bota cor-de-rosa. — O deus dos vivos não tolera perdas e nem parecer fraco ante aos outros, esse Inverno sem fim que alastra o mundo lhe custará caro.

E jogando a dracma que recebera como pagamento de seus serviços em uma bolsinha verde musgo à tiracolo, apontou uma última vez para o amigo antes de desaparecer em névoa arroxeada.

Changbin apertou os punhos, se recusando a encarar o céu. Precisava que Jisung lhe esclarecesse o que estava acontecendo. Caso isso não lhe servisse para encontrar seu filho... teria que recorrer à última pessoa que poderia ter conhecimento acerca da existência de Jimin.

Seu outro pai.

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