prunus persica

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Não posso recusar acolhimento

À tua pergunta: fui eu o ladrão

Naquela sacristia de alto ornamento

[...]

E isto eu disse para que te doa.

DANTE ALIGHIERI, Inferno, Canto XXV.


Jungkook não pôde evitar a gargalhada que tão fácil lhe veio, mas procurou contê-la quando notou ter assustado Jimin.

— Não, você está vivo — lhe tranquilizou, acrescentando detalhes da forma mais amena: — Mas este é seu lar agora, sobrinho.

Confusão tomou a face da criança e ela foi adiante com seu inquérito:

— O senhor é irmão do meu pai?

— De ambos — foi sua resposta simples, mas viu como aquilo também perturbou o menino. Suspirando, ergueu-se e então sentou ao lado dele na cama, mantendo ainda certa distância. — Seu outro pai, Minho, também é meu irmão e irmão de Changbin — notou que até o nome do rei dos Vivos era desconhecido pela criança e lamentou de verdade: — Não tenho ideia do porquê de terem escondido tanto de você enquanto te trancavam naquele lugar, Jimin, mas estaria mentindo se dissesse que agora está em situação diversa. Prometo-lhe sinceridade, mas não liberdade.

Ele ficou calado por um tempo. Exalava o aroma fugaz que era em parte raio de Sol, em parte violeta em flor.

— Por quê? — foi tudo o que proferiu. Parecia ter mais de uma dúvida, mas não conseguiu verbalizá-las. Sua voz como que sufocada. Uma lágrima lhe rasgando a bochecha.

Poderia ter dito tudo naquele instante. Não o fez. Jimin enredado em pavor era o oposto do que desejava.

— Haverá tempo para que entenda o porquê e para que passe a gostar de seu novo lar, mas por hora você ainda precisa de mais doses do licor, ele o ajudará a dormir melhor — tangenciou, ainda que talvez não precisasse. Jimin inerte sobre as cobertas. Apenas os ombros se movimentando conforme respirava tão devagar.

Haveria tempo. Tempo para que ele quisesse o deus dos Mortos tanto quanto Jungkook lhe queria.

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