Adeus

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A cerimônia em homenagem aos mortos durante a guerra aconteceria logo mais e ela ocupava todo o pensamento de Hermione. A jovem ainda não havia conseguido esquecer a noite de nevasca e a conversa que havia tido com o marido.

Naquela noite, depois de Hermione e Draco quase adormecerem juntos em frente a lareira, ela passou a noite pensando na história que Draco lhe contou sobre seu primeiro casamento e a morte de sua primeira esposa e seu filho. Pensar na mulher, Astória, e na criança deixava Hermione mais do que simplesmente angustiada. Era um sentimento difícil de definir. Apesar de não ter conhecido nenhum deles antes de tudo ter acontecido, saber sobre sua vida, o que levou a sua morte e como foram seus minutos finais era algo que ainda atormentava Hermione.

Pensar na dor que aquela mulher deve ter sentido ao ver seus familiares mortos e a angústia de estar sozinha e incapaz de proteger a si mesmo e ao filho em seu ventre deve ter sido o suficiente para definir seus últimos momentos como infernais.

Draco, entretanto, parecia preferir que a conversa nunca tivesse existido, apesar de o momento quase íntimo entre os dois não passar despercebido. Se no começo do casamento ambos nem se falavam, agora passaram a ter longas conversas durante o dia. Às vezes Draco tocava sutilmente a esposa, toques quase imperceptíveis a qualquer um, mas que Hermione percebia com surpresa.

Na noite da cerimônia, entretanto, a intimidade recém conquistada entre eles pareceu se perder. Draco parecia mais frio e distante do que jamais esteve, com os olhos cinzentos que pareciam buscar algo no horizonte. Ele ficou completamente calado durante todo o trajeto. Ao chegar ao local da cerimônia, se limitou a falar o essencial, e Hermione percebeu que sua voz tinha assumido um tom baixo e rouco, como se sua garganta estivesse trancada. Draco permaneceu dessa forma até que finalmente encontrassem Harry Potter e Gina.

A cerimônia começou com um discurso do ministro Dumbledore, relembrando as vítimas e os motivos que levaram à guerra. Ele passou a falar sobre a importância de quebrar preconceitos e aceitar o diferente, o novo, em prol de uma sociedade bruxa melhor e mais justa a todos. Para ele, enquanto houvesse estranheza entre os bruxos, enquanto houvesse preconceito com aqueles que tinham uma origem diferente, sempre existiriam guerras e mortes desnecessárias.

Depois de seu discurso, houve a leitura do nome das vítimas. O silêncio entre um nome e outro era maçante e esmagador. Hermione olhou ao redor, vendo que algumas pessoas tinham o rosto manchado por lágrimas. Um minuto mais tarde, ouviu um soluço baixinho de alguém que lutava para controlar o volume de seu choro. Hermione mordeu o lábio, seu coração apertado.

Os nomes lidos eram apenas das vítimas conhecidas, daqueles que morreram em confronto direto, daqueles que morreram em um atentado, daqueles que foram pegos em meio ao fogo cruzado. O número real, Hermione imaginou, deveria ser muito maior. Quantas famílias haviam perdido seus pais? Quantas mães perderam seus filhos? Quantos irmãos ficaram sozinhos no mundo? Quantos sofreram de forma indireta a dor da morte?

Draco, ao seu lado, estava em completo silêncio. Ele encarava o chão, as pálpebras caídas como se ele estivesse sonolento. Seus lábios estavam franzidos quase como se ele sentisse dor física. Hermione não sabia muito bem o que fazer ou como agir. Lembrou-se do que Gina falou sobre todos terem algo pelo que chorar depois da guerra e julgou que, se fosse assim, era melhor que tivessem um ao outro para se apoiar e sofrer juntos.

Hermione estendeu a mão e pegou a de Draco, apertando seus dedos levemente com os seus. O marido soltou um murmúrio de surpresa, a olhando sobressaltado. A jovem deu um sorriso triste de canto, de quem entende a dor do outro, de quem também a sente, e não quer que o outro se sinta sozinho. Draco piscou os olhos para a esposa, a ponta de seus lábios se curvando lentamente, e respondeu ao aperto de seus dedos.

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