O principe herdeiro

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Em vinte e três anos vivendo naquele castelo, um mês nunca foi tão infernal quanto aquele do meu aniversário de vinte e quatro.

— Quem é esse garoto? — meu pai, o rei, bateu o punho na mesa.

Era a terceira vez que ele repetia a pergunta, e agora nem mesmo minha mãe conseguia acalmá-lo, por isso ela decidiu que seria uma boa ideia sair junto do meu irmão mais novo da enorme sala de reuniões, em que só estava nós quatro, além dos dois guardas na porta, e o capitão Min, bem ao meu lado.

— Ninguém importante, eu já disse. — dei de ombros. — Você sabe como gostam de fazer matérias sensacionalistas com o meu nome, pai. Me odeiam só porque eu sou gostoso.

— Segure essa língua, Jeon Jungkook! Já é a terceira matéria, em menos de um mês, em que você é acusado de ser... — ele pausou sua fala, fazendo uma careta para retomar: —... Gay.

Era foda. Cometi um pequeno descuido com minha última noite de prazer e algum filho da puta fez o favor de tirar fotos. Claro, nada constrangedoras o suficiente, e sequer dava para perceber que o homem que saía do meu quarto era Min Yoongi — que além de ser o capitão, também era o meu babá e melhor amigo (colorido nas horas vagas) —, mas suspeitas o suficiente para um povo que parecia esperar apenas uma brecha para passar a minha coroa ao meu irmão de apenas quinze anos, mas amado por todo o país.

— E se eu fosse? Qual seria o problema? Eu, automaticamente, me tornaria incapaz de governar?

Yoongi, em pé ao meu lado, ajeitou a postura e me lançou um olhar como se dissesse que eu tinha comentado a maior besteira da minha vida. E depois que eu encarei o rosto furioso do meu pai, realmente me fez todo o sentido.

— Está me dizendo que você é... Isso? — ele se levantou da cadeira da ponta e iniciou passos rápidos em volta da mesa comprida até que estivesse ao meu lado. Quando menos esperei, o velho me acertou um tapa doído na bochecha. — Nunca mais ouse brincar com isso.

Pus a mão em minha bochecha. Aquilo não me chateava mais, já tivemos diversas conversas em que meu pai demonstrava repudiar a hipótese de eu ser gay, e por isso apenas me sobrava o mais puro ódio e revolta. Mas ao invés de contestar, eu disse:

— Sim, pai. Desculpa.

O Min dizia que odiava quando eu fazia aquilo. Dizia que eu era masoquista, que provocava e provocava meu pai até que ele chegasse ao limite e eu sofresse as consequências de alguma forma.

Só que ele nunca entenderia o quão difícil era controlar a minha vontade de gritar aos quatro ventos. Discursar em resposta às matérias maliciosas que eu era sim um príncipe gay, e mandar a igreja ir se foder, porque eu não daria a coroa para meu irmão.

Eu queria ser livre, mas só me via cada vez mais e mais preso. E nos momentos em que tinha coragem de desafiar meu pai, sempre acabava desistindo e voltando a obedecê-lo, até a próxima vez que faria o mesmo e o mesmo, e se tornasse aquele ciclo infinito de raiva e mágoa.

— Está decidido. — meu pai balançou a cabeça em concordância consigo mesmo. — A tradição da seleção sequer deveria ter parado, para começo de conversa. Será o ideal para acabar com os boatos. Ainda essa semana escolheremos as moças sortudas.

Arqueei a sobrancelha, confuso com o que ele estava dizendo, mas algo me dizia que eu não devia questioná-lo. E, com o silêncio, meu pai encarou Yoongi e disse:

— Deixarei-lhe responsável pela seleção das moças. Sabe como deve ser o perfil de uma futura princesa, portanto leve em consideração isso. Um homem levará a notícia aos arredores e em dois dias anunciaremos as vencedoras.

A whole kingdom & the knight ໒ jjk + pjmOnde histórias criam vida. Descubra agora