Dor e Sofrimento

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O inverno finalmente havia chegado em forma de nevasca. O dia havia amanhecido com pesadas nuvens negras que decidiram mostrar todo seu peso ao longo do dia, derramando grandes e pesadas quantidades de neve por todo o lado. O vento cortante empurrava grandes lufadas de gelo contra as janelas da mansão.

O chafariz do jardim havia sido desligado após toda a água acabar congelada. A maioria das flores também acabariam mortas depois de serem soterradas por toda aquela neve. Todo o caminho que levava até a porta da casa estava coberto por uma espessa camada de gelo fofo e branco. Além disso, mais flocos caíam do céu escurecido. Pela primeira vez naquela temporada a lareira estava acesa. O fogo crepitava em meio ao silêncio, pintando a ampla sala de estar de laranja.

Hermione havia armado o cavalete próximo a janela e fazia da mesinha da sala de apoio para suas tintas e pincéis. Uma tela completamente branca estava seguramente presa. A jovem segurava um lápis enquanto riscava algo no tecido branco.

Em uma poltrona a poucos metros, Malfoy observava a esposa com curiosidade. Um livro começado no dia anterior, mas jamais continuado, pendia perigosamente de sua perna. O único som que era possível ouvir era os estalos vindo da lenha queimando e o do grafite rabiscando a tela. Hermione, percebendo o olhar do marido, lhe sorriu suavemente.

-O livro está quase caindo no chão.

-Ah... -Draco pegou o objeto e o colocou na mesinha ao seu lado. -Parece que a culpa de eu não ler mais livros não é só do meu trabalho.

-Leitura exige disciplina. Você parece distraído.

-Isso porque eu quero saber o que você está fazendo aí. -O Homem se ajeitou em sua poltrona, um sorriso fraco no rosto. -O que vai pintar?

-Eu quero fazer a vista desta janela. -Hermione apontou para o lado de fora. -A água congelada da fonte, a neve sobre as árvores, caindo do céu e cobrindo tudo.

-Não prefere uma vista iluminada, cheia de flores?

-Há uma ordem para tudo. Só temos primavera porque antes tivemos inverno. Não tem como ter um fim grandioso sem antes ter percorrido o meio do percurso. Eu quero pintar o inverno para no verão me lembrar de como chegamos até lá.

-Você deveria anotar isso para colocar no seu livro!

Hermione riu sacudindo a cabeça. Havia terminado de riscar o desenho e agora agora começava a separar as tintas que usaria para pintar. Malfoy voltou a abrir o livro, e insistia nos primeiros parágrafos de sua história, mas, ao chegar ao sim, se dava conta que não havia prestado atenção no que acabara de ler e então tinha que voltar ao começo. Ele bufou e sacudiu a cabeça. A jovem deu um sorriso de canto ao olhá-lo por cima de seus ombros.

-Tente ler em voz alta se está difícil se concentrar. -Ela voltou a se sentar em seu banco improvisado, misturando algumas tintas em seu godê.

-E se eu te atrapalhar?

-Não vai, além do mais eu também quero ouvir essa história. -Hermione incentivou enquanto dava as primeiras pinceladas.

Draco suspirou e voltou a se ajeitar na poltrona, depois cruzou e descruzou as pernas algumas vezes antes de finalmente pronunciar as primeiras palavras em voz alta. Hermione lhe observou à distância com um sorriso solene.

Malfoy seguiu lendo uma ou duas páginas. Sua voz, que antes ecoava por todo o cômodo, foi se tornando cada vez mais fraca e logo parecia apenas um murmúrio sem vida e sem entusiasmo. A jovem assistiu enquanto o marido passava a mão pelo rosto parecendo ansioso.

-Algo está lhe incomodando? -Perguntou interrompendo os sussurros.

-Eu não sei... Dias assim me parecem quietos demais. -Ele confessou desistindo da leitura e fechando o livro. Ficou em silêncio por algum tempo, os olhos fitando o nada. -Eu costumava trabalhar até tarde pra não voltar pro silêncio dessa casa. No inverno, tudo fica mais silencioso, é difícil controlar a voz que vive aqui dentro. -Draco tocou a lateral de sua cabeça. Hermione ficou séria, o pincel ainda em sua mão. Malfoy de repente parecia pensar em outra coisa.

DEATH.TIME.LOVE [DRAMIONE]Onde histórias criam vida. Descubra agora