capítulo 1

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Baseado em fatos reais.

“Inferno está vazio e todos os demônios estão aqui,” disse William Shakespeare

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“Inferno está vazio e todos os demônios estão aqui,” disse William Shakespeare. Lembro-me claramente da primeira vez que ouvi essas palavras. Ainda criança, me arrepiei, imaginando entidades e seres sobrenaturais espreitando na escuridão. Agora, aos 18 anos, compreendo plenamente o que Shakespeare quis dizer. Ele não se referia a criaturas cornudas oriundas do abismo, mas sim aos seres humanos, esses monstros que caminham entre nós na Terra.

A verdadeira maldade humana não emana de Lúcifer, mas surge da ganância, da crueldade e de uma sede distorcida por poder que permeia cada célula dos humanos. Os homens são os verdadeiros demônios aos quais Shakespeare aludia... E agora, o mais desprezível de todos está bem diante de mim.

Capítulo 1

Encaro minhas mãos ensopadas por um líquido espesso, quente, o aroma metálico embrulhou meu estômago, causando arrepios por todo o meu corpo, o gosto amargo da bile, aumentando a vontade insana de vomitar.

Minha atenção se volta para o homem ao chão, seu corpo grande e músculos espalhados pelo piso da sala, uma poça de sangue se formou ao redor da cabeça. Alguns centímetros distantes está a estátua da deusa Kali, que usei para arrebentar a sua maldita cabeça.

Um sorriso se desenha em meus lábios, um riso histérico reverbera pelo pequeno e aconchegante chalé. Mãos trêmulas, pernas fraquejam, percebendo que a sala parece estar girando ao redor.

Lentamente, minha mente começa a digerir o que aconteceu, a gravidade da situação.

Recapitulando: o imundo do meu cunhado tentou me violentar, houve uma luta, consegui agarrar a estatueta da minha mãe e acertei na cabeça dele com todas as minhas forças e aqui estou eu com um cadáver no meio da sala e um grande problema em mãos. Essa merda pode foder todo o meu futuro e isso, meus amigos, eu não vou permitir. Nada e nem ninguém vai atrapalhar o meu êxito, nem esse maldito saco de merda morto vai ficar no meu caminho.

Fecho os olhos com força, respirando profundamente, mentalmente contando até 10. Abro os olhos lentamente com a certeza do que tenho que fazer.

Forço minhas pernas a se mover, me arrastando pela sala, tropeçando em meus próprios pés à procura do celular que caiu das minhas mãos quando o idiota me atacou.

— Cadê você? Droga! — Proferi as palavras em forma de um rosnado.

Ajoelhando no tapete, começo a tatear as mãos por baixo dos móveis até sentir o aparelho telefônico. Arrasto-o para mim e, assim que o tenho em mãos, percebo que a tela está rachada. Contudo, ainda consigo discar o número de papai.

Only Love Can Hurt Like ThisOnde histórias criam vida. Descubra agora