myosotis scorpioides

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E perguntei: "Ó Mestre, qual a dor 

Que sentem, que os faz lamentar tanto?

Respondeu: "direi a ti brevemente."

DANTE ALIGHIERI, Inferno, Canto III.


Jimin lembrou-se de uma época, agora distante embora ele não soubesse a precisão de suas palavras, em que banhava-se no lago de narcisos junto de Hyunggu e Jisung quando iniciou-se uma conversa sobre animais.

O deus das Flores e Frutos obviamente conhecia apenas aqueles com que convivia no bosque em que morava e alguns poucos que fora capaz de ver nas iluminuras e ilustrações de alguns pergaminhos que seu pai guardava em casa.

Por isso ouvia com atenção aos relatos de seus dois amigos, os gestos com as mãos que demonstravam formas e tamanhos, as imitações de sons, onomatopeias que arrancavam risadas suas. Sobretudo lembrava-se dos olhos esbugalhados de Jisung ao comentar que quase fora empalado pelo chifre de um minotauro uma vez.

Embora o deus do Amor fosse incapaz de morrer por conta daquele incidente, a ferida ocasionaria lesões que o manteriam debilitado por um grande período de tempo. Jimin estremeceu só de imaginar seu amigo acamado e enfermo.

Estava levando a sério tudo que era dito sobre os animais. Pégasos, centauros, ciclopes, alguns monstros marinhos, cachorros com três cabeças, cobras gêmeas enroladas num bastão de um deus e um mar de serpentes substituindo a cabeleira de uma outra divindade.

Nesse último caso, Jisung lhe fora muito enfático ao avisar-lhe que, se um dia ouvisse o sibilar de muitas serpentes e um arrepio lhe subisse a espinha, ele deveria imediatamente fechar seus olhos e tentar escapar o mais depressa possível, ir longe o suficiente até deixar de ouvir o som que anunciava a proximidade da divindade.

Jimin considerou questionar o amigo sobre como fugiria para longe com os olhos fechados, mas achou melhor guardar suas indagações para si. Não era como se pudesse ir a qualquer lugar além dos limites impostos por seu pai e ele duvidava que Changbin permitiria a entrada de criaturas perigosas naquelas imediações.

Agora, lembrando dessa tarde despreocupada e casual enquanto acariciava os pelos macios de Gureum, se perguntava o porquê de seus amigos nunca terem comentado sobre a existência de cavalos com um chifre saindo de sua cabeça, lobos selvagens cujos globos oculares eram substituídos por chamas azuis e cervos de um branco cintilante que se alimentavam de sonhos e pesadelos.

— Formidável — ouviu a voz de Namjoon ao seu lado, lhe tirando de seu devaneio.

Jimin olhou para seu mais recente amigo que havia acabado de atracar o barco naquela margem do rio. Uma canoa simples entalhada em ébano era o que ele utilizava em seu trabalho, coletando os óbolos das almas para atravessá-las de um lado ao outro do Aqueronte.

— Hum? — perguntou o jovem deus, pernas cruzadas com o cão alvo ressonando tranquilamente em seu colo, o sono embalado pelo toque cálido e suave dos dedos de Jimin.

— A imagem de você e Gureum juntos. É formidável — Namjoon sanou sua dúvida, usando um cajado para sair da canoa.

O Barqueiro amarrou com uma corda a embarcação de modo que não fosse levada pela correnteza e inclinou-se para pegar o saco cheio com as moedas de ouro de dentro dela.

De tempos em tempos ele tinha que fazer uma pausa, era quando sua bolsa de pano enchia-se com o pagamento dos mortos e precisava vir até o palácio de seu rei esvaziá-los.

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