papaver rhoeas

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Como pombas guiadas pelo desejo,

Que, com asas abertas e firmes,

Voam por onde querem até o doce ninho.

DANTE ALIGHIERI, Inferno, Canto V.


Despedindo-se do rei dos Mortos, Jaebeom retornou à parcela do Érebo na qual ficava sua morada. Os músculos de suas asas já tão habituados aos flocos glaciais de neve que naquele período do ano encobriam o pátio de calcário em volta do palácio de Jungkook.

Planou acima do rio Lete, que demarcava os limites dos Campos da Noite Eterna. Ali, na zona governada pelo deus da Noite, Runyu, não havia qualquer vislumbre de algo que se assemelhasse ao Sol ou aos tons claros advindos de seus raios.

Tudo era tingido por nuances frias que variavam desde o preto, passando por índigo, azul e cinza até chegar ao branco.

Tudo exceto algo. E alguém.

Já dentro de seu lar, na Terra dos Sonhos, Jaebeom retesou as asas junto às costas, caminhando para a suíte dourada. Esta, como o nome elenca, era permeada por tons de amarelo desde o mais claro que muito se parecia com os campos de trigo encontrados na superfície a também nuances de ouro queimado e algo mais escuro que chegava perto de ser considerado um bronze ou caramelo.

Quase tudo naquele ambiente refletia a personalidade e natureza do deus do Torpor, Hyunjin. As únicas excessões se limitando ao tom negro das cortinas do quarto e ao ébano da madeira da cama suntuosa na qual ele dormia.

Asas douradas, penas com filamentos de vislumbres solares estendidas sobre as colchas de diferentes estampas costuradas em retalhos. A divindade usava um hanfu marfim com finos fios áureos bordados na altura de sua cintura e colo, seus cabelos claros possuíam adornos dourados em brilhantes contas presas a suas tranças amarradas com fitas de cetim. O cortinado do dossel da cama lhe coroando em tule pálido sobre seda amarela.

— Oi, meu amor — não pôde evitar que as palavras profanassem o silêncio. Adiantando-se para ele após trancar a porta.

Hyunjin continuou de olhos fechados, apenas sua respiração provocando um leve tremor no tecido das vestes.

Já tão habituado a velar-lhe o sono da forma como ele dissera que o agradava, Jaebeom ficou descalço e com cuidado se deitou sobre Hyunjin. Pernas lhe prendendo junto ao corpo, braços em um aperto firme na cintura.

O anjo resmungou e lhe abraçou de volta, asas mornas exalando uma fragrância entorpecente. Lembrava morfina. E ópio. Papoulas em flor, em brasa.

Jaebeom deixou-se adormecer para ir ter com o noivo na campina etérea que haviam edificado com nuvens.

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